Degustação ao ar livre
9 de outubro de 2010Para quem quiser começar com o pé direito a caminhada pela rota do vinho tinto no Vale do Rio Ahr, o primeiro passo é providenciar uma garrafa de federweisser, logo ao desembarcar na estação de trem.
Trata-se de um vinho novo, que deve seu aspecto turvo, levemente espumante, seu alto teor de açúcar e baixo teor alcoólico ao fato de o mosto des uvas brancas ainda não estar totalmente fermentado.
A bebida é típica da região, mas é também saboreada no restante da Alemanha para festejar a chegada do outono. E esta marca o início da alta temporada, época mais propícia para explorar as videiras locais.
Exercício e vinhos
A ideia da Rotweinwanderweg (rota do vinho tinto) é, portanto, aliar caminhada a brindes alcoólicos. Ao mesmo tempo em que se percorrem trilhas, exercitando-se as pernas – por vezes com bastante vigor –, pode-se degustar os sabores típicos do vale, num roteiro marcado por paisagens bucólicas e uma grande oferta de vinhos.
Com 35 quilômetros de extensão, o trajeto que liga Bad Bodendorf a Altenahr, no estado da Renânia do Norte-Vestfália, pode ser feito a pé – muitos turistas aproveitam para praticar o nordic walking – ou de bicicleta.
Flexível, a rota oferece diversas paradas de trem à beira do percurso, permitindo que se escolha em qual ponto começar ou terminar o passeio, sem necessariamente marchar os 35 mil metros.
Por onde ir
Ao desembarcar em Walporzheim, parada localizada a 40 minutos de Bonn, por exemplo, enfrentam-se cerca de 30 minutos de caminhada íngreme até chegar ao primeiro ponto para contemplação da vista.
Mesmo para os sedentários, o grau de dificuldade é moderado. Por isso, não há por que se intimidar pela imagem de morros empilhados quase infinitamente, à espera de desbravamento: o caminho é constituído, em sua maior parte, por ruas asfaltadas. Mas como também há trilhas abertas com bastante pedra e barro, o ideal é calçar tênis apropriados para trekking.
Chegando a um dos numerosos picos, vê-se do alto as curvas do Rio Ahr, que permeiam o vilarejo. Também no topo há pequenos quiosques de madeira que durante o dia podem ser reservados para festas e piqueniques em família.
O que fazer por lá
Bem sinalizado, o caminho apresenta placas freqüentes, informando sobre o próximo ponto de parada, que pode ser o restaurante de um dos proprietários de terras na região, uma pequena loja de vinhos, ou um ponto de encontro onde se vendem as bebidas produzidas localmente.
Além de provar os vinhos de forma bem descompromissada, logo ali, em frente das barraquinhas, existe a opção de fazer refeições bem elaboradas ao longo do trajeto.
Para um lanche rápido, há o backesbrot mit griebenschmalz – pão assado servido com um uma mistura de banha e cebola grelhada – ou o winzerteilchen – um folhado com recheio de creme e bacon. Para acompanhar, uma weinschorle, mistura típica alemã de vinho e água mineral gasosa.
De volta à trilha, encontram-se os turistas de diferentes partes da Europa. Todos se cumprimentam com um simpático "Hallo!" quando seus caminhos se cruzam, para logo voltarem ao próprio idioma.
Outra cena interessante é a colheita das uvas feitas pelos trabalhadores locais. Os cachos precisam ser retirados manualmente, um a um, em trabalho árduo e dedicado, já que as parreiras são plantadas muito próximas umas às outras, o que impossibilita o uso de maquinário.
Quem não se contenta em ficar só olhando, pode colher sorrateiramente sua própria uva: seu sabor mistura notas adocicadas e cítricas dos frutos que aromatizam todo o vale.
História e tradição
Com cerca de 520 hectares, o Vale do Ahr é a terceira menor área de vitivinicultura da Alemanha. Sobre as encostas íngremes por onde passa o rio que dá nome à região, prospera a fabricação de vinho tinto, responsável por 85% da safra. Frequentemente premiada, a produção do Ahr já recebeu títulos de "Vinho Tinto do Ano", "Melhor Vinicultor" e "Melhor Região", entre tantos outros.
Apesar de a rota turística ter não mais do que 30 anos, acredita-se que desde tempos antigos o terreno já servia para o plantio de uvas. Os romanos habitavam a zona entre os as regiões do Eifel e do Reno, e lá teriam cultivado as primeiras videiras do local.
Mesmo com sua fama histórica e grandiosa, os produtores locais colocam a qualidade diante da quantidade, em uma perfeita combinação de tradição, inovação e paixão. O resultado são vinhos exclusivos, vendidos apenas na Alemanha e apreciados por muitos amantes da bebida.
Autora: Monique dos Anjos
Revisão: Augusto Valente