Sinal vermelho para bombas-relógio flutuantes
7 de dezembro de 2002Há mais de duas semanas, milhares de voluntários espanhóis e estrangeiros, equipes técnicas de defesa civil e navios especiais lutam contra as massas de óleo pesado, tóxico e fedorento, que já contaminaram centenas de quilômetros da costa da Espanha e ameaçam Portugal e França, tendo causado a morte de incontáveis aves.
A catástrofe ecológica, conseqüência do naufrágio do decrépito Prestige, um navio que já contava 26 anos e abrigava em seu casco simples 77 mil toneladas de óleo pesado, não apenas repetiu como potenciou um cenário que a Europa vivera há três anos, quando o petroleiro Erika naufragou diante da costa francesa. E ela está longe de chegar ao fim: o óleo continua vazando do casco submerso: especialistas calculam que 40 mil a 55 mil toneladas já poluíram as águas.
União Européia reage
Sob o impacto do desastre, os ministros dos Transportes da União Européia, em encontro realizado em Bruxelas na sexta-feira (06), decidiram proibir a circulação pelas águas da comunidade de navios de casco simples com carregamento de óleo pesado, alcatrão e betume. As correspondentes portarias serão publicadas pelos governos dos países-membros. A medida deverá ser aprovada já na cúpula de Copenhague, nos dias 12 e 13 de dezembro, e entrar em vigor a 1º de janeiro.
Uma chamada "lista negra", divulgada no início desta semana pela Comissão Européia, contém o nome de 66 navios considerados potencialmente perigosos. As autoridades européias calculam que 15% de todos os transportes de petróleo do mundo são feitos em navios desse tipo. "Queremos expulsar essas bombas-relógio ecológicas de nossas águas", declarou Loyola de Palacio, comissária dos Transportes da comunidade .
Os planos da comissária prevêem a proibição na UE, até 2010, de todos os navios de casco simples com mais de 15 anos de funcionamento, independentemente da carga a bordo. Os acordos internacionais atualmente vigentes permitem a circulação desses navios até 2015. A proibição deverá se estender ainda a todos os navios-tanques de mais de 23 anos.
Greenpeace critica
A organização ambientalista Greenpeace considera insuficientes as medidas deliberadas pela UE. A intenção de proibir os navios de casco simples para o transporte de óleo pesado deveria ser ampliada e incluir todas as substâncias perigosas. "Quase não faz diferença se o litoral é poluído por óleo pesado, óleo cru ou outras substâncias tóxicas", declarou em Hamburgo Christian Bussau, da ONG. A passagem de navios-tanques por zonas ecologicamente sensíveis deveria ser interditada, e os causadores de desastres com conseqüências para o meio ambiente, plenamente responsabilizados, pleiteia a organização.