Colônia: lar de músicos autônomos
14 de junho de 2005Quando a Quinta Sinfonia de Gustav Mahler estreou em 1904 em Colônia, ninguém podia imaginar que seu adagietto se tornaria uma das passagens mais populares da música clássica no século 20.
O diretor italiano de cinema Lucchino Visconti aproveitou a composição suave e meditativa como trilha sonora para sua filmagem do clássico de Thomas Mann: Morte em Veneza, nascimento em Colônia. Sua atmosfera mórbida e erótica casou perfeitamente com a composição de Mahler.
"Pelo menos desde a construção da Filarmônica, há quase 20 anos, Colônia é tida como a cidade musical por excelência da Alemanha", conta Christoph Spering, diretor da casa. "A maioria dos músicos autônomos vive em Colônia e temos que levar em consideração o número de habitantes dessa cidade – a população de Colônia não passa de um milhão", avalia.
"Temos três orquestras – grandes orquestras. O WDR [canal regional de televisão pública] tem duas e a Orquestra Gürzenich, que exibe tanto óperas como concertos, é uma das maiores da Alemanha, com 120 músicos empregados".
Instrumentos antigos
Spering é um dos músicos que vivem na cidade às margens do Reno. Ele é diretor da "nova orquestra", como a filarmônica ficou conhecida na cidade. A casa se financia às custas da venda de ingressos e CDs, e da ajuda da prefeitura e de fundações regionais de apoio à música.
Sua especialidade é a reprodução musical com instrumentos antigos e Spering é um dos especialistas no gênero histórico. "Essa orquestra foi fundada em 1986 para interpretar a música posterior ao período barroco. Claro que tocamos também a música barroca, mas nos especializamos no Romantismo".
Concorrência
Spering e os músicos de sua orquestra são convidados freqüentes na vizinha Essen, mas em Colônia mesmo suas apresentações são mais raras. O motivo é a concorrência que reina na cidade.
Colônia possui uma miríade de grupos menores, também especializados em interpretações históricas. O Cappella Coloniensis existe há mais de 50 anos e outros grupos como Concerto Köln e musica antiqua também são quase instituições.
Para se distinguir da concorrência, vale tudo. Markus Stenz, diretor musical da Orquestra Gürzenich, oferece via de regra um terceiro ato após seus espetáculos: o conteúdo, diga-se de passagem, permanece um segredo até a hora da apresentação.
Ópera precisa de reforma
Stenz, como bom cidadão da cidade, também ama a Filarmônica. "Colônia é uma cidade cultural, com tradição cultural, e esta é uma orquestra de tradição. Foi nesta cidade que estreou a Quinta Sinfonia de Mahler, em uma orquestra que, por décadas, conseguiu provar que merece ser citada entre as melhores. Qualquer músico ou maestro se alegra em poder tocar na Filarmônica. O mesmo se poderia dizer da Ópera de Colônia: as possibilidades estão aí, só falta torná-la atrativa".
A desilusão nas palavras de Stenz reflete a má fama da Ópera de Colônia entre especialistas: apesar de algumas boas apresentações, a casa tem deixado a desejar e permanece um tanto imprevisível, tanto na escolha das peças quanto na qualidade da execução.
Stenz quer mudar isso. Para tanto, escolheu a dedo obras do compositor Hans-Werner Henze. "O maestro Günter Wand foi um marco na história musical dessa cidade, com seus concertos do pós-guerra. Trabalhamos com uma ambição semelhante em nossos concertos na Filarmônica. Lá já se pode ver um arco-íris brilhar."