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O próximo dilema

mw24 de fevereiro de 2003

Berlim deve receber novo pedido de armamento para defesa da Turquia. Mais uma vez o governo alemão terá de optar entre resistir à escalada bélica e cumprir suas obrigações de membro da Otan.

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Veículo lançador de mísseis Patriot: mais uma dor de cabeça para SchröderFoto: AP

Os especialistas em assuntos militares não têm dúvidas. O chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, terá de mostrar em breve mais uma vez seus dotes de malabarista político. Uma comissão da Otan deve apresentar nos próximos dias seu plano para proteção da Turquia. O relatório definirá quais e quantos armamentos deverão ser colocados à disposição do aliado euro-asiático. Sistemas de reconhecimento e defesa antiaérea e equipamentos de combate a armas biológicas e químicas certamente constarão da lista.

E as Forças Armadas alemãs são das melhores equipadas com armamentos deste tipo, tais como aeronaves de reconhecimento Awacs, baterias de mísseis antiaéreos Patriot, o blindado Fuchs e aviões-tanque para reabastecimento de caças em pleno vôo. Dificilmente a Bundeswehr escapará de ser chamada a contribuir em boa parte com seu arsenal.

Awacs já estão a caminho

Após resistir durante longo tempo ao lado da França e da Bélgica, a Alemanha teve de ceder há pouco mais de uma semana e admitir o início do preparativos da Otan para proteger a aliada Turquia no caso de uma guerra no Iraque. A muito custo, depois de acusado de não cumprir suas obrigações como membro da aliança militar, Schröder autorizou a presença de soldados alemães a bordo de aviões Awacs, que deverão vigiar o espaço aéreo turco.

AWACS Flugzeug in der Luft mit blauer Himmel
Um Awacs parte de Geilenkirchen rumo à Turquia, nesta segunda-feira (24/2)Foto: AP

Os Awacs são aviões Boeing 707 equipados com poderosos sistemas de radar. Ao todo, a Otan possui 17 deles estacionados em Geilenkirchen, na fronteira alemã com a Holanda. Um terço dos tripulantes vem da Bundeswehr, as Forças Armadas da Alemanha. Segundo dados não oficiais, cinco aeronaves seguirão nos próximos dias para o país vizinho ao Iraque. A bordo, mais de 50 militares alemães.

Para poder liberar a presença da Bundeswehr na missão e resguardar sua promessa de não participação da Alemanha num ataque ao Iraque, Schröder restringiu a atuação de seus soldados apenas à vigilância e à proteção do território e do espaço aéreo turco. Teoricamente eles não podem contribuir na identificação de alvos do outro lado da fronteira. Se é que é possível cumprir uma ordem desta.

Queda de braço pelos Patriot

Quanto aos Patriot, o líder social-democrata conseguiu contornar até agora a situação. A fim de não enviar soldados para o território turco, Schröder emprestou 46 mísseis para a Holanda, para municiar suas baterias a serem transferidas para a Turquia. As Forças Armadas holandesas possuem quatro baterias Patriot. Cada uma é composta por oito veículos lançadores, cada qual com quatro mísseis, assim como uma central de comando e radar de busca e condução de projétil. Sua operação envolve o engajamento de uma centena de soldados.

Atrás dos Estados Unidos, a Alemanha é porém o país da Otan com maior número de baterias Patriot, ao todo 36, resquício ainda da Guerra Fria. Mas as Forças Armadas americanas vão precisar de todas as suas para própria proteção. E na Europa, além da Alemanha e da Holanda, somente a Grécia possui duas baterias. Os demais membros da aliança transatlântica não dispõem deste caro armamento.

Pelo menos 10 baterias e mil soldados

Para proteger as centenas de quilômetros da fronteira turco-iraquiana, certamente a Otan reivindicará baterias alemãs. Duas delas já estão emprestadas a Israel e outras quatro estão à venda, sendo disputadas pela Holanda, Grécia e Espanha. Restam 30. Nos meios militares, calcula-se que pelo menos 10 serão solicitadas pelo comando da aliança em Bruxelas.

Como Schröder reagirá ao provável pedido, é ainda uma incógnita. Embora não diga abertamente, ele parece não ver a Turquia como inocente candidata a vítima de um contra-ataque iraquiano, mas como um país que deve assumir os riscos de permitir aos EUA o uso de seu território como base para ataques ao vizinho. Caso receba o pedido da Otan, o governo alemão terá de submetê-lo ao parlamento, pois missões da Bundeswehr no exterior dependem do crivo do Bundestag.

Aliados têm alternativa para blindados Fuchs

Deutscher Spürpanzer Fuchs
O blindado Fuchs, próprio para reconhecimento e combate de armas atômicas, biológicas e químicasFoto: AP

O mesmo ocorreria se houver o requerimento dos blindados Fuchs. Atualmente, seis deles – acompanhados de 57 soldados – já estão no Kuwait, como parte da operação Liberdade Duradoura, de combate ao terrorismo. Mas se houver a guerra, o significado político de sua presença no país vizinho ao Iraque muda imediatamente. Até agora, o Ministério da Defesa tem reafirmado que não os retirará do Kuwait, mas que eles também não atravessarão a fronteira.

Considerados entre os melhores no reconhecimento e combate a arsenais de armas atômicas, químicas e biológicas, os blindados Fuchs são fortes candidatos a serem chamados para reforçar a defesa da Turquia. Mas ao menos nesta área a Alemanha não é a única capaz de contribuir. Segundo fontes militares, os aliados Polônia e República Tcheca também possuem bons equipamentos similares.