Consumo de bebida alcoólica pode ser punido com pena de morte no Irã
27 de maio de 2013"Algumas vezes, amigos meus já tiveram de ser medicados num hospital após uma noite de festa", relata o jovem Anoush, natural de Teerã. Ele tem vinte e poucos anos de idade e é assíduo frequentador da balada na capital iraniana. Devido à crise econômica no país, é difícil comprar bebidas com alto teor alcoólico – principalmente a preços acessíveis.
Perigo para vida e integridade física
No mercado negro iraniano, uma garrafa de vodca custa cerca de cem euros, diz Anoush. Um preço que poucos jovens do país podem pagar. Assim, muitos iranianos recorrem ao álcool de produção própria. Não raro, trata-se de uma mistura perigosa, explica o médico legista Arash Okazi.
"Diversas bebidas alcoólicas que podem ser compradas no mercado negro no Irã são misturas de etano e metanol. O consumo delas pode levar à intoxicação alcoólica. As consequências são cegueira ou até mesmo a morte", adverte o médico.
Segundo a Organização Iraniana de Legistas, mais de 140 pessoas morreram no país em 2010, devido ao consumo de álcool adulterado.
O Estado tenta conter isso com punições draconianas. Desde a criação da República Islâmica, em 1979, o consumo de álcool é passível de punição. A desobediência implica 80 chicotadas, tanto para consumidores como para vendedores, de acordo com o Código Penal do país. Quem é apanhado pela terceira vez, pode ser condenado à morte. A organização de direitos humanos Anistia Internacional condena essa lei e exige que seja abolida.
Autoridades corruptas
Os números sobre a dependência de álcool no Irã mostram a ineficácia da proibição e das duras penas como forma de intimidação. De acordo com dados oficiais de cinco anos atrás, o país tem 200 mil dependentes de bebidas alcoólicas. Observadores acreditam, no entanto, que essa estatística não corresponda à realidade e o número de alcoolistas seja, hoje, muito mais elevado.
O Estado tenta combater o problema ao controlar o contrabando de álcool. Segundo dados da agência de notícias semiestatal Mehr News, por volta de 80 milhões de litros de álcool entram ilegalmente no Irã a cada ano. A mercadoria é transportada principalmente através da fronteira noroeste, sendo contrabandeada das regiões curdas do Iraque para o Irã.
Segundo as estatísticas, a polícia consegue apreender somente 25% do álcool contrabandeado. O parlamentar iraniano Eghbal Mohammadi suspeita de um aparato de segurança corrupto por trás das baixas taxas de êxito. Em alguns casos, os funcionários colaboram com os contrabandistas na importação ilegal de bebidas, revertendo o dinheiro para o próprio bolso, acusa Mohammadi.
Para a maioria dos iranianos, é fácil o acesso a alternativas como produtos falsificados, etanol ou bebidas alcoólicas produzidas por particulares. "Geralmente, os consumidores possuem o número de telefone do traficante de álcool", disse o jovem iraniano Anoush, "e quando não se encontram bebidas alcoólicas no mercado, as pessoas recorrem, simplesmente, a drogas mais pesadas."