A partir desta semana ficamos sabendo: Donald Trump é capaz de ler textos de discurso mais longos em um teleprompter sem ser ofensivo. Em meio ao espanto generalizado por esse fato, contudo, um ponto importante de conteúdo passou quase despercebido: o anúncio do 45º presidente dos Estados Unidos de que elevará os gastos armamentistas nacionais em respeitáveis 54 bilhões de dólares.
Sozinho, esse investimento adicional corresponde aproximadamente ao orçamento militar anual da Rússia, e quase o dobro do que a Alemanha gasta com defesa. O próprio Trump falou de "um dos maiores aumentos dos gastos de defesa da história americana" – os quais, com 550 bilhões de dólares, já são, de longe, os maiores do mundo. Para chegar a tal montante, é preciso somar os orçamentos armamentistas dos sete países seguintes no ranking mundial.
A justificativa do republicano é que "a América precisa voltar a ganhar guerras". No entanto, quando as Forças Armadas americanas expulsaram os talibãs de Cabul, deram fim ao regime de Saddam Hussein no Iraque ou apoiaram decididamente a derrubada de Muammar Kadafi na Líbia, sua superioridade militar já era esmagadora. As vitórias que Trump exige agora de seus soldados já aconteceram anos atrás.
Mas, se as guerras foram vencidas, a paz foi perdida. E justo pelo foco míope em soluções militares alegadamente simples, ao mesmo tempo negligenciando uma estratégia política sustentável. O resultado foram conflitos assimétricos com protagonistas não estatais, ascensão do terrorismo, colapso das estruturas estatais e mais terror.
Estranhamente, Trump criticou as aventuras militares do passado recente, precisamente por seus custos gigantescos, sem render êxitos visíveis. Mas, se no futuro ele pretende se guiar pela cautela nas intervenções militares, para que se armar? Por que gastar mais com o setor militar, se quer reduzir as custosas missões no exterior?
Os investimentos em equipamento e software militar serão financiados por cortes orçamentários, justamente no Departamento de Estado e na ajuda para o desenvolvimento. Enfraquecer a diplomacia e o diálogo e fortalecer os militares certamente não é uma receita viável para um futuro mais pacífico.
Mais armas, sozinhas, não fazem o mundo mais seguro. Nem fora dos EUA e menos ainda no próprio país. O ano de 2017 ainda é jovem, mas nos primeiros dois meses mais de 2 mil cidadãos já perderam a vida por meio de armas de fogo nos EUA.
A indústria armamentista é a única que lucra com mais armas. O anúncio de Trump deu um novo impulso às ações dos conglomerados multinacionais. E isso considerando-se que, nos últimos cinco anos, as ações da Lockheed Martin, General Dynamic ou Northrop Grumman, por exemplo, já se valorizam mais de duas vezes a mais do que o total do mercado, segundo o índice de valores da Standard & Poor's, que reúne as 500 maiores empresas americanas cotadas na bolsa de valores.