Novo papa faz apelo à responsabilidade da mídia
23 de abril de 2005Em sua primeira entrevista coletiva após a nomeação para papa, Bento 16 recebeu a imprensa no Vaticano neste sábado (23/4). Ele leu uma mensagem em italiano, inglês, francês e alemão e agradeceu o trabalho dos profissionais da mídia pela "histórica cobertura" desde o funeral de seu antecessor, o conclave e o início de seu pontificado. No ato, que durou cerca de 15 minutos, Bento 16 elogiou João Paulo 2º pela "capacidade na exploração da mídia" e também destacou o "grande papel social dos meios de comunicação nos dias de hoje".
Quatro dias após sua eleição, o Santo Padre, de 78 anos, compareceu à audiência calmo e descansado. Acolhido com uma ovação em pé, Bento 16 concluiu a audiência saudando os presentes na sala, bem como os seus "familiares, amigos e colegas". Observadores acreditam que ele esteja tentando combater a má imagem que detém em parte da imprensa internacional, onde charges e artigos de análise o descreveram como ultraconservador.
Em artigo de primeira página, um jornal italiano havia causado polêmica em Roma ao chamar Joseph Ratzinger de "pastor alemão", referindo-se ao fato de no passado ele ter sido intitulado "o rottweiler de Deus" por causa de sua posição na Congregação para a Doutrina da Fé. Tanto cardeais e outras lideranças da Igreja tentam alterar esta imagem, descrevendo Bento 16 como teólogo brilhante e como uma pessoa aberta e franca.
Críticas da imprensa espanhola
O fato de o Sumo Pontífice não ter falado em espanhol aos jornalistas causou críticas. Muitos dos jornalistas de língua espanhola na audiência admitiram estar "tristes e desiludidos". Um colombiano lembrou que "parece que para a Igreja Católica a América Latina continua não existindo, apesar de ali estar metade dos católicos de todo o mundo".
O espanhol Joaquim Navarro Valls, porta-voz do Vaticano, amenizou a situação ao afirmar que "da próxima vez, o papa falará em espanhol. Hoje creio que pretendia fazer uma coisa breve". Para a decepção de muitos, não foram permitidas perguntas dos jornalistas. Há 26 anos foi diferente. João Paulo 2º havia respondido a perguntas espontâneas da imprensa.
Enquanto isso, especula-se na Alemanha que o cardeal alemão Karl Lehmann possa mudar-se para o Vaticano, eventualmente para a chefia da Congregação para a Doutrina da Fé. O jornal Bild publicou neste sábado (23/4) que o papa Bento 16 quer o arcebispo de Mainz e presidente da Confederação dos Bispos Alemães em sua cúria. A decisão de Lehmann seria anunciada até segunda-feira. O porta-voz do cardeal disse que o assunto é "mera especulação".
Cem mil alemães na missa inaugural
Enquanto isso, prosseguem no Vaticano os preparativos para a missa inaugural que o novo papa vai celebrar neste domingo, na basílica de São Pedro, diante de milhares de fiéis e delegações diplomáticas de cerca de 140 países, entre os quais o presidente alemão, Horst Köhler, e o chanceler federal, Gerhard Schröder.
Segundo as autoridades italianas, são esperados mais de 100 mil alemães, entre os quais o irmão do papa, Georg Ratzinger, que liderará um grande grupo de peregrinos da Baviera, Estado onde nasceu Bento 16. Como aconteceu no funeral de João Paulo 2º, o espaço aéreo sobre Roma estará fechado.
Helicópteros, jatos e um avião equipado com radar irão patrulhar o céu. Mais de sete mil policiais participam do esquema de segurança. Um dos momentos mais importantes da missa de bênção a Bento 16, que deve durar duas horas, será a colocação do anel de pescador e do pálio − estola de lã branca com seis cruzes negras.
Ambos representam a autoridade pastoral do Papa. A cerimônia de investidura será conduzida pelo cardeal diácono, o chileno Jorge Medina Estevez, que anunciara a escolha de Ratzinger na última terça-feira.