Operação nas fronteiras bate recorde de apreensão de drogas no Brasil
7 de junho de 2013O Ministério da Defesa divulgou nesta sexta-feira (07/06) o balanço final da maior mobilização militar brasileira desde a Segunda Guerra Mundial: a Operação Ágata 7, realizada nas fronteiras. Durante 19 dias de operação, foram deslocados quase 34 mil militares e mais de mil agentes civis para fiscalizar os 16.886 quilômetros de fronteiras que o Brasil mantém com dez países sul-americanos.
A ação faz parte do Plano Estratégico de Fronteiras (PEF), que integra governos municipais, estaduais e federal, órgãos de segurança e polícias. Segundo o Ministério da Defesa, foram apreendidas quase 26 toneladas de maconha e 657 quilos de cocaína, crack e haxixe.
Além disso, o Exército apreendeu 4,9 toneladas de explosivos e 4,5 mil metros cúbicos de madeira ilegal. A Polícia Federal prendeu também, em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, dez pessoas acusadas de pedofilia, entre eles políticos e empresários que estão sendo investigados por prostituir indígenas.
Os números de apreensão de drogas foram considerados um recorde pelo ministério. Mas, para especialistas, as ações poderiam apresentar melhores resultados se não fossem anunciadas previamente ou durante a sua realização.
Tito Carlos Machado de Oliveira, autor de um projeto de pesquisa de segurança na fronteira, coordenado pelo Ministério da Justiça, conta que, durante entrevistas na região sobre a operação Ágata, muitos responderam que aquele era o "período de férias" dos criminosos.
"Eu fiquei pressionado com essa frase, pois ela surgiu várias vezes durante as entrevistas. Acho que essa operação deveria ser realizada mais vezes durante o ano, ou em períodos não divulgados, isso melhoraria a eficiência", diz Oliveira, que também é professor de geografia na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).
Segundo Ricardo Batista Nogueira, professor de geografia na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), essas operações são necessárias pelo tipo de crimes cometidos nas regiões fronteiriças, como tráfico e contrabando. Ele afirma que ainda há deficiência na fiscalização em regiões onde há muitos rios, como a amazônica. "Um controle rigoroso poderia começar, talvez, com a fiscalização portuária", sugere.
Uma região extensa e diversificada
A fronteira brasileira corresponde a 27% do território do país e é bastante diversificada em sua extensão: ao norte é pouco povoada e de difícil acesso; ao sul, com uma densidade demográfica maior. Segundo o Ministério da Defesa, a maior dificuldade de controlar essa região se deve à geografia e às dimensões superlativas – 7.363 quilômetros em linha seca e 9.523 quilômetros de rios, lagos e canais.
O difícil controle das fronteiras faz delas um espaço aberto para o tráfico de drogas, armas, contrabando, crimes ambientais, imigração e garimpo ilegal. "O país tem boa relação com seus vizinhos, o que não exige uma preocupação muito enfática com a segurança militar. Em compensação, há problemas muito sérios, principalmente o tráfico de drogas", afirma Oliveira.
Para o especialista, além do deficit de contingente na Polícia Federal para combate ao tráfico, o problema central é a falta de aparelhamento, o que afeta também as polícias Civil e Militar, que, nos estados de fronteira, também são responsáveis por essa fiscalização. Nestas, embora não haja o problema da falta de agentes, há deficiência no treinamento dos policiais.
Além disso, faltam alianças entre os países para um trabalho conjunto. "O Brasil não tem dado a devida importância a acordos com os países vizinhos para a otimização das polícias e do potencial de combate ao tráfico", diz Oliveira.
Ações coordenadas
A integração com países vizinhos é uma das diretrizes do plano de fronteiras, criado em junho de 2011 para fortalecer a prevenção, controle e repressão de delitos praticados na região fronteiriça. No combate à criminalidade, as principais ações são a Operação Ágata, coordenada pelo Ministério da Defesa, e a Operação Sentinela, pelo Ministério da Justiça.
Para Oliveira, o plano ainda está muito concentrado na defesa militar. Mecanismos efetivos para a integração precisam ser desenvolvidos. "O Brasil tem que apostar em estradas, melhorias das condições saúde, educação e habitação da população, inclusive dos países vizinhos. Isso tudo está sendo feito, mas ainda de forma muito lenta. Ainda não há essa prioridade nacional."
Além de acordos internacionais,a cooperação entre os municípios é considerada importante para firmar essa integração. "O Governo Federal deveria estimular as municipalidades das regiões fronteiriças a fazer acordos, independentemente dos internacionais, para viabilizar situações mínimas para essa população que precisa do básico", diz Nogueira.
Os crimes cometidos na região são apenas um aspecto dos problemas enfrentados pelos moradores dessas áreas. Na fronteira norte, devido à dificuldade de integração, o principal problema é o acesso a serviços básicos. "Há ainda uma precariedade no que diz respeito a serviços como saneamento, saúde e educação", afirma Nogueira.