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Eleições na Turquia

23 de julho de 2007

União Européia saúda vitória arrasadora do partido conservador-islâmico na eleição parlamentar turca e pede continuidade das reformas. Na Alemanha, partido de Angela Merkel resiste ao possível ingresso da Turquia na UE.

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Erdogan festeja a vitória ao lado da esposa EmineFoto: AP

A vitória do governista Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), de tendência conservadora islâmica, nas eleições parlamentares deste domingo (22/07) na Turquia foi festejada não só pelos correligionários do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, mas também por seus parceiros nas capitais européias.

O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, congratulou o chefe do governo turco pela vitória por 46,6% dos votos, com um acréscimo de 12,6% em relação às eleições de 2002. "Ela vem num momento importante para o povo turco, em que o país avança nas reformas políticas e econômicas. Erdogan se comprometeu pessoalmente a garantir um movimento da Turquia em direção à União Européia", disse Barroso.

Segundo informações da agência de notícias turca Anadolu, o AKP conquistou 340 das 550 cadeiras no Parlamento, 23 a menos do que detinha até agora, mas o suficiente para continuar governando sozinho.

O centro-esquerdista Partido Republicano Popular (CHP), de oposição, elegeu 112 deputados, e o direitista Partido do Caminho Nacional (MHP), 71 (em 2002, esse partido fracassara na barreira de 10%). Além disso, segundo a CNN-Türk, foram eleitos 23 candidatos apoiados pelo Partido Socialista Democrata, pró-curdo.

O Conselho da Europa, integrado por 47 países, elogiou a organização e a realização do pleito. "Sem dúvida, a eleição foi livre, e espero que ela também tenha sido justa", disse um porta-voz da instituição, que enviara 36 observadores à Turquia.

"Parceiro confiável"

Bruxelas espera que, passadas as eleições, o país acelere suas reformas e cumpra as exigências feitas no âmbito das negociações sobre o ingresso na UE. O ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, classificou o AKP como "parceiro confiável, com clara orientação pró-européia".

Ursula Plassnik, ministra das Relações Exteriores da Áustria, país que tem feito forte oposição ao ingresso da Turquia na UE, interpretou o resultado como um "novo vento pró-europeu em Ancara. Todos desejamos uma Turquia moderna, bem-sucedida, que viva os valores europeus no dia-a-dia", disse.

O ministro britânico das Relações Exteriores, David Miliband, disse que o importante agora é que "toda a Europa estenda a mão ao novo governo turco. Uma situação estável e segura na Turquia é claramente do nosso interesse".

Wahlkampf in der Türkei - AKP
Partido de Erdogan atraiu eleitores do centro na eleiçãoFoto: AP

Erdogan é considerado o único parceiro previsível por Bruxelas, onde diminui o número dos chefes de Estado e de governo favoráveis ao ingresso da Turquia na UE. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, por exemplo, pede um novo debate sobre o sentido das negociações UE-Turquia.

Resistência dos conservadores na Alemanha

Ao contrário de seu antecessor Gehard Schröder, a atual chanceler federal alemã, Angela Merkel (CDU), é contra o pleno ingresso da Turquia na União Européia. Ela apoiou o congelamento de oito dos 35 capítulos das negociações, sob o pretexto de que Ancara bloqueia a união aduaneira do Chipre com a UE.

O porta-voz da bancada da CDU para política externa, Eckart von Klaeden, cobrou do governo turco que finalmente abra seus portos e aeroportos ao Chipre. "Se a Turquia não fizer isso, fornecerá argumentos fáceis para aqueles que querem o quanto antes possível interromper as negociações com a UE", advertiu.

Liberdade de expressão e questão curda

Ancara também não cumpriu até agora várias exigências européias referentes à liberdade de religião e de expressão. O deputado alemão de origem turca Cem Özdemir, integrante da bancada verde do Parlamento Europeu, disse à DW-RADIO que o primeiro passo do novo governo turco deve ser a reforma do artigo 301 do Código Penal, que prevê punições para quem fizer declarações consideradas ofensivas ao país ou ao povo turco e limita a liberdade de opinião.

"Além disso, é necessária uma profunda reforma ou reelaboração da Constituição turca, visto que ela foi escrita pelos militares em 1980", disse Özdemir. Ele considera decisiva também a solução do conflito envolvendo a minoria curda. Erdogan ameaçou invadir o norte do Iraque para combater os rebeldes curdos.

"Essa questão deve ser resolvida pelo Parlamento. Sem um solução da questão curda não haverá uma completa democratização e europeização da Turquia", afirmou Özdemir.

Chance para um novo modelo

As reações da imprensa alemã à eleição também foram majoritariamente positivas. "As elites turcas advertiram nos últimos meses sobre o perigo representado por Erdogan. A maioria dos eleitores turcos não acredita nisso. Com isso, a Turquia tem a chance única de construir um novo modelo, vinculando a democracia ocidental à tradição islâmica", escreveu o jornal Stuttgarter Nachrichten.

Apesar do inegável ceticismo turco em relação aos europeus, segundo o Der Tagesspiegel, de Berlim, "a Europa pode se preparar para uma Turquia que baterá com mais força à sua porta em breve. O importante, a longo prazo, também para a Europa, é que o AKP, um partido conservador-religioso, reformista e pró-europeu, mostrou que tem uma ampla base popular". (gh)