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Küng dá 100 dias de trégua ao novo papa

av21 de abril de 2005

Em entrevista à Deutsche Welle, o teólogo suíço Hans Küng, que já foi punido pelo Vaticano, fala de suas expectativas em relação ao pontificado de Bento 16. Novo papa confirma velha cúpula do Vaticano.

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Hans Küng, crítico poder da IgrejaFoto: AP

Em Roma, correm os preparativos para a entronização do papa Bento 16, eleito na última terça-feira (19/04). Calcula-se que centenas de milhares de peregrinos participarão de sua primeira missa pública na Praça de São Pedro, no próximo domingo (24/04).

Nesta quinta-feira (21/04), o novo Sumo Pontífice decidiu manter a cúpula do Vaticano que atuou no pontificado de João Paulo 2º. O secretário de Estado do Vaticano, cardeal Angelo Sodano, e os principais funcionários da Santa Sé foram confirmados em seus cargos. Para a sucessão de Joseph Ratzinger no poderoso posto de prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé estão sendo cotados, entre outros, os cardeais Christoph Schönborn (da Áustria) e Francis George (EUA).

A Deutsche Welle conversou com o teólogo suíço Hans Küng, que foi punido pelo Vaticano e dirige o Instituto de Ética Mundial em Tübingen, na Alemanha, sobre suas expectativas em relação ao pontificado de Bento 16.

DEUTSCHE WELLE: Professor Küng, o senhor está decepcionado com a eleição de Joseph Ratzinger como papa. Por quê?

Hans Küng: Falo certamente em nome de incontáveis católicos que esperavam um papa reformador, preocupado com a assistência espiritual, que não aparecesse só em grandes manifestações como "papa da mídia", mas sim que solucionasse os problemas identificados há tanto tempo e realizasse reformas.

Por que não tem essa expectativa em relação a Bento 16?

Como cabeça da Congregação para a Doutrina da Fé, ele colaborou antes para uma radicalização das frentes; desempenhou um papel muito negativo no conflito sobre o aconselhamento de gestantes, na Alemanha; agiu com força contra os teólogos da libertação latino-americanos. E simplesmente sempre representou o que se considera o poder da Cúria Romana, mostrando pouca compreensão para outras opiniões e para o fato que liberdade dentro da Igreja também é a liberdade dos que pensam diferente.

E, no entanto, uma grande maioria dos cardeais parece havê-lo apoiado, na eleição papal.

Não é de admirar, eles foram todos nomeados por seu antecessor. E neste ponto houve muitas críticas contra a nomeação de tantos conservadores conformistas, sem perfil próprio. Haveria sem dúvida cardeais de formato, como o cardeal [Carlo Maria] Martini, de Milão, ou o arcebispo belga [Godfried] Danneels, ou mesmo, se tivesse que ser um alemão, o cardeal [Karl] Lehmann. Teriam sido outras figuras, irradiando mais otimismo, abertura, liberdade, e que são todos tão cultos quanto o cardeal Ratzinger.

Porém, acompanhando seu primeiro sermão, parece realmente haver um certo otimismo, quando ele falou em unir mais os cristãos e sobre o ecumenismo.

Papst Benedikt in Rom
Küng espera "pequeno milagre" de Bento 16Foto: AP

Sim, por isso vamos deixar a questão em aberto. Ele tem o direito a uma chance, e nós a concedemos. Queremos ver o que ele fará. Felizmente ele não escolheu o nome João Paulo 3º, mas sim Bento 16. Bento [15] não foi só um papa da paz, mas sim o que sustou, com o auxílio de uma organização secreta, essas tendências autoritárias no Vaticano, assim como a perseguição aos teólogos. Pode ser que ele realmente leve o ecumenismo avante de outra maneira, agora que é papa. Parto do princípio de que todo cardeal, ele também, seja diferente como papa, ele tem que ir até as pessoas, não apenas responder cartas o dia inteiro, queixas de todo o mundo a sua Congregação de Fé.

Talvez vivenciemos o pequeno milagre que justamente Joseph Ratzinger nos confronte com coisas boas, e que alegrem não apenas a mídia e o seu público, mas também às comunidades que tanto sofrem pela atual carência de padres, a destruição da estrutura de assistência espiritual, a falta de participação dos jovens e das mulheres; para que essas comunidades tenham coragem de continuar, como alcançara o papa João 23.

Enfim, tenho esperanças de que tenhamos um clima mais alegre, mais livre na Igreja, contrariando todas as expectativas que infelizmente existem. Vamos ver: de qualquer forma é preciso esperar 100 dias, antes de poder julgar.