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Paz mundial em alta

Michael Knigge / sv1 de setembro de 2004

Segundo o Instituto de Pesquisa sobre a Paz, sediado em Estocolmo, o mundo está hoje mais pacífico que nos anos 90. A DW-WORLD conversou com a diretora da instituição sobre os motivos que levaram à tal conclusão.

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Violência no Iraque: faltam dados sobre número de vítimasFoto: AP

DW-WORLD: Como a senhora explica o que, aparentemente, é uma contradição: o fato de que o número de vítimas de guerra tenha diminuído no mundo, apesar dos grandes conflitos no Iraque e no Afeganistão?

Alyson J.K. Bailes: O número de conflitos armados e de mortos em conseqüência de guerras diminuiu em relação ao início da década de 90. Esses números precisam, contudo, ser analisados com cuidado, pois os dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa sobre a Paz (SIPRI) se referem apenas às vítimas da violência humana em situações de conflito. Ou seja, aqueles que morrem em conseqüência de fome, enfermidades ou migração forçada não estão incluídos aí. Mesmo assim, é pertinente classificar os conflitos tradicionais como um fenômeno decrescente. E salientar que, através de modernos métodos de intervenção e combate, foi possível reduzir o número de vítimas.

Na sua opinião, o mundo está hoje mais pacífico que há cinco anos atrás?

Eu pessoalmente acredito que o mundo está hoje mais pacífico que há cinco ou dez anos atrás, o que pode ser detectado quando se observa os conflitos armados tradicionais e até mesmo o número de vítimas da violência aberta, como dos atos terroristas. Pessoalmente prefiro também uma definição mais ampla do que seja segurança, a partir da qual se reconheça que não haverá paz verdadeira enquanto não combatermos os riscos de enfermidades, fome, pobreza, violência social, intolerância e destruição ambiental, da mesma forma como combatemos os conflitos abertos.

Como a senhora faria uma comparação entre as situações na Europa, África, Ásia e América Latina?

Acho muito interessante que grandes grupos de países na África, no Sudeste e Sudoeste Asiático, bem como nas Américas Central e do Sul, tenham sido levados, pelos acontecimentos dos últimos anos, a estabelecer cooperações regionais mais estreitas e a enfrentar ameaças – tanto militares quanto não militares – em suas respectivas regiões.

Essas tendências são um reflexo dos esforços da União Européia em desenvolver uma visão coesa, independente e estratégica. Muitas outras instituições tomam a UE explicitamente como modelo. As regiões mais perigosas são aquelas nas quais até agora não há nenhuma espécie de "reflexo de solidariedade". Regiões onde os países dão teimosamente curso a seus próprios conflitos locais ou a ameaças "assimétricas" contra os EUA, como faz a Coréia do Norte, por exemplo.

Quais são suas previsões a respeito da situação no Iraque?

Não faço previsões para o Iraque – tenho apenas medos e esperanças. O futuro caminho para o país inclui cada vez mais um controle independente dos iraquianos sobre suas próprias coisas. Não deveríamos subestimar a capacidade e as vantagens que eles têm em relação às forças de ocupação. Um exemplo: o governo de transição já foi posto à prova, ao tentar estabelecer uma forma correta para o Iraque se relacionar com seus países vizinhos. A isso pode-se ainda acrescentar que todas as soluções boas e duradouras para os conflitos são também soluções locais.

Mas a principal questão é se o governo, a partir de então, poderá representar ao mesmo tempo as diversas comunidades presentes no Iraque. E se estará em condições de fortalecer a unidade do país. Ninguém de fora pode saber com exatidão o que será necessário para isso. Na condição de observadores externos, temos que ser extremamente cuidadosos, a fim de evitar qualquer imposição ou distorção nesse processo.