Crise nos Bálcãs
3 de abril de 2007O Conselho de Segurança da ONU iniciou, nesta terça-feira (03/04), as conversações sobre o futuro do Kosovo, província sérvia que se encontra sobre protetorado das Nações Unidas desde 1999. Sobre a mesa está a sugestão de seu enviado especial para a região, o ex-presidente finlandês Martti Ahtisaari, que prevê a independência parcial do Kosovo, onde 90% da população são de origem albanesa.
A Sérvia rejeita o plano e conta com o apoio da Rússia para vetá-lo. "Qualquer forma de independência do Kosovo é inaceitável para a Sérvia", declarou o presidente sérvio, Boris Tadic, criticando duramente o apoio dos EUA ao plano de Ahtisaari, como afirmou seu gabinete em fins de março.
Apesar de o ministro alemão das Relações Exteriores, Franz-Walter Steinmeier, afirmar a coesão da União Européia no apoio à sugestão do enviado da ONU, a Eslováquia, principalmente, mas também Grécia, Romênia e Espanha, pensam de forma diferente.
Parto difícil
Reunidos em Bremen na última sexta-feira (30/03), os ministros das Relações Exteriores da UE resolveram apoiar, segundo o termo oficial através de uma "posição conjunta", a proposta da ONU de uma independência parcial para o Kosovo.
Apesar de o ministro Franz-Walter Steinmeier (SPD), como representante da presidência rotativa alemã da UE no encontro, garantir um consenso europeu sobre o assunto, declarações de outros países-membros demonstram o contrário.
Em declaração, o Parlamento eslovaco rejeitou uma "independência absoluta do Kosovo" na última quarta-feira (28/03). O peso da Eslováquia fica por conta de o país possuir uma cadeira temporária no Conselho de Segurança da ONU.
Grécia, Romênia e Espanha
Mas também a Grécia e a Romênia não escondem sua rejeição. Segundo elas, a independência do Kosovo iria beneficiar uma minoria separatista, com a agravante da mudança de fronteiras existentes.
O secretário de Estado espanhol para assuntos europeus, Alberto Navarro, advertiu: "Se começarmos a dividir países, isto mudaria, anualmente, o mapa da Europa". Um diplomata da UE acrescentou: "Quase todos os países têm minorias".
Os países da UE estão coesos, entretanto, quanto à responsabilidade da ONU na resolução da questão do Kosovo: a negociação direta entre a Sérvia e os albaneses do Kosovo sobre a independência da província não levou, até agora, a nada.
Guerra Fria?
Após o encontro entre a Rússia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em fevereiro último em Sevilha, ficou claro que a posição de Moscou e da comunidade ocidental quanto ao Kosovo continua tão inconciliável quanto antes.
Serguei Ivanov, ministro russo da Defesa, assumiu uma posição totalmente contrária à sugestão de uma soberania vigiada para a província sérvia defendida pelos EUA e Otan.
O ministro advertiu que isto provocaria a cobiça de outras regiões como a Transnitria, Abcácia ou Ossétia do Sul. "Temos que tomar cuidado para não abrir a caixa de Pandora", afirmou o ministro.
Segundo o jornal búlgaro Monitor, a posição russa de apoio à Sérvia se justifica não pela simpatia eslava ou cristã-ortodoxa, mas por interesses geopolíticos nos Bálcãs. Moscou quer mostrar que, sem o seu apoio, problemas como a questão do Kosovo, do Irã e da Coréia do Norte não podem ser resolvidos. Além disso, a Rússia quer aproveitar a situação para legitimar seu papel de líder de uma coalizão informal de países que se opõem aos Estados Unidos.
Jaap de Hoop
Por outro lado, Jaap de Hoop Scheffer, secretário-geral da Otan, reafirmou a posição de todos os países-membros da organização de "apoio completo para a sugestão de Ahtisaari e para o seu cronograma".
Desta forma, as conversações prometem ser bastante interessantes no Conselho de Segurança da ONU, onde a Rússia apóia a Sérvia e a Eslováquia possui um assento temporário.
Daniel Fried, vice-secretário norte-americano de Estado para Assuntos Europeus, declarou, nesta segunda-feira (02/04) em Berlim, que considera um veto russo como possível no Conselho de Segurança e advertiu os países europeus à coesão: "A unidade dentro da UE e entre a Europa e os EUA é a chave para o sucesso".
Por receio de revoltas durante as negociações da ONU, as Forças Armadas alemãs aumentaram em 550 homens o seu contingente estacionado no Kosovo, ampliando assim para 3 mil seu número de soldados da força de paz estacionada no Kosovo sob o comando da Otan (Kfor). O fortalecimento deverá ocorrer até meados de abril.