Extremismo na Noruega
21 de agosto de 2011Alguns estavam sentados ao sol, sobre as pedras da praia, outros se ajoelhavam dentro da água. Uma menina faz como se fosse mergulhar de cabeça: ela mostra a seus familiares e amigos como conseguiu escapar do massacre de 22 de julho, na ilha norueguesa de Utøya.
Os jovens que voltaram ao local da tragédia neste sábado ensolarado (20/08), sobreviveram à matança perpetrada há quase um mês pelo radical de direita Anders Behring Breivik. Sessenta e nove de seus companheiros de acampamento morreram. Pouco antes, um atentado a bomba realizado pelo criminoso no centro de Oslo deixara oito mortos.
De acordo com as autoridades, cerca de 750 pessoas – sobreviventes e pessoas próximas – foram a Utøya neste sábado. No dia anterior, 500 parentes e amigos das vítimas fatais haviam estado na ilha, para ver pela primeira vez ao vivo o lugar do massacre.
Este domingo foi declarado dia nacional de luto na Noruega.
Culpa por ter sobrevivido
A viagem de barco deste sábado à ilha foi o momento mais difícil para muitos jovens, contou o chefe da autoridade de saúde estatal, Bjørn-Inge Larsen. "Mas eles precisavam se certificar que Utøya não é um lugar perigoso".
"Eu queria voltar a Utøya para guardar na memória uma lembrança diferente do evento de 22 de julho, em que só havia gritos, pânico e sofrimento. Voltar me fez mais bem do que eu esperava", diz Per Anders Langerød, de 22 anos, que durante o ataque se escondeu entre as pedras e depois se atirou no lago.
"Na verdade eu não queria vir. Tinha decidido nunca mais voltar aqui. Mas agora estou contente por ter vindo", disse a sobrevivente Jorid Nordmelan.
"Uma democracia mais forte ainda"
Contudo, para a maioria, o principal desafio não é o regresso à ilha, mas sim o regresso à vida normal. "Eles precisam voltar à escola, encontrar-se com amigos que não partilharam esse sofrimento com eles e que não o compreendem", diz a psiquiatra juvenil Grete Dyb. Falar com outros amigos que passaram pelo mesmo drama também pode ajudar muito.
Muitos dos sobreviventes lutam para voltar à normalidade. "Congratulo-me a mim mesma toda vez que faço algo normal", conta Ingrid Endrerud, de 18 anos. Como muitos de seus companheiros, ela ainda não tirou a pulseira vermelha e branca do acampamento de Utøya. E adiou a mudança para a França para depois da campanha eleitoral. "É bom ter algo para fazer", garantiu. Não abandonar o engajamento político é uma espécie de terapia para muitos sobreviventes.
Prableen Kaur também se engajou totalmente na campanha. "A nossa resposta tem que ser uma democracia mais forte aidna. Por isso esperamos que as pessoas exerçam seu direito de voto", escreveu a jovem com um vistoso turbante em seu blog. "Nossa sociedade precisa seguir sendo aberta."
Breivik de volta ao tribunal
Enquanto isso, um tribunal de Oslo decidiu na sexta-feira que o atirador deve permanecer em confinamento solitário até 19 de setembro.
O limite de quatro semanas de isolamento expiraria nesta segunda-feira, porém a polícia pediu permissão para manter Anders Behring Breivik por mais tempo, a fim de evitar que evidências relativas ao crime sejam adulteradas.
Breivik deve permanecer na prisão até seu julgamento, no ano que vem, embora em condições de confinamento menos rígidas.
O terrorista de extrema direita, de 32 anos, confessou ter sido responsável pelo massacre na ilha de Utøya, bem como por ter detonado um carro bomba no centro de Oslo, matando oito pessoas poucas horas antes.
FF/dpa/afp/rtr
Revisão: Augusto Valente