1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Bamberg e sua cerveja defumada

18 de setembro de 2010

Além da bebida, que desperta a curiosidade dos turistas, a charmosa cidade oferece passeios românticos de gôndola e um clima medieval preservado há mais de mil anos.

https://p.dw.com/p/PF7J
'Rauchbier' remete ao gosto de carnes e queijos defumadosFoto: presse

Há 963 anos, num monastério da comuna italiana Pesaro, morria o papa Clemente 2º. O seu último desejo, surpreendentemente, quebrava as tradições da Igreja: ser enterrado na pequena cidade de Bamberg, na Alemanha.

Até então, os papas eram usualmente sepultados em Roma e Clemente 2º figura, ainda hoje, como o único deles cujo túmulo se encontra ao norte dos Alpes. Os encantos dessa cidade medieval, que o pontífice carinhosamente chamou de sua "amada noiva", permanecem preservados até os dias atuais e foram tombados como patrimônio histórico pela Unesco em 1993.

As ruas do centro de Bamberg são estreitas, com pavimentação de paralelepípedos, e dão um charme a mais às pequenas casinhas que a cidade reserva dentre o perímetro do seu centro histórico.

Lado a lado, construções com mais de mil anos de idade preservam o estilo arquitetônico simples e romântico da Idade Média. Trançadas em madeira ou decoradas com flores e desenhos, as fachadas das casas são cuidadas com tamanho primor, que é difícil imaginar que estejam ali há tanto tempo.

UNESCO Altstadt von Bamberg Flash-Galerie
Centro histórico foi tombado como patrimônio mundial em 1993Foto: picture-alliance / Bildagentur Huber

A sensação que se tem ao passear pelas redondezas é a de estar em um conto de fadas. Tudo na cidade – de hotéis a padarias e até mesmo lojas de tatuagem – está escondido por trás de pequenas janelas, cortinas de renda, paredes de pedra milenares e portas de madeira entalhada.

O círculo compacto de casas e os labirintos de paralelepípedo se formam delicadamente ao redor de uma das principais igrejas da cidade, a Catedral de Bamberg.

A pé, em meio às ruelas, fica difícil enxergar o monumento histórico que se ergue sobre uma colina central, dotado de duas torres imponentes de tijolos claros e em cujo altar encontram-se enterrados os restos mortais de Clemente 2º. A estrutura com a qual o centro de Bamberg está organizado remete à era medieval, evidenciando a importância da Igreja Católica na época.

Dom in der Altstadt von Bamberg
Catedral onde papa Clemente 2º está enterradoFoto: dpa

Esse foi um dos motivos que levou a região a ser tombada como patrimônio histórico. No site da Unesco, o município é elogiado por ter conservado tão bem o estilo arquitetônico dos séculos 11 a 18, enfatizando o seu valor histórico.

Situado sobre colinas e repleto de monumentos católicos, o antigo bispado chegou a ser comparado com a capital italiana – também erguida sobre sete morros – e apelidado de "Roma da Francônia", região em que está inserida, no norte da Baviera. Quatro de suas igrejas foram propositalmente construídas em pontos geográficos específicos, formando uma espécie de cruz imaginária na planta da cidade.

Pequena Veneza

O município é cortado pelo rio Regnitz, que liga as águas do Reno às de dois outros grandes rios alemães, o Meno e o Danúbio. Ao atravessar a Ponte Alta, uma das atrações da cidade, o turista é surpreendido por gôndolas transportando turistas pelo rio.

Flash-Galerie Gondel auf der Regnitz in Bamberg
Passeios de gôndola passam por casas do século 17 às margens do RegnitzFoto: picture-alliance/dpa

O passeio é um dos mais românticos da cidade, passando por um simpático conjunto de casas de pescadores do século 17, que enfeitam as margens. E o porquê da gôndola ter sido escolhida como meio de transporte tem um bom motivo: em 1842, a região onde o trajeto é realizado foi apelidada por dois jornalistas de "Pequena Veneza", em um livro de bolso para navegadores do rio Meno, e o nome caiu no gosto dos moradores de Bamberg.

Nas propagandas dos estabelecimentos comerciais e entre a população local, de cerca de 70 mil habitantes, se fala com orgulho dessa suposta similaridade aos italianos.

Seja a referência Roma ou Veneza, tal semelhança com o país vizinho não é notável na arquitetura e nem no clima de Bamberg. A explicação, porém, logo é dada por um padeiro local: assim como os romanos, os francônios também apreciam boa comida e bebida – mas com um toque germânico. Ali, os banquetes italianos são substituídos por especialidades como a "cebola de Bamberg" (cebolas recheadas com carne) ou o "Bamberger Hörnla", uma espécie de croissant.

"Céus, que cerveja!"

A exclamação partiu do renomado escritor Jean Paul Richter, ícone do Romantismo alemão, ao experimentar a mais famosa especialidade da cidade: a cerveja defumada. Desde então, a admiração pela Rauchbier ultrapassou os séculos e ganhou âmbito internacional, sendo exportada de Bamberg para o mundo todo.

O nome – que, ao pé da letra, significa "cerveja de fumaça" – pode causar estranhamento à primeira vista, mas o gosto inconfundível desta cerveja passa bem longe do cinzeiro. Encorpada e de tonalidade escura, a bebida é produzida a partir de malte defumado e o seu sabor remete apenas de leve às carnes e queijos submetidos ao mesmo processo.

Rauchbier aus Bamberg
Região possui 9 cervejarias e produz mais de 50 variedades da bebidaFoto: DW

Há quem sequer sinta os resquícios de fumaça num primeiro gole e, para esses, um dito popular sugere certa perseverança. Segundo a tradição, o paladar se aguça apenas no terceiro caneco – o que possivelmente triplica a demanda pela bebida.

Seja por persistência ou por gosto genuíno, basta entrar na taverna Schlenkerla para notar as mesas repletas de copos vazios. A cerveja produzida ali, a premiada Aecht Schlenkerla Rauchbier, é conhecida como "a cerveja de Bamberg" e atrai turistas curiosos do mundo todo.

Decorada no mais tradicional e simpático estilo alemão, a taverna passa quase despercebida entre tantos outros prédios típicos do centro histórico da cidade – não fosse o fluxo agitado de entra-e-sai em sua porta.

Construído antes mesmo do descobrimento do Brasil, há mais de 600 anos, o estabelecimento está situado a uma pequena distância a pé da Catedral de Bamberg e do túmulo papal, possibilitando um agradável passeio pelas charmosas ruas de pedra.

Além da Schlenkerla, a cidade tem outras oito cervejarias e mais de 50 tipos de cerveja exclusivos da região, que podem ser degustados em tours (pacotes turísticos) de um a três dias de duração.

Uma boa pedida para brindar uma visita à cidade!

Autora: Melissa de Miranda
Revisão: Roselaine Wandscheer