Quarteto perdido entre a realidade e o trivial
4 de maio de 2004A “rota da paz” (road map) para o Oriente Médio permanece sendo o fundamento básico para aplainar os conflitos na região. O road map foi esboçado através de uma avaliação de norte-americanos, europeus, russos e representantes da ONU. Somente o que for, de alguma forma, conciliável com a proposta deste “Quarteto” tem possibilidades de obter apoio internacional.
O que não significa que o plano venha a ser implementado. Isso pôde ser percebido claramente nas últimas semanas, quando o primeiro-ministro israelense Ariel Sharon embarcou para os EUA, não apenas com o objetivo de receber a bênção norte-americana para deixar a Faixa de Gaza.
Objetivos "compatíveis"?
O premiê foi, em princípio, buscar o apoio de Bush para que Israel, em um acordo de paz final, “obviamente” não precise deixar todos os territórios ocupados em 1967. E isso ainda é considerado “compatível com o road map” – embora esse plano apóie claramente os acordos israelense-palestinos, não as medidas unilaterais e muito menos as tentativas de influência externa.
Como próximo passo, Sharon levou então o Plano de Gaza para a aprovação dentro do seu partido e acabou naufragando: após a rejeição por parte da própria facção, Sharon resolveu modificar a "rota". Momento então em que os palestinos passaram a contestar tudo o que tivesse a ver com o Plano de Gaza. Ao invés de aceitar pelo menos o que poderiam: uma primeira retirada israelense.
Passo na direção certa
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, saiu do dilema pelo menos com um ponto a seu favor: o fato de que o plano de retirada pode ser visto, no mínimo, como um passo na direção certa, como afirmou o próprio Annan durante um encontro do "Quarteto do Oriente Médio" em Nova York. A questão seria apenas saber como esses passos poderiam ser amarrados a partir de agora. E isso é necessário? Sharon e a maioria dos israelenses querem se ver livres de Gaza. Por que impedi-los?
O Quarteto não estará em condições de oferecer qualquer solução ou saída, pois essa frágil aliança dos EUA, ONU, UE e Rússia, que pretende estabelecer um consenso internacional sobre a questão do Oriente Médio, só consegue agir de forma muito limitada. Falta realmente uma linha comum. E falta também determinação para estabelecer propósitos comuns e levá-los a cabo.
Falta de interesse real
É claro que a paz no Oriente Médio não pode ser imposta de fora – nem pelos EUA, nem pela ONU e nem pelo Quarteto. Mas se a comunidade internacional tivesse um interesse mais sério pela questão, ela poderia, sim, fazer com que houvesse uma união e um engajamento maior no caso. Ao invés disso, ela se deixa atropelar pelos acontecimentos.
Meses antes das eleições presidenciais nos EUA, a situação ainda se agrava com o fato de que o principal parceiro deste Quarteto – os EUA – nos próximos tempos, poderá ser ainda menos cogitado como um mediador neutro ou promotor da paz na região do que tem sido sob os auspícios deste atual presidente.
Por fim, a respeito do próprio road map: Esta rota da paz não é nenhum projeto revolucionário ou visionário para o Oriente Médio, mas apenas a junção de algumas trivialidades válidas tanto para a região quanto para quaisquer outros lugares: por exemplo, o fato de que a paz só pode ser estabelecida através da devolução de territórios ocupados, de um fim da violência e de uma compreensão mútua. Muito bem. E como chegar até aí? O Quarteto em Nova York também não irá encontrar nenhuma resposta.