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Escândalo na cúpula da inteligência alemã

13 de setembro de 2018

Cresce na Alemanha pressão para demissão de Hans-Georg Maassen, chefe dos serviços de inteligência, por suposta relação secreta com partido populista de direita.

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Foto mostra Hans-Georg Maassen, presidente do Departamento Federal de Proteção da Constituição na Alemanha, sentado a uma mesa com os cotovelos apoiados nela e com as mãos espalmadas juntas à frente da boca, como se estivesse rezando. Os cabelos grisalhos são cortados curtos e penteados para cima e ele usa pequenos óculos.
Hans-Georg Maassen, presidente do Departamento de Proteção à Constituição da AlemanhaFoto: picture-alliance/AP/M. Sohn

A relação entre o chefe da inteligência alemã, Hans-Georg Maassen, e o partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) voltou a ser alvo de escrutínio nesta quinta-feira (13/09) após revelações de que ele, presidente do Departamento de Proteção à Constituição da Alemanha (BfV), teria passado informações do relatório anual de sua agência para a legenda antes da publicação.

A transmissão de informações sigilosas foi tema do programa televisivo Kontraste (Contrastes), da emissora pública ARD. Em resposta a um pedido de esclarecimento de Maassen sobre seus encontros com integrantes da AfD, o BfV declarou que esses encontros acontecem "a pedido explícito do Ministério do Interior" da Alemanha, responsável pelo BfV. O ministério, por sua vez, não respondeu às perguntas dos jornalistas do programa sobre o assunto.

Entrevistado pelo canal, o professor de direito constitucional Joachim Wieland avaliou que, se o Ministério do Interior realmente permite a realização dessas conversas, "deu-se carta branca a um funcionário para atuar politicamente". A atitude de Maassen, segundo Wieland, suscita dúvidas sobre a "neutralidade política" que se espera do presidente do BfV.

Stephan Brandner, deputado da AfD no Parlamento alemão, confirmou ao programa da ARD que Maassen havia comunicado a ele "números do relatório" durante um encontro pessoal no dia 13 de junho, cinco semanas antes da divulgação.

"Falamos de diferentes dados que estão ali", disse Brandner à ARD – incluindo o número de extremistas islâmicos na Alemanha. O papel do BfV, que publica uma avaliação sobre o assunto todo ano durante o verão europeu, é observar grupos extremistas dentro da Alemanha e determinar se eles representam um risco.

Maassen já vinha enfrentando pressão intensa depois de dar uma entrevista em que questionou a autenticidade de vídeos mostrando atos violentos por ativistas de extrema direita na cidade de Chemnitz – uma declaração com a qual contradisse diretamente afirmações da chanceler federal, Angela Merkel.

Mesmo antes das revelações desta quinta, partidos da oposição já haviam exigido a demissão de Maassen devido a suspeitas de que ele alimenta simpatias ligadas à orientação política de extrema direita e de que ele tem uma relação estreita demais com a AfD. Mas, até agora, o chefe da inteligência alemã vem contando com o apoio de seu chefe, o ministro do Interior conservador Horst Seehofer.

Maassen rapidamente negou qualquer irregularidade. Numa declaração à DW, a assessoria de imprensa afirmou que ele recebeu "instruções explícitas" do Ministério do Interior, responsável pelo BfV, para que falasse com parlamentares de todos os partidos políticos, e que os informasse regularmente sobre potenciais ameaças à segurança nacional.

"A matéria dá a impressão de que informações ou documentos foram passados adiante sem fundamentos legais", diz o comunicado. "Obviamente, esse não é o caso", continua o texto. A assessoria não quis comentar o conteúdo exato da conversa com Brandner, alegando que esses encontros são confidenciais.

Também nesta quinta, a agência de notícias DPA divulgou que Maassen teve 237 conversas pessoais com políticos desde que assumiu a presidência do BfV em 2012, e que apenas cinco deles eram membros da AfD (apesar de o partido ter sido formado apenas em 2013 e só entrado para o Bundestag após a última eleição legislativa, em 2017).

Mesmo assim, as consequências políticas da revelação ainda podem ser uma ameaça ao líder dos serviços de inteligência alemães, especialmente devido à polêmica entrevista que ele deu ao diário Bild, no qual questionou as evidências de imigrantes sendo ameaçados nas ruas da cidade de Chemnitz – uma dúvida que também foi expressada pela AfD.

Até integrantes de partidos do governo estão pedindo a exoneração de Maassen. Lars Klingbeil, secretário-geral do Partido Social-Democrata (SPD), legenda minoritária na coalizão de governo encabeçada por Merkel, tuitou na tarde desta quinta-feira que "está completamente claro para a liderança do SPD que Maassen precisa ir. Merkel tem que agir agora".

Num discurso na assembleia do Bundestag na quinta-feira, o ministro do Interior, Horst Seehofer, reiterou seu apoio ao presidente do BfV. Agora, é possível que o futuro de Maassen se torne um novo foco de crise no governo Merkel. Na tarde desta quinta-feira, ela realizou reunião com Seehofer e a líder social-democrata Andrea Nahles para discutir o assunto. Não foram divulgadas informações após o encontro.

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