Vice de Mugabe retorna e saúda "nova democracia" no Zimbábue
22 de novembro de 2017O ex-vice-presidente do Zimbábue Emmerson Mnangagwa retornou a seu país nesta quarta-feira (22/11) para assumir a presidência de forma interina após a renúncia do ex-líder Robert Mugabe.
Em discurso na capital, Harare, onde uma multidão o aguardava em frente à sede do partido governista, a Zanu-PF, Mnangagwa afirmou que o Zimbábue "testemunha hoje o início de uma democracia nova e em desenvolvimento".
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"O povo falou. A voz do povo é a voz de Deus", disse o ex-vice-presidente, enquanto algumas centenas de zimbabuanos gritavam seu apelido, "crocodilo". "A vontade do povo será sempre bem-sucedida. Eu prometo ser seu servo."
Mnangagwa ainda agradeceu às Forças Armadas zimbabuanas por terem assumido de forma pacífica o controle do país na semana passada e ajudado a fazer pressão para a renúncia de Mugabe, no poder há quase quatro décadas. Ele disse sentir "grande respeito, humildade e profunda gratidão".
O futuro presidente chegou ao aeroporto militar de Harare mais cedo nesta quarta-feira. Após ser removido da vice-presidência por Mugabe, que o acusou de traição, Mnangagwa fugiu para a África do Sul no início do mês temendo por sua vida.
O líder do Parlamento zimbabuano informou ter sido notificado pela Zanu-PF que o ex-vice assumirá a presidência interinamente na próxima sexta-feira, 24 de novembro.
Mugabe anunciou sua renúncia na terça-feira, encerrando quase quatro décadas de governo, pouco depois de o Parlamento do país abrir um processo de impeachment. A repentina queda de Mugabe se deve a uma disputa entre membros da elite zimbabuana para definir seu sucessor.
Os militares haviam tomado o controle do país depois de Mugabe ter manobrado para que a esposa dele, Grace Mugabe, de 52 anos, o sucedesse em detrimento de Mnangagwa, de 75 anos.
Grace, que é conhecida por seu estilo impulsivo e o gosto por artigos de luxo, costuma ser chamada de Gucci Grace pelos zimbabuanos.
Mnangagwa, apelidado de "crocodilo", mantém estreitas relações com os militares e é considerado um linha-dura, tendo chefiado o serviço secreto e o Ministério da Justiça.
Muitos no país duvidam da capacidade do ex-vice de Mugabe de levar adiante as reformas necessárias. Ele deverá enfrentar resistência de grande parte da população, que o acusa de participar ativamente na repressão levada a cabo pelo governo de seu antecessor.
Ele era o chefe da segurança interna do país nos anos 1980, quando Mugabe enviou uma brigada militar treinada na Coreia do Norte para pôr fim a uma insurgência de grupos rebeldes que, segundo organizações de direitos humanos, resultou na morte de cerca de 20 mil civis.
EK/RC/afp/ap/dpa/rtr
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