Hip hop berlinense, sem filtro
4 de novembro de 2004Músicos de hip hop têm sempre aquelas toucas engraçadas na cabeça e andam como se estivessem remando o tempo todo. Pelo menos é o que se pensava até então. O hip hop é uma questão de idade, e Status Yo não é nada para aqueles que já cruzaram a fronteira dos 30 anos. Também é o que se pensava até então. No entanto, quem vê o filme, percebe muita coisa.
O longa de Till Hastreiter é o que se poderia chamar de um musical com hip hop alemão. O primeiro longa de ficção capaz de mostrar com autenticidade o feeling dos músicos de hip hop no país. Um filme que causou furor quando foi apresentado durante o último festival de cinema de Berlim.
Vida real na tela
Através de um excelente elenco, composto basicamente por imigrantes que vivem na Alemanha, o diretor Hastreiter volta suas lentes para a vida de seis jovens em Berlim. Isso durante 24 horas. Entre os 120 participantes, não há nenhum profissional. Cada um interpreta a si próprio no filme. Um deles é o rapper Yaneq, que tem um caso com a irmã de seu melhor amigo. Para disfarçar, faz o impossível. Anuncia que, sem dinheiro, vai fazer a maior festa que Berlim já viu. O que o leva a entrar em contato com alguns mafiosos de quintal no bairro Kreuzberg, na cidade.
Outro rapper é o bósnio Saession, sempre em fuga dos agiotas aos quais deve montanhas de dinheiro. Isso enquanto vive tentando impedir que sua namorada, a descendente de turcos Yesmin, seja envolvida em um casamento forçado pelos parentes. E ainda tem o poeta de rap Sera, que só conversa usando rimas, ganha uma grana cuidando de idosos e canta nos metrôs da cidade. Enquanto Tarek, outro da turma, sonha em transformar os vagões branquinhos do metrô em tela para seus grafitis.
Breakdance versus skinheads
"Uma ficção documental" é a definição de Hastreiter, 34 anos e ex-aluno da Academia de Cinema de Budapeste, para seu longa. O diretor consegue transformar episódios de ficção de tal forma em realidade, que os acontecimentos representados na tela parecem fugir de qualquer controle e raramente conseguem ser repetidos. Em 45 dias, a equipe rodou em mais de 80 locações na capital alemã.
Os resultados na tela têm pouco a ver com o que se costuma ver de hip hop em clips da MTV, povoados de garotos e garotas cool, com pouca roupa e à beira da piscina. As locações de Status Yo são as ruas gélidas de Berlim. Onde radicais de direita, que ameaçam xingar os rappers, são imediatamente mandados para longe pelos break dancers.
Duas câmeras funcionam ao mesmo tempo e estão sempre bem perto dos atores. O que, combinado à iluminação artificial e mínima, resulta numa atmosfera áspera. A dinâmica do ritmo se dá em função das split screens (telas divididas), da montagem abrupta e dos cortes e efeitos rápidos. Embora pareça às vezes meio desajeitado, o filme é um autêntico passeio pelo universo musical e de comportamento dos anos 80.
Marketing inusitado
Até mesmo na distribuição (50 cópias estão sendo espalhadas pela Alemanha), o cineasta resolveu trilhar caminhos não tradicionais, contando com o apoio da distribuidora Die TelePaten, de Colônia. Um concurso na internet foi aberto a rappers interessados na trilha sonora. E os atores vão até os cinemas, quando o filme é exibido. E não apenas para acompanhar a projeção, mas também para colocar som nos clubes.
As estratégias inusitadas de marketing têm surtido efeito: no site do Status Yo, antes mesmo da estréia nos cinemas nacionais, uma série de voluntários se ofereceu para distribuir folhetos e adesivos de divulgação. E isso antes mesmo de terem visto o filme.