Armamentos
5 de janeiro de 2011O escândalo envolvendo a maior fabricante de armamentos leves da Alemanha está se tornando cada vez mais difícil de conter. A empresa Heckler & Koch (H&K) é acusada de exportar revólveres e rifles automáticos ilegalmente para regiões proibidas no México, dominadas pela sangrenta guerra do narcotráfico no país. Além disso, a H&K está sob suspeita de ter enganado o Conselho Federal de Segurança da Alemanha, órgão comandado pela premiê Angela Merkel e responsável por julgar contratos "delicados" de exportação.
A sede da empresa, próxima à cidade de Stuttgart, no sul do país, foi vasculhada por cerca de 20 policiais no final de dezembro. A companhia nega quaisquer irregularidades, e em declaração divulgada no mesmo dia das buscas, afirma que a "Heckler & Koch sempre cooperou e vai continuar cooperando totalmente com as autoridades. A empresa e seus diretores estão convencidos de que as acusações não condizem com uma análise legal aprofundada."
A investigação policial foi desencadeada por uma denúncia feita e abril por Jürgen Grässlin, ativista anti-armas e porta-voz da Associação Alemã pela Paz (DFG-VK), que vem investigando a H&K por mais de 27 anos.
O fato de a polícia ter iniciado as buscas na H&K apenas em dezembro leva um sorriso irônico à face de Grässlin. "Eu não diria que eles estiveram sobrecarregados durante esses oito meses", diz ele. Aparentemente, as autoridades em Stuttgart só começaram as investigações quando o caso veio a público, primeiro pela revista alemã Der Spiegel e pela emissora de televisão ARD.
Depois da reportagem transmitida pela TV no dia 13 de dezembro, membros do Parlamento alemão exigiram que o ministério público tomasse as devidas providências. Hans-Christian Ströbele, deputado do Partido Verde e um dos politicos a mostrar preocupação em relação à H&K, concorda com Grässlin. "Espero que a reportagem estimule os promotores" disse ele à Deutsche Welle.
Informante anônimo
A atual investigação representa um grande avanço para Grässlin, já que pela primeira vez as suas pesquisas sobre a empresa foram reforçadas pelo testemunho escrito de um informante anônimo de dentro da H&K. O testemunho do informante, segundo ele, contém fortes evidências de que a H&K tem realizado negócios ilegais.
Grässlin passou as últimas três décadas coletando evidências da onipresença das armas da H&K. Ele acredita que elas estejam por toda a parte. O rifle na logomarca da organização terrorista alemã Rote Armee Fraktion (RAF), da década de 1970, por exemplo, é um MP5 da H&K.
A empresas insiste que, de acordo com as leis de exportação alemãs, nunca forneceu armamentos a grupos terroristas em países embargados que violam direitos humanos. Mas está claro que, de fato, as armas da H&K acabam parando nas mãos erradas. "Há evidências comprovadas de que praticamente toda organização terrorista que se possa imaginar usa armas da Heckler & Koch", diz ele.
Militarização da guerra da droga no México
O escândalo atual envolve a venda de mais de 8 mil rifles G36 para a polícia mexicana entre 2006 e 2009. O informante de Grässlin disse que um número desconhecido dessas armas de alta precisão e de última geração foram vendidas à polícia em quatro estados mexicanos - Chiapas, Chihuahua, Guerrero e Jalisco. Ao contrário dos outros 27 estados mexicanos, esses quatro foram embargados pelo governo alemão como áreas onde ocorrem violações dos direitos humanos. Vender armas para essas áreas vai contra as leis de exportação alemãs.
A guerra do narcotráfico no México tem se tornado cada vez mais militarizada nos últimos anos. Desde 2006, os cartéis de drogas e a polícia local já mataram mais de 30 mil pessoas, segundo dados do governo mexicano. Só em 2010 foram mais de 12 mil mortes. Relatórios da Anistia Internacional acusam a polícia mexicana de corrupção e abuso dos direitos humanos.
"Se você exporta para essa região e sabe, pela Anistia Internacional, que a polícia lá é extremamente corrupta, então você sabe que é apenas uma questão de tempo até que os traficantes venham a pôr as mãos nos rifles G36", diz Grässlin.
Seu informante disse que as contas de hotéis e de viagens dos funcionários da H&K mostram que eles foram para estados banidos, e disse também que eles treinaram policiais com o G36. O informante também contou que a H&K pagou ao General Aguilar, na época responsável pelo órgão estatal que compra armamentos DCAM (Dirección de Comercialización de Armamento y Municiones), 25 dólares por cada G36 vendido nas províncias ilegais. "Isso deveria ser chamado de corrupção", diz Grässlin. "Segundo o informante, a H&K subornou Aguilar para poder satisfazer as encomendas das províncias proibidas."
Autor: Ben Knight (ff)
Revisão: Soraia Vilela