Demanda pelo espanhol
10 de junho de 2009A imprensa alemã diz que a Espanha deu início a uma nova conquista, desta vez na forma de uma ofensiva cultural, cuja arma seria sua língua. A julgar pelo número de Institutos Cervantes existentes na Alemanha – em Bremen, Munique, Berlim, Frankfurt e, em breve, também em Hamburgo – o idioma espanhol parece viver um momento de expansão.
Mas o fenômeno é global e não se restringe apenas à Alemanha. O instituto, fundado em 1991 com sede em Madri e Alcalá de Henares, berço de Cervantes, conta com 70 unidades em quatro continentes e dispõe de um orçamento anual estimado em 100 milhões de euros.
Quase 500 milhões de pessoas falam espanhol em todo o mundo e, segundo a Unesco, se a tendência de crescimento se confirmar, em cerca de 50 anos um quarto da população mundial falará o idioma.
Superando outras línguas
"Estamos entrando em um mundo multilíngue, no qual os estudantes querem ter mais de um idioma em seu currículo acadêmico. Antes era necessária apenas uma língua: o inglês. Hoje, precisa-se de duas línguas estrangeiras ou mais, além da materna", afirma o diretor do Instituto Cervantes de Frankfurt, Ignacio Olmos.
"Houve uma transferência de interesse de idiomas como francês, italiano e russo para o espanhol, que abre novos mercados e possui uma cultura milenária que ainda é muito vital em sua forma moderna."
Segundo o madrileno de 45 anos, que já foi diretor de todas as unidades do instituto na Alemanha, à exceção da de Hamburgo, os números falam por si mesmos: enquanto os Institutos Cervantes contam com uma média de 5 mil alunos na Alemanha, instituições que ensinam outros idiomas estão tendo que reduzir sua oferta. "Em Berlim, o instituto italiano tem 900, o francês tem 1.200 alunos, enquanto nós temos 5.100", gaba-se Olmos.
Fim do "English only"
De acordo com um estudo realizado por uma entidade ligada ao Ministério das Relações Exteriores espanhol, os Estados Unidos já são o segundo país de língua espanhola no mundo e, em 2050, poderiam ultrapassar o México e ocupar a primeira posição. "Estamos falando de uma minoria formada por uma comunidade de entre 40 e 50 milhões de pessoas num país de 250 milhões, ou seja, um quinto da população", lembra Olmos.
No entanto: "Assim como houve uma revolução que superou o problema do racismo e permitiu que um político negro assumisse a presidência da maior democracia do planeta, há uma segunda revolução pendente que é a hispânica e vamos assistir a ela nos próximos anos", adverte.
Fenômeno brasileiro
Segundo Olmos, outro fenômeno é o Brasil, onde o governo Lula promove a integração latino-americana através da língua, consciente de que os brasileiros estão rodeados por países de língua espanhola.
"O Brasil é o país com o maior número de Institutos Cervantes no mundo. Até agora, são nove centros. Isso se deve ao fato de o governo querer transformar o espanhol em língua de ensino obrigatório nas escolas, o que leva a uma demanda de 200 mil professores de espanhol. Não podemos suprir essa demanda por professores, mas podemos, sim, abrir vários centros."
Aprendendo com os irmãos maiores
Ignacio Olmos sublinha que, na política cultural, o Instituto Cervantes foi o último a chegar à cena internacional. "O instituto francês tem 70 anos de existência, o britânico tem 80 anos e o Instituto Goethe acaba de celebrar seus 50 anos. O Cervantes está próximo de completar seu 18 anos", afirma Olmos, lembrando que o atraso se deve à ditadura de Franco.
"Mas aprendemos muito com outros institutos culturais estrangeiros, especialmente com o Instituto Goethe e sua política cultural baseada no diálogo", salienta. Segundo ele, o Cervantes hoje representa a diversidade da cultura espanhola e latino-americana, do próprio Cervantes a Almodóvar, de Octavio Paz a Isabel Allende. "É uma casa por onde circula toda a cultura em espanhol, independente do país onde seja produzida."
"O Instituto Cervantes tem uma projeção de crescimento sustentável que o levou a abrir uma média de cinco a sete unidades por ano em todo o mundo, enquanto o britânico fechou diversas unidades, o francês reduziu enormemente seu orçamento e o Instituto Goethe cortou recursos e focou suas atividades no Oriente Médio. O Instituto Cervantes, em contrapartida, cresce."
Autora: Eva Usi
Revisão: Augusto Valente