Oferta de negociações põe o Irã entre a cruz e a espada
2 de junho de 2006"Caso o Irã desista do enriquecimento de urânio, o tema será riscado da agenda do Conselho de Segurança da ONU", afirmou Margaret Beckett, ministra das Relações Exteriores do Reino Unido, após encontro nesta quinta-feira (01/06) em Viena. Este foi composto pelos ministros das Relações Exteriores da Alemanha e dos cinco países com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU.
Beckett prometeu "vantagens importantes", se o país concordar em negociar. Segundo ela, os ministros das seis nações também estão de acordo quanto a um "largo espectro de propostas" ao Irã. Caso contrário, entretanto, "outros passos deverão ser encaminhados", informou a ministra.
Em entrevista ao canal de televisão CNN, a Secretária norte-americana de Estado, Condoleezza Rice, afirmou que chegou para o Irã a "hora da verdade" e que Teerã teria "semanas, e não meses, para tomar uma decisão".
A proposta de negociações da Alemanha, Estados Unidos, França, Reino Unido, China e Rússia veio colocar lenha na fogueira da crise em torno do programa nuclear do Irã, que tem agora que optar entre cooperação ou punição.
Teerã agradece com cautela
Em pronunciamento à televisão, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Manuchehr Mottaki, agradeceu a oferta, mas rejeitou a proposta de desistir de seu programa de enriquecimento de urânio como condição de início de diálogo.
"O Irã está decidido a continuar seu programa de enriquecimento de urânio para fins pacíficos", afirmou o vice-presidente da Agência de Energia Atômica do Irã, Mohammed Saidi, nesta sexta-feira (02/06). Ele ressaltou, porém, que seu país estaria disposto a conversar diretamente com os Estados Unidos.
Com uma inesperada mudança de atitude, após 25 anos de esfriamento de relações, o governo Bush declarou estar aberto a negociações diretas com o Irã. Contudo, o governo norte-americano colocou como precondição a desistência, por parte do Irã, do seu programa de enriquecimento de urânio.
Saidi também ressaltou que o início de negociações com os norte-americanos não será possível, se estes não desistirem de sua exigência.
Por força da razão
Após o encontro em Viena, o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, afirmou esperar que também Rússia e China venham a participar das negociações sobre a questão iraniana, que os Estados Unidos iniciaram com seus parceiros europeus.
A Rússia e a China recusaram, no passado, a idéia de sanções contra o Irã. Além dos Estados Unidos, França e Reino Unido, a China e a Rússia também são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, e possuem direito de veto.
O chanceler russo, Serguei Lavrov, afirmou em Moscou, após o encontro, que "todas as decisões de Viena descartam uma intervenção militar". Por telefone, o chanceler chinês, Li Zhaoxing, garantiu ao ministro das Relações Exteriores do Irã que a China "apóia todos os esforços que levem a uma solução diplomática do conflito".
Após um encontro com o rei da Jordânia em Berlim, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, afirmou ver a oferta conjunta das cinco potências da ONU e Alemanha como uma "chance incrível" para o Irã, apelando "por toda força da razão", para que se considere esta chance.
Recado aos europeus
Em sua edição de hoje, o diário italiano Corriere della Sera comentou a oferta dos seis países e a disponibilidade norte-americana para o diálogo como um "pacote de estímulos para Teerã", afirmando também que, em caso de rejeição por parte do Irã, Bush não hesitará em retirar sua oferta e levar o problema ao Conselho de Segurança da ONU.
Para o Frankfurter Allgemeine Zeitung, a oferta norte-americana de diálogo com Teerã, caso desista do seu programa de enriquecimento de urânio, dá um passo à frente para solucionar o problema. Entretanto, o jornal lembra não estar claro se essa virada traz uma solução ao conflito, ou a necessidade de esclarecimento daquilo que é ou não possível dentro das negociações.
A posição do General-Anzeiger de Bonn é mais direta: "A visão otimista de que dois oponentes encontrem aqui, pouco a pouco, um denominador comum é irreal. A oferta de Bush e Rice não tem como finalidade atingir o Irã, mas sim os europeus, a Rússia e a China. A eles deve ficar sinalizado que os EUA tentaram de tudo, antes de levar o Irã ao Conselho de Segurança da ONU. Enquanto Ahmadinedjad não desistir de suas ambições nucleares, uma ameaça de escalada do conflito continua a pairar."