Dívidas ocultas: Suposta ligação pode "beliscar" Lourenço
2 de fevereiro de 2019A divulgação da existência de contratos entre Angola e as empresas envolvidas no escândalo das chamadas dívidas ocultas de Moçambique "pode beliscar ligeiramente" a imagem do Presidente angolano, João Lourenço. Esta é a avaliação da consultora Eurasia, que, entretanto, diz que o ímpeto anticorrupção permanece em Angola.
"A agenda reformista de João Lourenço não vai, provavelmente, perder fôlego por causa deste desenvolvimento e apesar de a sua imagem de combate à corrupção possa ser ligeiramente beliscada, a campanha anticorrupção focada na família de José Eduardo dos Santos e seus aliados vai provavelmente continuar", escreve o diretor para a África subsaariana desta consultora, Darias Jonker.
Num comentário à divulgação de contratos no valor de mais de 500 milhões de dólares entre o Ministério da Defesa de Angola e a Privinvest, enviado aos clientes e a que a agência de notícias Lusa teve acesso, a Eurasia diz que "o projeto da Privinvest em Angola é 'notícias velhas', foi amplamente divulgado em 2016 e faz parte do projeto Pro-Naval decretado pelo antigo Presidente José Eduardo dos Santos para garantir um sistema de segurança marítimo para o país".
Sobre o atual chefe de Estado angolano, que na altura era ministro da Defesa, Jonker diz que "apesar de se ter distanciado da corrupção descarada da era de Santos, era inevitável que os três anos passados no Governo do ex-PR como ministro da Defesa o ligassem a contratos militares questionáveis".
Oposição cobra explicação
Entretanto, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), maior partido da oposição, já defendeu uma averiguação à denúncia sobre o alegado envolvimento do Ministério da Defesa, na tutela de João Lourenço, atual Presidente da República, num negócio com empresas envolvidas nas dívidas ocultas moçambicanas.
A posição foi manifestada na quarta-feira passada pelo líder da bancada parlamentar da UNITA, Adalberto Costa Júnior, numa conferência que abordou questões ligadas à limitação da fiscalização dos deputados aos atos de governação.
Em causa está o "Relatório Especial" da consultora EXX Africa sobre a ligação entre a empresa Privinvest e o Governo de Angola, quando João Lourenço era ministro da Defesa. O documento adianta que "há indicações cada vez maiores de envolvimento de líderes políticos angolanos no escândalo moçambicano que ainda não foram totalmente divulgadas".
O Ministério da Defesa de Angola, diz esta consultora, "chegou a fazer um contrato de 495 milhões de euros para comprar barcos e capacidade de construção marítima à Privinvest, num contrato com aparentemente notáveis semelhanças com a Prolndicus e MAM (em termos de palavreado e conteúdo), as empresas que estão no centro do escândalo da 'dívida oculta' de Moçambique.
"Estas ligações e os negócios feitos arriscam-se a minar o ímpeto muito popular e mediático contra a corrupção, e podem também embaraçar os principais líderes políticos angolanos, e colocam riscos reputacionais para os investidores em Angola", acrescenta-se no relatório, enviado aos clientes desta consultora, e que a Lusa teve acesso.