O Brasil na imprensa alemã (14/11)
14 de novembro de 2018Frankfurter Allgemeine Zeitung – Livre comércio com a América do Sul ao alcance das mãos, 13/11/2018
O lema é "agora ou nunca". Dos dois lados do Atlântico, há esforços frenéticos para finalizar, ainda este ano e antes do início do novo governo no Brasil, o há muito discutido acordo de associação entre a União Europeia e a aliança sul-americana Mercosul. Otimistas esperam que, durante a cúpula das 20 maiores economias e emergentes do mundo (G20) em Buenos Aires, no final do mês, possa haver o anúncio de um arremate preliminar das negociações.
Jair Bolsonaro não tem pressa. O populista de direita, que vai assumir o mandato presidencial em 1o de janeiro, ainda não declarou de forma decisiva sua posição sobre o acordo planejado. O futuro ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, disse logo após a eleição que prefere uma abertura veloz da economia brasileira com o maior número possível de acordos comerciais bilaterais, a exemplo do Chile e do México. O Mercosul, que além do Brasil é integrado por Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela (suspensa), não seria "prioridade" para o novo governo.
Na Comissão Europeia, há cautela sobre um acordo rápido. Se não houver termo agora, as articulações continuarão, diz a Comissão em tom lapidar.
Não é só no Brasil que há interesse em fechar mais pactos bilaterais. Também na Argentina, há quem apoie uma flexibilização da união aduaneira Mercosul, que permitiria aos países-membros fazer exatamente isso – ao contrário do que acontece hoje em dia.
Com a UE, isso não seria possível sem mais nem menos. O mandato de negociação da Comissão Europeia inclui exclusivamente um acordo com o Mercosul como um todo. Se, de repente, os sul-americanos quiserem negociar individualmente, a Comissão teria de pedir um novo mandato junto ao Parlamento Europeu e aos países-membros do bloco. O novo governo brasileiro não vai querer esperar por isso, especialmente porque, após as legislativas europeias em maio de 2019, a maioria favorável às negociações com a América do Sul poderia ser perdida. Mas uma proposta de compromisso excluindo alguns temas poderia dar margem para negociações posteriores ao governo brasileiro.
Der Tagesspiegel – Opinião: Sem acordos incondicionais com racistas, 08/11/2018
Até agora, o acordo com o Mercosul corresponde ao modelo clássico da Comissão Europeia para pactos comerciais: estabelece simplesmente a liberalização para a economia, mas poucas regras para a proteção do meio ambiente, dos direitos humanos e dos consumidores. Depois da eleição de Jair Bolsonaro a presidente do Brasil, para nós é inconcebível continuar nesse mesmo curso.
Especialmente agora, a UE poderia apoiar e proteger a população civil brasileira se repensasse sua política comercial e fizesse da imposição dos direitos humanos, dos direitos dos trabalhadores e da proteção ambiental a condição de seus acordos comerciais.
Em muitos pactos comerciais europeus, há cláusulas de direitos humanos. Com elas, a UE pode aumentar a pressão no caso de graves violações dos direitos humanos no país parceiro e retirar benefícios comerciais como taxas alfandegárias mais baixas.
Por outro lado, a UE mal fez uso dessas cláusulas até agora. Isso precisa mudar. Se o novo governo do Brasil violar os direitos de homossexuais, opositores políticos ou minorias étnicas, a UE deverá suspender partes ou a totalidade do acordo.
Diferentemente de outros pactos comerciais, regras para a proteção ambiental ou dos direitos dos trabalhadores devem ser vinculativas e sancionáveis. Se Bolsonaro realmente se despedir do Acordo de Paris sobre o clima ou permitir mais desmatamento na Amazônia, isso deverá ter consequências para as relações comerciais com a Europa.
Na nossa visão, chegou a hora de finalmente usar a política comercial europeia como aquilo que ela poderia ser: como instrumento para fazer do mundo um lugar um pouco mais justo. Continuar negociando o acordo UE-Mercosul com esse presidente brasileiro como vem sendo feito até agora é o caminho errado.
Süddeutsche Zeitung – Liberdade de pensamento, 13/11/2018
Só seu nome já soa como um monumento: Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira.
A biografia Doctor Sócrates: Footballer, Philosopher, Legend, do jornalista da agência Reuters Andrew Downie, descreve o jogador que concluiu também os estudos de medicina, com ênfase em pediatria. E faz um retrato do revolucionário Sócrates, filho de uma família de classe média; dois de seus irmãos se chamavam Sóstenes e Sófocles.
O homem de orientação hedonista era, ao mesmo tempo, um defensor aguerrido da liberdade de pensamento num país que ainda não era livre. O Brasil era uma ditadura militar quando, em 1982, Sócrates desenvolveu um sistema de participação decisória no seu clube, o Corinthians. Goleiro, gandula, diretor: todos podiam decidir o que faria parte do cardápio, a que horas seria o treino no dia antes do jogo e que transferências faziam sentido.
Sócrates morreu em 2011, aos 57 anos. Ele tomou a liberdade de arruinar seu corpo cedo. Desde então, faz falta ao seu país. A biografia fala de um futebolista que tinha a força de desestabilizar a ditadura militar. Era muito diferente de hoje, quando o ex-capitão de extrema direita Jair Bolsonaro foi eleito presidente, um antidemocrata que coloca a liderança severa e militar no lugar de liberdade e pensamentos – e é apoiado por heróis do futebol como Ronaldinho, Rivaldo e outros.
O futebol, assim como mostrou a Copa do Mundo este ano na Rússia, corre o risco de se tornar instrumento do totalitarismo. E, assim, a biografia do maravilhoso Sócrates se lê como o posfácio de outros tempos, de um futebol menos temeroso e de um Brasil mais feliz.
RK/ots
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