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EducaçãoBrasil

Os desafios do aluno da rede pública no ensino superior

Vinícius de Andrade
Vinícius De Andrade
27 de maio de 2021

Parece que os professores universitários não sabem como são as escolas públicas e ainda estão despreparados para o novo público que está tomando conta das universidades.

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Auditório da USP
Desafios de estudantes do ensino público não acabam com ingresso na universidadeFoto: DW/N. Pontes

É inegável que estamos avançando, ainda que não na velocidade ideal, em relação ao aumento da representatividade de alunos oriundos da rede pública no ensino superior, especialmente nas universidades públicas. Sabemos também o quanto o caminho de ingresso deles é árduo e repleto de desafios. Porém, pouco se fala sobre o que acontece quando ingressam na universidade.

Os desafios continuam? Estarão em pé de equidade com seus colegas oriundos da rede privada? Terão suas demandas representadas e consideradas por seus professores?

Infelizmente, o modelo atual de ensino na rede pública não instiga o estudante a ser um agente ativo no processo de aprendizagem. Já na universidade, ou ele é ativo ou haverá uma grande chance de reprovar nas disciplinas. No entanto, a adaptação não é assim tão fácil e, geralmente, leva um tempo para encontrar a forma ideal de estudar. "Nossa, assim que entrei tomei um susto, reprovei em quase 50% das matérias", diz uma estudante de matemática da Unesp.

Somado a isso, enfrentam outra dificuldade: a expectativa dos professores em relação a assuntos que supõem que todos os discentes já saibam. Essa expectativa foi um grande desafio para Geovanna, estudante da Ufscar, como dito por ela: "Acho que uma dificuldade que tive foi que vi que várias pessoas da minha turma sabiam bastante de matérias do ensino médio e muitas dessas matérias são base para estudar outras coisas e eu costumava ficar sem saber algumas vezes coisas básicas nos exercícios e atividades".

É quase como se os professores universitários não soubessem como são as escolas públicas atuais e ainda não estivessem preparados para o novo público que está tomando conta das universidades. Essa expectativa irreal não se resume aos conteúdos, mas também se manifesta de outras formas.

Daiane foi aprovada em Direito na USP, e o curso é integral, mas, diferentemente da maioria dos seus colegas, ela também tem outras responsabilidades, como tarefas domésticas. "Eu sinto que os outros estudantes têm muito mais tempo do que eu. Eles sempre leem mais textos, como se não precisassem fazer as mesmas coisas que eu. Cada aula é um baque, e você se sente inferior intelectualmente aos demais". Ela continua: "Entrei em uma aula, e o professor perguntou se todos tinham lido o texto. A maioria disse que sim, e o professor disse que era um texto tão simples e que dava para ler no almoço, mas na hora do almoço eu faço a comida e arrumo a cozinha. Daí começo a me cobrar e me sentir culpada por meus colegas conseguirem e eu não."

As dificuldades não se resumem somente às diferenças em relação à disponibilidade de tempo. "E já no primeiro semestre os professores passaram livros em inglês que sequer tinham tradução. Isso porque umas dez pessoas de uma turma de 40 falaram que dava para ler, a grande parte que não sabe fica com vergonha ou se sente mal em dizer que não sabe e não consegue", disse Geovanna, estudante de Direito na UERN.

Isso me faz pensar sobre o perfil de estudante que consideram para fazer o plano da disciplina. Entendo, pensando friamente, que até pouco tempo atrás a imensa maioria dos discentes eram oriundos da rede privada, e nesse contexto era completamente comum inferir um conhecimento básico de disciplinas do ensino médio, de línguas e esperar que o estudante fosse um agente ativo no seu próprio processo de aprendizagem. No entanto, manter essas expectativas no cenário atual, em que o público da universidade está muito mais heterogêneo, faz com que boa parte deles se sintam não representados e acolhidos. Faz com que eles criem expectativas irreais sobre suas próprias capacidades e isso, muitas vezes, gera um sentimento de incapacidade.

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Vozes da Educação é uma coluna quinzenal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do Salvaguarda no Instagram em @salvaguarda1

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A coluna quinzenal é escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade.