A piada que mais circulava nos escritórios da Alemanha nesta manhã de quarta-feira (19/09) diz o seguinte: "Agora eu vou fazer besteira mesmo para finalmente conseguir a minha promoção daqui a duas semanas". Aos eleitores só resta balançar a cabeça em desaprovação diante do teatro oferecido em Berlim. Muitos estão realmente irritados. Afinal, uma pessoa é apresentada como um perigo para democracia, ao longo de dias, e aí ganha uma promoção – e isso foi decidido numa reunião da cúpula do governo. Não é todo mundo que merece tamanha distinção.
Que o chefe do serviço secreto interno da Alemanha tenha que deixar o cargo mais cedo não é nada fora do comum: oito dos 13 que já ocuparam o cargo tiveram esse destino. A novidade é que o caso Maassen tenha virado crise de governo.
Assim como as guerras, as crises de governo não irrompem de uma hora para a outra – elas são criadas. E a maioria de forma intencional e maldosa. A atual é um bom exemplo. Sem necessidade, o parceiro de coalizão da chanceler federal Angela Merkel, o Partido Social-Democrata (SPD), esquentou o tema. Se alguém deveria se sentir atingido pelas declarações de Hans-Georg Maassen, seria então a própria Merkel. Afinal, foi a análise dela sobre os acontecimentos em Chemnitz que ele colocou em questão.
A presidente do SPD, Andrea Nahles, poderia ter imaginado que, ao exigir a cabeça de Maassen, acabaria como derrotada. Já na semana passada, Maassen havia declarado, autoconfiante: o ministro do Interior, Horst Seehofer, lhe dissera que se ele – Maassen – fosse mandado embora, então o próprio Seehofer cairia. Certo. E Nahles poderia saber que justamente isso não aconteceria quando faltam apenas quatro semanas para a eleição estadual na Baviera. Ninguém precisa estudar política para saber disso.
Assim, é o SPD que vai pagar a maior parte da conta por esse teatro – já agora, na eleição bávara, seremos todos testemunhas de uma queda nunca antes vista. E já agora Nahles aparece como perdedora: um vice do SPD no Ministério do Interior foi aposentado para abrir lugar para Maassen.
Mas Merkel e Seehofer também não têm motivos para se alegrar. Bom, Seehofer alimentou o próprio ego mais uma vez. Só que isso não ajuda nem o país nem a desesperada União Social Cristã (CSU), o partido dele. E Merkel, mais uma vez, fez aquilo que distingue a política dela: encontrou uma solução para o momento sem pensar nas consequências que isso terá amanhã.
Pois a reedição da grande coalizão de governo – que nem é mais tão grande assim – serviu a apenas um propósito: bloquear a chegada do partido populista de direita AfD ao governo e impedir novas eleições, que certamente fortaleceriam ainda mais a ascensão da AfD.
E agora? A coalizão caminha de forma cambaleante, de tempos em tempos quase despedaça a si mesma e só consegue se salvar forjando compromissos podres. Compromissos tão podres que o cheiro dentro do governo alemão deve andar insuportável. O cidadão já sentiu esse cheiro. E a AfD anda feliz da vida com tudo isso.
Essa é uma triste constatação diante do fato de que, há apenas um ano, nas vésperas da eleição alemã, Merkel era saudada como uma âncora de estabilidade para a União Europeia, dentro e fora da Alemanha. E agora o poder dela dentro de casa se esfarela, ela parece ser empurrada de um lado para o outro por uma coalizão que não tem mais nada para se dizer. Essa chanceler e esse governo só produzem uma coisa: desgosto. E a ascensão daqueles que querem um outro "sistema" na Alemanha. Ou seja, exatamente aquilo que Merkel queria impedir.
No popular, é o que se chama de fracasso.
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