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Arte

O olhar de Picasso sobre o retrato pictórico

Heike Mund
10 de outubro de 2016

National Portrait Gallery de Londres expõe 130 retratos do famoso pintor espanhol. Destaque da exposição está na visão sobre o caricato e o essencial que o artista tinha sobre a figura humana.

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Großbritannien Picassos Enkelin Diana Widmaier
Neta de Picasso Diana Widmaier posa em frente do retrato de sua avó, Marie-Thérèse WalterFoto: picture-alliance/dpa/W. Oliver

O olhar de Pablo Picasso (1881-1973) sobre o essencial era lendário. E um pouco disso pode ser visto na exposição Picasso Portraits (Retratos de Picasso), aberta ao público até o próximo dia 5 de fevereiro na National Portrait Gallery de Londres.

Para a mostra, organizada em estreita colaboração com o Museu Picasso em Barcelona, curadora Elizabeth Cowling deu destaque ao talento marcante do artista para retratar o caricato e a essência de um rosto ou de uma postura corporal humana.

Nos próximos cinco meses, poderão ser vistos em Londres 130 retratos pintados por Picasso, entre eles, diversos autorretratos. No início de sua carreira como pintor, ele utilizou principalmente amigos e conhecidos do sexo masculino como modelo. Somente no decorrer de sua estada em Paris, o pintor espanhol descobriu a sua paixão inspiradora pelas mulheres, que imortalizou obsessivamente em quadros durante todos os períodos de sua vida artística.

Criança-prodígio

Daniel-Henry Kahnweiler Pablo Picasso 1910 (Succession Picasso/DACS London 2016/2015 Estate of Pablo Picasso/Artists Rights Society (ARS) New York  )
"Retrato de Daniel-Henry Kahnweiler", pintado por Picasso em 1910Foto: Succession Picasso/DACS London 2016/2015 Estate of Pablo Picasso/Artists Rights Society (ARS) New York

Em seus primeiros anos como artista, Pablo Picasso recorria principalmente a si mesmo para seus estudos de retrato: um olhar no espelho era suficiente. Certamente, o jovem pintor espanhol não sofria de baixa autoestima, mesmo que no início de sua carreira não tenha recebido quase nenhuma atenção do tradicional mundo da arte. Mas isso logo mudou: ele se tornou o artista mais reconhecido do século 20 – um gênio de seu tempo.

Ele foi uma espécie de criança-prodígio, aprendendo logo cedo todas as possíveis técnicas de pintura com o pai, que ensinava desenho artístico numa escola de artes aplicadas. Em 1889, ele pintou seu primeiro quadro com apenas oito anos. Aos 14, pulou dois anos letivos e conseguiu passar no exame de admissão da famosa Academia de Belas-Artes de Barcelona, onde seu pai havia obtido posto de professor.

Mas ali ele não ficou por muito tempo: em 1900, o talentoso jovem pintor se mudou para Paris, a Meca da arte na época. Na capital francesa, ele montou um ateliê no bairro de Montmarte, conhecendo rapidamente muitos artistas, escritores, atores e logo também seu primeiro galerista, o negociante de arte Daniel-Henry Kahnweiler, que fomentou e cuidou dos trabalhos de Picasso durante toda a sua vida, vendendo-os mais tarde por quantias milionárias.

Retratos de um artista obcecado

Picasso produziu inúmeros retratos de Kahnweiler ao longo de todos os períodos de seu estilo constantemente mutante de pintar. Na atual exposição da National Portrait Gallery de Londres pode-se ver um desses quadros do pintor espanhol que, como um obcecado, transformou ao longo dos tempos seu entorno familiar e suas amizades em modelos: filhos e parentes, suas muitas amantes, suas esposas.

Humorous Composition: Jaumes Sabartes and Esther Williams Pablo Picasso 1957
Picasso mostra seu lado caricato ao trabalhar foto da atriz americana Esther WilliamsFoto: Succession Picasso/DACS London, 2016

Os esboços fugidios de retratos, os primeiros estudos já logo após poucos olhares sobre os modelos são hoje tão importantes para a obra completa de Picasso quanto suas pinturas e esculturas. Muitas vezes, revelam-se nos primeiros rascunhos também o seu humor e seu forte talento para a caricatura. Na exposição podem ser vistos diversos exemplos: pintura sobre fotos coloridas de pinups de uma revista de Hollywood, folhas de desenhos de rostos.

Dominador e tirano

Picasso foi um machista dominador e um artista de uma tirania extrema. Ele se apropriava de tudo em seu redor: pessoas, animais, empregados, materiais, objetos do cotidiano, tudo isso era transformado em arte. Nem todos passaram por isso ilesos, algumas de suas esposas ficaram em frangalhos. 

Portrait of Jacqueline in a Black Scarf Pablo Picasso 1954
"Retrato de Jacqueline Roque com cachecol preto", pintado em 1954Foto: Succession Picasso/DACS London 2016/C. Germain

A sua primeira mulher, a dançarina Olga Khokhlova, acabou sua vida em delírio e doente de câncer. Dora Maar sofreu de graves depressões até o fim de seus dias após Picasso. Marie-Thérèse Walter se enforcou na garagem de sua mansão em Antibes. E Jacqueline Roque se matou a tiros em outubro de 1986.

Somente a pintora francesa Françoise Gilot, 40 anos mais jovem e que ele conheceu em 1943, teve autoconfiança artística suficiente para prestar algum tipo de resistência.

Depois de dez anos de relação, ela o abandonou. Gilot foi a primeira mulher a ousar fazer isso, mudando-se para Paris com os dois filhos do casal, Claude e Paloma. Na capital francesa, ela levou uma vida de sucesso como pintora até idade avançada.

Há alguns anos, a biografia que escreveu de sua relação com Picasso foi motivo de burburinho: "Um desastre, mas foi belo", disse ela em retrospecto. Como uma de suas modelos, ela também pode ser observada em diversos retratos na exposição de Londres.

Depois da capital britânica, a mostra Picasso Portraits poderá ser vista, ainda no ano que vem, no Museu Picasso de Barcelona.