Merkel e líder de Belarus discutem crise na fronteira com UE
16 de novembro de 2021A chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o presidente belarusso, Alexander Lukashenko, conversaram pelo telefone nesta segunda-feira (15/11) sobre a situação de milhares de migrantes retidos na fronteira de Belarus com a Polônia. A Chancelaria Federal da Alemanha informou que foi discutida uma possível ajuda humanitária.
O telefonema entre os dois líderes ocorreu logo após a União Europeia (UE) decidir aumentar as sanções contra Belarus. Bruxelas acusa o regime de Lukashenko de transportar migrantes, a maioria deles do Oriente Médio, para fronteira com a UE para pressionar o bloco.
Segundo a agência de notícias oficial de Belarus, Belta, a conversa, que teria sido a primeira entre Lukashenko e um governante europeu desde a repressão aos protestos após sua contestada reeleição em agosto de 2020, durou 50 minutos. O mandatário disse que também falaria com o presidente russo, Vladimir Putin, que havia se oferecido para mediar as tensões atuais.
Lukashenko disse ter proposto a Merkel uma maneira de resolver a crise na fronteira belarussa-polonesa, onde vários milhares de migrantes estão tentando entrar na União Europeia (UE).
"Acertamos com Merkel que, por enquanto, não vamos falar sobre isso concretamente. Ela pediu tempo, uma pausa para discutir essa proposta com os membros da UE", disse Lukashenko, acrescentando que espera uma segunda chamada da chanceler federal alemã para continuar discutindo uma possível solução.
Ele acrescentou que opositores belarussos no exílio, particularmente nos países da UE, "enlouqueceram" após a conversa telefônica que teve com Merkel, a quem criticaram de todas as maneiras "por falar com este ditador". Lukashenko é conhecido como "o último ditador da Europa".
O telefonema também recebeu fortes críticas de membros do Partido Verde na Alemanha. Omid Nouripour, especialista verde em relações exteriores, falou num "sinal desolador". Ele afirmou que, com o telefonema, Merkel reconheceu a controversa reeleição de Lukashenko. Nouripour destacou ainda que a UE não pode se deixar chantagear por Minsk.
UE planeja novas sanções contra Belarus
A UE anunciou nesta segunda que vai aprovar "nos próximos dias" novas sanções contra o regime de Lukashenko. Bruxelas acusa Minsk de, ao fornecer vistos aos migrantes, orquestrar o fluxo de refugiados para a fronteira com a Polônia, limite externo da UE, em retaliação a sanções ocidentais ligadas à repressão das manifestações em Minsk em 2020.
Nesta terça-feira, em Berlim, o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, defendeu que os migrantes retidos na fronteira entre Polônia e Belarus devem ser transportados de volta para os países de origem e descartou um possível acolhimento na Alemanha.
"O que deve acontecer é os migrantes, com o apoio das suas respectivas autoridades nacionais, sejam devolvidos em segurança aos seus países de origem. Estamos contentes por isso ser posto em prática, em casos isolados ou em grande escala", acrescentou Seibert, referindo-se ao anúncio do governo iraquiano de que iria providenciar um voo de repatriamento desde Belarus.
Segundo as autoridades polonesas, milhares de pessoas estão acampadas na fronteira entre a Polônia, país da União Europeia e Belarus, a maioria oriundas de Iraque, Síria e Iêmen.
Violência na fronteira
A situação na fronteira entre Belarus e Polônia se agravou nesta terça-feira. A mídia estatal belarussa mostrou em vídeo o uso de canhões de água pelo lado polonês contra os migrantes na travessia de Kuznica-Brusgi.
Pessoas encharcadas, incluindo jornalistas, foram vistas sendo atingidas pelo jato de água. No vídeo, ouvem-se crianças chorando. O Ministério da Defesa polonês também lançou um vídeo mostrando o uso de um canhão de água após um "ataque de migrantes" no posto fronteiriço de Kuznica.
Os refugiados teriam agido com violência, jogando pedras nos soldados e nas forças de segurança, escreveu o Ministério no Twitter. O lado polonês também teria usado gás lacrimogêneo. Não há versões independentes do ocorrido porque a Polônia não permite a presença da imprensa na área fronteiriça.
Muitos migrantes são do Iraque. De acordo com a agência de notícias russa Interfax, a embaixada iraquiana em Moscou teria informado que cerca de 200 pessoas pretendem voltar de Belarus para casa. Entre elas estariam famílias, mulheres e crianças.
rw/lf(efe, lusa, dpa)