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Traficantes usam métodos cada vez mais inusitados para esconder drogas

Wolfgang Dick (ca)28 de junho de 2013

Dentro de próteses ou impregnadas em roupas: funcionários do Aeroporto de Frankfurt já acharam drogas nos lugares mais inimagináveis. Para combater o tráfico, eles usam sua experiência, a tecnologia e o olfato de cães.

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Foto: DW/W. Dick

Em 2012, 57 milhões de passageiros passaram pelo Aeroporto de Frankfurt, o maior da Alemanha, onde mais de mil aterrissagens e decolagens acontecem diariamente. É em meio a essa agitação que os traficantes de drogas esperam que o contrabando passe despercebido. Por causa disso, o Aeroporto de Frankfurt é considerado um dos principais centros de ingresso de drogas na Europa.

Cada semana, no controle de passageiros e cargas, são feitas descobertas que nem mesmo os funcionários mais experientes poderiam imaginar. "Nada mais nos surpreende", diz Stephan Bischof, que trabalha há 35 anos no aeroporto e dirige o grupo de monitoramento de cargas na alfândega.

Bischof conta que ele e seus colegas já vivenciaram histórias bizarras e descobriram os esconderijos mais curiosos. Ele relembra o caso de uma brasileira. Ela já estava deixado o controle pessoal e de bagagem de mão quando a calça jeans que ela usava chamou a atenção de uma colega. A calça parecia rígida demais. A passageira foi controlada de novo, desta vez com o uso de um drug-wipe, produto usado para a detecção de drogas em superfícies.

Deutschland Drogenfahndung Frankfurt
Bischof conta que já viu de tudoFoto: DW/W. Dick

O resultado foi positivo. "A cocaína foi dissolvida e impregnada na roupa", explica Bischof. O jeans é muito usado nesse método porque se adapta melhor a um peso e rigidez maiores. "Mas isso é perceptível pelo toque." Olhos bem treinados também são suficientes. Por essa razão, no Aeroporto de Frankfurt trabalham quase que exclusivamente funcionários com longa experiência. No caso da calça da brasileira, foram retirados oito quilos de cocaína. O valor de mercado: 400 mil euros.

Drogas na bola de boliche

Os traficantes apelam repetidamente à compaixão dos controladores. Assim, já apareceram pessoas em cadeira de rodas (que haviam escondido a droga nos pneus) ou que colocaram a droga dentro de uma prótese da perna. "É cada vez mais descarado", diz Bischof, balançando a cabeça. O método mais popular continua sendo esconder drogas em todo tipo de produto imaginável: comprimidos, absorventes femininos, verduras e até mesmo insetos.

Bischof lembra o caso de um passageiro que carregava consigo uma bola de boliche, e que supostamente participaria de uma competição. "Ele chamou a nossa atenção porque não sabia segurar corretamente a bola." Ela estava, claro, recheada de drogas.

Mesmo a longa experiência pessoal não pode dispensar a ajuda da tecnologia. O Aeroporto de Frankfurt dispõe de equipamentos de última geração. Eles têm nomes como Itemizer3 ou FirstDefender. Este último é um aparelho de análise de drogas capaz de identificar rapidamente 11.500 substâncias. "Mesmo quando ele não registra nada, já nos ajuda, pois não precisamos continuar procurando", diz Bischof. Isso poupa um monte de tempo.

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Aparelho usado para detectar drogas em roupasFoto: DW/W. Dick

Cocaína líquida

Diante de tanta criatividade, parece inconcebível que uma grande quantidade de drogas continue sendo transportada por carga aérea. Bischof supõe que o despacho pelo correio ainda é o caminho mais rápido e mais barato para enviar narcóticos de forma anônima e supostamente segura. Assim, com frequência, pequenas quantidades de drogas são distribuídas num número cada vez maior de pacotes, na esperança de que alguns deles escapem ao controle aleatório.

Mas essa esperança é eliminada com um controle cada vez mais efetivo. O foco está em determinadas rotas: no caso de aviões vindos da América do Sul, a busca é por cocaína. Em voos do Sudeste Asiático, da Índia e do Paquistão, os controladores se voltam para a heroína e o ópio.

Quando não há uma conexão direta dessas regiões com a África Ocidental, então o controle é particularmente detalhado. Para isso, pacotes passam por um aparelho especial de raios-X, que reconhece a densidade do corpo examinado. Algumas vezes é preciso girar várias vezes o pacote e passar todos os lados pelo aparelho de raios-X para descobrir a droga num fundo falso.

Deutschland Drogenfahndung Frankfurt
Muitas vezes, é preciso escanear diversas vezes o mesmo pacoteFoto: DW/W. Dick

Como os escaneadores pessoais também são cada vez melhores, as "mulas" (pessoas usadas para o transporte da droga dentro do corpo) têm mudado de estratégia. Elas passaram a engolir, sobretudo, cocaína líquida em saquinhos de plástico.

A cocaína líquida é muito difícil de ser detectada pelos escaneadores. Mas, se apenas um desses saquinhos estourar, não há mais salvação para a pessoa que o carrega. Apesar desse perigo, no ano passado foram identificadas 25 "mulas" no Aeroporto de Frankfurt.

Se a experiência humana e a tecnologia não resolvem, há ainda os cães treinados. No Aeroporto de Frankfurt, um deles se chama Zeus. Ele cheira malas e pacotes atrás de drogas. Zeus é capaz, por exemplo, de identificar cocaína líquida mesmo quando as garrafas que a contém estão ao lado de garrafas com álcool, usadas para desviar a atenção dos cães.

Comércio bilionário

Apesar de toda a criatividade dos contrabandistas, a quantidade de anfetamina apreendida no Aeroporto de Frankfurt quadruplicou no ano passado; no caso da heroína, o total triplicou. As apreensões de cocaína e haxixe, no entanto, diminuíram 35%.

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Cães são usados para localizar drogasFoto: DW/W. Dick

Cada descoberta é somente uma pequena contribuição na luta contra o comércio ilegal de drogas. Segundo o mais recente relatório da ONU sobre o assunto, a receita anual do tráfico de drogas chega a 94 bilhões de dólares. Isso é mais do que o faturamento mundial com carnes e grãos.