Dinheiro para armas
3 de junho de 2010Todos os anos, o Instituto Internacional de Estocolmo para Pesquisa sobre a Paz (Sipri, do inglês), divulga um relatório sobre as despesas militares no mundo inteiro. Se alguém pensava que a crise financeira conteria o entusiasmo de causar mortes e destruição, estava enganado. Os gastos com finalidades armamentistas aumentaram substancialmente.
O relatório do Sipri divulgado nesta quarta-feira (02/06) aponta que as despesas militares mundiais atingiram 1,5 trilhão de dólares em 2009, o que significa o aumento de 5,9% em relação ao ano anterior.
A crise pode até ter sido uma das razões desse crescimento. Sam Perlo-Freeman, coordenador do projeto sobre gastos militares no Sipri, explicou que os gastos públicos em grande parte dos países foram elevados no ano passado, a fim de incentivar a demanda e combater a recessão. "Embora as despesas militares não constituam uma grande parcela dos pacotes de incentivo econômico, até agora as despesas públicas não sofreram cortes", declarou.
EUA lideram mais uma vez
Novamente, os EUA encabeçam a lista dos que mais gastaram com defesa. O dispêndio norte-americano com finalidades militares perfaz 53% dos gastos mundiais, o que representa um aumento de 47 bilhões de dólares no ano.
Perlo-Freeman considera bastante improvável que a estratégia norte-americana de domínio absoluto venha a mudar algum dia, nem mesmo sob o presidente Barack Obama. Nos EUA, a defesa é encarada como um seguro "contra qualquer eventualidade", explica o especialista do Sipri.
Mas os EUA não estão sozinhos. Exceto alguns pequenos países do Leste Europeu, quase todas as regiões do mundo fizeram mais investimentos militares em 2009. Países com recursos naturais significativos elevaram drasticamente os gastos para essa finalidade. A Argélia e a Nigéria duplicaram seus gastos; o Cazaquistão aumentou em 360%, o Azerbaijão, em quase 500%, e a República do Congo, em 663%.
Desarmamento nuclear aquém das expectativas
A cada ano, o Sipri pergunta diretamente aos governos os números sobre despesas militares. Mas o instituto sueco também estuda os orçamentos nacionais e consulta especialistas autônomos, pois os gastos com armamentos geralmente são sigilosos e muitos projetos se estendem por muitos anos.
Quanto à meta de redução das 8 mil ogivas nucleares existentes no mundo, o Sipri reconhece certo progresso, sobretudo graças ao empenho do presidente dos EUA, Barack Obama, em acertar um tratado mundial de desarmamento e não-proliferação nuclear. No entanto, o crescente isolamento da Coreia do Norte e o criticado programa atômico do Irã são motivos de pessimismo nesse sentido.
Comércio de armamentos pela Alemanha
A Alemanha é o sétimo país do mundo que mais gasta com armas. Em 2009, o governo alemão liberou 46 bilhões de dólares para essa finalidade.
Dentro da Europa, a Alemanha também fica atrás da França e do Reino Unido. Mas tanto na Alemanha, quanto na maioria dos países da Europa Ocidental, as despesas militares vêm sendo reduzidas continuamente, constata Sam Perlo-Freeman.
"Os gastos alemães com armamentos têm caído gradualmente", afirma. "Assim como muitos outros países da Europa Ocidental, a Alemanha não sente nenhuma ameaça nítida. E a maioria dos países europeus ocidentais parece não acreditar que as ameaças existentes, sejam elas a mudança do clima ou o terrorismo, possam ser solucionadas por meios militares."
Em 2009, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial caiu 0,9%, mas as despesas militares não param de crescer. Alguns países, inclusive a Grécia, anunciaram cortes em seus orçamentos militares para o ano corrente ou para o próximo.
Autor: Alexander Budde (sl)
Revisão: Roselaine Wandscheer