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Os ídolos úteis de Hitler

(av)6 de março de 2007

Uma série da televisão alemã trata de três personalidades ligadas ao regime nazista: o ator Heinz Rühmann, o boxeador Max Schmeling e a cineasta Leni Riefenstahl.

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Leni Riefenstahl no set de filmagemFoto: Presse

A televisão alemã estréia nesta terça-feira (06/03) uma série intitulada Os ídolos úteis de Hitler (Hitlers nützliche Idole). Ela enfoca alguns dos protagonistas do culto à personalidade do regime nazista, tanto na área da cultura como do esporte.

Os três capítulos da série exibida pela cadeia de direito público ZDF enfocam, sucessivamente, o ator Heinz Rühmann, o campeão mundial de boxe Max Schmeling e a diretora de cinema Leni Riefenstahl.

Moral versus poder

Assim a ZDF descreve a nova série: "Eles eram amados por milhões de alemães, a propaganda precisava deles: os ídolos da era nazista, as estrelas de Hitler. Para preservar a bela fachada das aparências, manter o moral do povo, mostrar a tirania de seu melhor ângulo. O Terceiro Reich ofereceu a chance para carreiras meteóricas. Quem se recusasse, arriscava cair em desgraça. Muitos escaparam através da emigração. Quem ficou, teve que ceder à força de atração da ditadura."

Ingenuidade ou oportunismo? Por um lado, o regime de Adolf Hitler se aproveitou da popularidade destas e outras figuras para fins propagandísticos. Por outro, os ídolos não só se prestaram ao culto – pelo menos até certo ponto, voluntariamente – como souberam se beneficiar dele.

Uma das questões centrais que os autores de Os ídolos úteis tentam responder é: que chances tem a moral, na confrontação com o poder?

O ator mais querido

Leni Riefenstahl 100 Jahre alt
Leni Riefenstahl, ao completar 100 anosFoto: AP

As conexões entre Heinz Rühmann (1902-1994) e o nazismo não o impediram de ser escolhido, numa pesquisa de opinião recente, como "o ator mais querido dos alemães".

Já gozando de certa reputação como ator de teatro e de cinema, após a ascensão do partido nazista ao poder, em 1933, Rühmann não fez qualquer tentativa de se distanciar do regime.

Pelo contrário: as comédias inconseqüentes que estrelou, em tempos de terror e genocídio, serviram perfeitamente à causa nazista. Entre 1938 e 1943, integrou o elenco do Teatro Nacional Prussiano de Berlim, sob a direção de Gustaf Gründgens. Em 1940, foi nomeado "ator nacional" (Staatsschauspieler). Apesar de tudo, Rühmann se autodefinia como "apolítico".

Sob pressão do regime, separou-se de sua esposa judia, Maria Bernheim. Seus defensores alegam que desta forma quis proteger a mulher, de quem já vivia separado há muito. Porém outros atores, como Hans Albers e Heinz Moser, permaneceram fiéis a suas parceiras judias, desprezando os nazistas até o fim.

O atleta-modelo

Quax der Bruchpilot wird 80
Heinz Rühmann aos 80 anosFoto: AP

O segundo filme é dedicado ao boxeador Max Schmeling (1905-2005), o "atleta-modelo" de Hitler. Sua vitória contra o "Bombardeiro Marrom", o norte-americano Joe Louis, em 1936, conta entre as maiores lutas do século 20.

A propaganda nazista capitalizou o evento esportivo para seus fins, apresentando-o como uma "batalha de raças, branco contra negro". Contudo, apenas dois anos mais tarde, Schmeling pôde constatar quão efêmera é a glória esportiva. Na revanche, Louis o pôs em nocaute logo no primeiro round.

Em conseqüência, o regime o repudiou, mobilizando-o para a guerra em 1940, como pára-quedista, apesar de toda a fama. Só por um triz o ex-campeão escapou à morte em 1941, numa operação de ataque a Creta, então sob ocupação inglesa.

A feiticeira das imagens

Max Schmeling gestorben
Max Schmeling em 1996Foto: AP

Com a estética de seus documentários, Leni Riefenstahl (1902-2003) determinou como nenhum outro cineasta a imagem do Terceiro Reich. Entre as suas obras mais citadas estão as filmagens da convenção partidária nacional-socialista de 1934 e das Olimpíadas de 1936.

O poder das imagens de Riefenstahl auxiliou os nazistas a seduzir toda uma geração. Apesar de extremamente próxima do Führer, após a guerra ela declarou jamais haver se interessado por política. Até o fim da vida, aos 101 anos, a cineasta não demonstrou qualquer sinal de arrependimento pela colaboração com Hitler.

Os ídolos úteis compara a opção da diretora com a de outros artistas. O austríaco Billy Wilder preferiu emigrar para os Estados Unidos. Por sua vez, a opção de Veit Harlan– autor de Jüd Süss, possivelmente o pior exemplo de propaganda anti-semita do regime nazista – foi semelhante à de Leni Riefenstahl: contra a moral e a favor da carreira.