Philip Glass estréia ópera em Erfurt
10 de setembro de 2005Erfurt, uma pequena cidade no Estado de Turíngia, entrou para o mapa mundial da ópera com a estréia internacional do novo trabalho do compositor minimalista norte-americano Philip Glass.
Esperando os Bárbaros, uma alegoria sobre opressores e oprimidos baseada no romance do sul-africano John Maxwell Coetzee, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 2003, teve sua primeira apresentação no sábado (10/09) no novo Teatro Municipal de Erfurt.
O teatro, dirigido por Guy Montavon, encomendou o trabalho, que é a décima quinta ópera da carreira de Glass.
Crueldade na fronteira
O protagonista da história, o magistrado, é um leal servo do império, há anos responsável pela administração de um pequeno povoado na fronteira de um país de nome desconhecido e que ignorou a ameaçadora onipresente de uma guerra com os "bárbaros", um povo nômade demonizado pelo regime que ele próprio representa.
Chocado com o cruel e injusto tratamento dos prisioneiros de guerra, o magistrado comete um quixotesco ato de rebelião que lhe vale o título de inimigo do Estado e o torna um objeto de humilhação pública e tortura.
Segundo Montavon, diretor do teatro, a ópera – cujo libreto foi escrito por Christopher Hampton (roteirista de filmes como Ligações Perigosas) – tem duas horas de duração e é dividida em 20 cenas, seguindo à risca o livro em que foi baseado. Por enquanto, estão previstas seis apresentações.
O barítono britânico Richard Salter foi escolhido para representar o papel principal, enquanto o cruel Coronel Joll é interpretado pelo barítono norte-americano Eugene Perry, que já participou de vários trabalhos de Glass.
"A música de Philip Glass é muito harmônica e fácil de ouvir", elogia Montavon.
Alegoria da guerra do Iraque
O compositor vê o trabalho como uma crítica à guerra no Iraque empreendida pelo presidente George W. Bush – motivo pelo qual Glass muito se surpreendeu ao receber um convite de um teatro de Austin, no Texas, para estrear a ópera nos EUA.
"Ficamos realmente muito surpresos", disse Glass à agência de notícias alemã dpa. "Mas Austin não é o Texas", disse, adicionando que a política de Bush não é mais tão criticada hoje em dia quanto foi no início da guerra.
Glass elogiou o Teatro de Erfurt por receber o trabalho e pelo comprometimento com a música contemporânea em geral. Ele também destacou as qualidades musicais do teatro, afirmando que o coro e a orquestra não tiveram dificuldade alguma para recriar seu universo sonoro.
"Este tipo de abertura não é fácil de encontrar em outros teatros", disse.
Projeto ambicioso
Erfurt consegiu atrair o maestro norte-americano Dennis Russel Davies – que conduziu vários dos trabalhos anteriores de Glass – para a produção. "Ele é o melhor 'parteiro' para os meus trabalhos", ressaltou Glass.
Os cenários foram desenhados pelo artista russo George Tsypin, e os figurinos são do estilista alemão Hank Irwin Kittel.
Glass disse que sempre gosta de manter contato com teatros que apresentam seus trabalhos e afirmou que poderia até voltar a Erfurt futuramente.
Aberto em setembro de 2003, o Teatro Municipal de Erfurt levou quatro anos para ser construído. Ele é composto de um auditório principal com 800 lugares e de um palco menor, com capacidade para 200 pessoas.
Trata-se do primeiro teatro construído na ex-Alemanha Oriental desde 1960 e da maior casa de espetáculos construída em toda a Alemanha desde 1995.
Haverá apresentações adicionais de Esperando os Bárbaros nos dias 17, 24 e 30 de setembro e 16 e 26 de outubro.