'Sérvios querem desacreditar processo de independência'
22 de fevereiro de 2007Deutsche Welle: Senhor Presidente, houve um aumento da violência no Kosovo, neste mês. No dia 10 de fevereiro ocorreram protestos contra as negociações intermediadas por Martti Ahtisaari [enviado especial da ONU para o Kosovo], durante os quais morreram duas pessoas. Agora houve um atentado contra veículos da UNMIK [Missão de Administração Interina das Nações Unidas no Kosovo]. Terá fracassado o grupo de negociações do Kosovo, que representa Pristina nas negociações de Viena? Afinal de contas, existe agora uma camada dos insatisfeitos entre a população.
Fatmir Sejdiu: Estas ocorrências não deixam uma boa impressão para o Kosovo, estas manifestações e suas conseqüências foram uma "hora negra". Foram protestos violentos e foi totalmente desnecessário que resultassem em duas vítimas. Por um lado, é uma dura perda para as famílias, por outro lado, a gravidade dos incidentes influencia bem negativamente o porvir do Kosovo, além de prejudicar os processos políticos.
Todos têm naturalmente o direito de protestar, defender-se e expressar opiniões contrárias, porém é igualmente importante que tal ocorra dentro dos limites da lei. Acho que o grupo de negociações fez o seu serviço. Defendemos os interesses do Kosovo claramente em todos os encontros de Viena, e é verdade que todas as nossas decisões foram tomadas em consenso, representando, portanto, a vontade da maioria absoluta da população kosovar e de suas instituições.
O grupo de negociações apresentou, antes das conversações em Viena, uma lista de pontos com que não está satisfeito. O senhor acredita que o pacote de Ahtisaari ainda possa ser modificado durante as negociações?
É possível. Certamente não poderá haver mais grandes modificações, contudo pode ser que nossos argumentos ainda sejam considerados. Agora, precisamos ver o que vai acontecer. Não somos a favor de reabrir toda a discussão sobre as propostas de Ahtisaari, o que resultaria em debates intermináveis. Isso nada traria, além de novos perigos para o Kosovo e para o seu futuro.
Quero lembrar a importância de que este processo seja acompanhado no Conselho de Segurança Mundial, e que para lá também confluam as sugestões para o futuro do Kosovo. Acreditamos que nessa parte do documento serão considerados os interesses do Kosovo para seu futuro. A questão é a formulação política e, diretamente, a independência do Kosovo.
A delegação sérvia exigiu que a proposta de Ahtisaari seja dividida numa parte técnica e uma política. Como o senhor vê essa exigência?
Acho que, também nas reuniões vienenses, Belgrado quer atrasar o máximo possível os processos, para assim desacreditá-los. Isso agravaria as tensões no Kosovo, com a meta de provar algo bem diferente: que o Kosovo não está maduro para a independência, que não há estabilidade nem perspectivas de futuro para seus cidadãos, em especial para os cidadãos sérvios.
O próprio Ahtisaari disse que dois terços de sua proposta só se ocupam da proteção dos sérvios em Kosovo. Representantes dos sérvios em Kosovo, por sua vez, declararam que o documento é injusto, por tratar todas as minorias do Kosovo de forma igual. Contudo isso significaria que os sérvios, como maior grupo minoritário, teriam mais direitos do que, por exemplo, os rom ou os ashkali.
[...] Naturalmente outras minorias impuseram as mesmas exigências que a sérvia, porém elas estão integradas nos processos democráticos, através das instituições do Kosovo. Por isso é tão mais importante que façamos tudo para pôr em prática os padrões internacionais de como tratar as minorias. É este o motivo por que as partes do documento dedicadas à proteção da minoria sérvia se baseiam em normas e padrões internacionais. E há mesmo aspectos em que superam francamente os padrões adotados internacionalmente.