O Brasil na imprensa alemã (03/06)
3 de junho de 2020Die Zeit – Agora a região amazônica está sendo saqueada (30/05)
Bolsonaro quer reviver um projeto antigo da ditadura militar (1964–1985): explorar a Floresta Amazônica o mais rápido possível por meio de infraestrutura e convidar para lá empresas madeireiras e pecuárias, agricultores de soja e mineradores. São pessoas que apoiam politicamente Bolsonaro. Muito apoio o presidente recebe especialmente do agronegócio, também financeiramente. Os povos indígenas, na medida em que desejam continuar vivendo em suas aldeias, nas profundezas da floresta, estão no caminho, o que já era o caso durante a ditadura. Bolsonaro afirma que não demarcará "um centímetro quadrado sequer" em áreas adicionais para os povos indígenas. Ele também diz não querer que as pessoas morem em seu país "como em um zoológico".
Agora, na crise de coronavírus, as consequências dessa negligência em relação aos povos indígenas são particularmente visíveis. ONGs, igrejas e promotores de Justiça já alertaram para o risco de um "novo genocídio" na floresta tropical. Mas a posição do governo sobre isso ficou clara recentemente em uma gravação de vídeo com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Em uma reunião ministerial gravada, o homem especulou sobre a possibilidade de usar o surto do coronavírus como uma distração ideal para mais destruição na floresta tropical. Salles falou abertamente, porque a gravação originalmente não era destinada ao público, apenas foi divulgada à mídia posteriormente. Salles disse nesta reunião: é possível agora "passar a boiada" pela Amazônia.
Em outras partes do mundo, essas declarações cínicas da boca de um ministro que deveria ser responsável pela proteção do meio ambiente teriam provocado um escândalo – mas no Brasil algo como isso já é esperado em maio de 2020. Salles explicou rapidamente que havia sido mal interpretado, mas isso não pareceu muito convincente. Afinal, ele já tinha dito antes algo semelhante.
Neues Deutschland – Na lista de abate de Bolsonaro (30/05)
Apropriação, expulsão e, consequentemente, desenraizamento e miséria ameaçam os habitantes das tradicionais comunidades afro-brasileiras, muitas das quais podem ser encontradas no nordeste do maior país da América do Sul. Os quilombos, fundados durante a era colonial como refúgio de escravos negros fugitivos, se desenvolveram em comunidades locais não indígenas com suas próprias identidades culturais. E ainda hoje têm que lutar por sua autodeterminação e seus direitos. Isso é ainda mais evidente desde que o racista de extrema direita Jair Bolsonaro se mudou para o palácio presidencial no início de 2019.
Essas antigas vilas de escravos e seus territórios existem na região em torno da pequena cidade de Alcântara, na Baía de São Marcos, no nordeste do Maranhão desde meados do século 18. Cerca de 12 mil quilombolas vivem na área municipal de aproximadamente 1.500 quilômetros quadrados. Eles estão espalhados por cerca de 150 comunidades. O Estado já tomou posse de grande parte de suas terras e estabeleceu uma base lá em 1983 como local de lançamento de foguetes.
O governo Bolsonaro está avançando na cooperação militar e de armamento com os Estados Unidos e atendendo aos desejos da Casa Branca. Em março de 2019, os dois países assinaram um acordo que abre Alcântara para os Estados Unidos lançarem satélites. Em outubro do mesmo ano, o tratado foi ratificado pelo Congresso Nacional. A Força Aérea e a agência espacial civil AEB estão cooperando no desenvolvimento do local em um centro espacial. Os Estados Unidos estão interessados em usar a base há décadas. Isso foi impedido através de um referendo em 2001, depois, os governos de esquerda de Lula da Silva e Dilma Rousseff se opuseram à proposta.
De acordo com o novo pacto, a base será ampliada, e para isso cerca de 2 mil quilombolas serão realocados compulsoriamente para 27 localidades. Tais desapropriações ou realocações para aldeias recém-criadas, as chamadas agrovilas, já ocorriam aqui anteriormente – com más consequências para os afetados: estruturas tradicionais desabaram, os quilombolas não puderam continuar sua característica agricultura sustentável. Muitos acabaram desenraizados nas favelas da periferia das grandes cidades.
Augsburger Zeitung – Coronavírus no Brasil: "Se o governo é incapaz de resolver o problema, o crime organizado o faz (03/06)
Com mais de mil mortes em 24 horas, o Brasil é um dos países mais afetados pela pandemia de coronavírus, juntamente com os Estados Unidos e a Rússia. No entanto, o presidente brasileiro, que chamou o vírus de "gripezinha", continua se opondo às medidas de quarentena, que, por isso, são impostas por traficantes de drogas para impedir a propagação do vírus.
A população do Brasil, da qual apenas cerca de 50% cumprem as restrições de isolamento social, está insegura: governadores e prefeitos imploram para que a população não ouça Bolsonaro e cumpra as medidas restritivas, já Bolsonaro os insulta como "estrume" e sabota qualquer esforço para combater o vírus: "É irresponsável o que alguns governadores fazem. O preço será desemprego e miséria".
Der Spiegel – Mais de 500 mil infectados no Brasil (01/06)
A crise de coronavírus está se acirrando no Brasil: mais de meio milhão de pessoas já foram infectadas. Houve confrontos entre opositores do governo e a polícia em várias cidades.
Pelo menos 29.314 pacientes morreram em conexão com a doença pulmonar covid-19. Isso coloca o Brasil em quarto lugar, depois dos EUA, Reino Unido e Itália, em termos de número de mortes na pandemia. Em muitas cidades do Brasil, os hospitais já atingiram seu limite. As autoridades montaram clínicas provisórias em estádios de futebol e cavaram novas covas em grandes áreas.
Enquanto isso, o país é paralisado por uma disputa entre o presidente populista de direita Jair Bolsonaro, vários governadores e o Congresso. O chefe de Estado considera a doença pulmonar covid-19 como "gripe leve" e rejeita medidas de proteção.
Ele teme que um lockdown possa prejudicar a economia do país. No entanto, vários estados impuseram restrições e fechamento do comércio para retardar a propagação do vírus. No domingo, confrontos entre apoiadores de Bolsonaro, opositores do governo e a polícia ocorreram em várias cidades do Brasil.
Partidários radicais do presidente marcharam perante o Supremo Tribunal Federal, na capital Brasília. "O tribunal não nos calará. Queremos liberdade", gritavam manifestantes do grupo "300 do Brasil" na noite de domingo. Muitos usavam tochas e máscaras.
MD/ots
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