Os europeus contra-atacam
25 de fevereiro de 2003O texto em oposição ao projeto de resolução sobre o Iraque feito pelos EUA, Grã-Bretanha e Espanha foi elaborado por Alemanha e França. Ele conta com o apoio da Rússia e da China e foi apresentado nesta segunda-feira (24) aos 15 membros do Conselho de Segurança da ONU.
Num encontro na noite desta segunda-feira, num restaurante com o sugestivo nome Em Última Instância (In letzter Instanz), em Berlim, o chanceler federal alemão e o presidente francês adiantaram que a intenção do documento é dar mais tempo aos inspetores da ONU. Sem citar um prazo limite, preferem deixar a decisão neste sentido aos próprios inspetores.
Gerhard Schröder e Jacques Chirac consideram desnecessária uma segunda resolução, cujo projeto foi apresentado também nesta segunda-feira ao Conselho de Segurança. O presidente da França destacou que, embora o Iraque represente um perigo para a região e, talvez, para todo o mundo, não há necessidade de alterar a atual postura da ONU.
"Mesmo assim permanece a necessidade de obrigá-lo a acabar com as armas de destruição em massa. Isso tem de ocorrer de forma pacífica. A guerra é a pior solução dos pontos de vista político, econômico, humano e moral. A guerra sempre significa o fracasso", advertiu Jacques Chirac.
Guerra enraizada na consciência coletiva européia
Gerhard Schröder justificou assim os motivos da aliança Berlim-Paris: "Talvez o que difere a velha e boa Europa dos outros é que o verdadeiro significado de uma guerra está profundamente enraizado na consciência coletiva dos povos europeus. Neste contexto, talvez se possa entender melhor o que une alemães e franceses na esperança, na expectativa e na luta pelo desarmamento pacífico do Iraque".
O curto encontro, durante um jantar à base de chucrute e joelho de porco, também teve a presença dos ministros do Exterior, Joschka Fischer e Dominique de Villepin. Fischer, aliás, estará em Londres nesta terça-feira para explicar a sugestão teuto-francesa ao colega de pasta britânico.
A proposta de resolução apresentada sob a liderança dos EUA afirma que o "Iraque deixou de aproveitar sua última oportunidade oferecida pela resolução 1441 para se desarmar". A resolução, que os Estados Unidos pretendem ver aprovada até meados de março, legitimaria a guerra, apoiando-se no argumento de que Bagdá não teria cumprido as exigências da ONU de se desarmar.
Alemanha, França e Rússia, pelo contrário, não vêem justificativa para o uso de força contra o governo de Bagdá. Seu memorando sugere ao Conselho de Segurança a concentração de esforços para que a solução pacífica da crise tenha uma chance real.
Para isso, recomendam a manutenção da unidade do Conselho e o aumento da pressão sobre o Iraque. Os inspetores Hans Blix e Mohammed El Baradei elaborariam um cronograma para as medidas a serem ainda cumpridas pelo Iraque. Regularmente, eles apresentariam relatórios sobre os avanços dos controles ao Conselho de Segurança.
O próprio inspetor-chefe das Nações Unidas já não descarta mais o uso de força contra Saddam Hussein. Numa entrevista à revista norte-americana Time, Hans Blix disse que "naturalmente o governo de Bagdá não tem credibilidade" e que "a diplomacia eventualmente terá de ter o apoio da violência". O novo relatório dos inspetores será apresentado ao Conselho de Segurança das Nações Unidas no dia 7 de março.
União Européia dividida
– A falta de um consenso da comunidade dos 15 em relação ao Iraque havia ficado clara mais uma vez, ontem, no encontro dos ministros do Exterior da União Européia, em Bruxelas. Enquanto os representantes da Alemanha e da França apostaram novamente na pressão pacífica, o britânico Jack Straw anunciou a sugestão de nova resolução, apresentada ao Conselho em conjunto com os Estados Unidos e a Espanha. O conselho de ministros do Exterior da comunidade continua reunido nesta terça-feira (25). Além do Iraque, estão em pauta a situação no Oriente Médio e nos Bálcãs.