Putin culpa Ocidente por tensão entre Polônia e Belarus
13 de novembro de 2021O presidente russo, Vladimir Putin, negou neste sábado (13/11) que Moscou esteja ajudando a orquestrar uma crise que deixou centenas de migrantes do Oriente Médio bloqueados na fronteira entre Polônia e Belarus, culpando o Ocidente pelo que está acontecendo.
"Quero que o mundo inteiro saiba. Não temos nada a ver com isso", disse o presidente, em entrevista a uma emissora estatal russa, depois que Polônia e outros países ocidentais acusaram Moscou nesta semana de orquestrar com Minsk o envio de migrantes para a fronteira.
Putin responsabilizou os países ocidentais pela crise, dizendo que suas políticas no Oriente Médio encorajaram os imigrantes a querer ir para a Europa.
Para resolver a crise, Putin pediu aos líderes europeus que conversem com o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, como, segundo ele, a chanceler alemã, Angela Merkel, estaria disposta a fazer. "Não devemos esquecer de onde vêm essas crises associadas aos migrantes", disse. "Elas foram criadas pelos próprios países ocidentais, incluindo os europeus", acusou.
De acordo com Belarus, cerca de 2 mil pessoas – incluindo mulheres e crianças – permanecem na área de fronteira. A Polônia afirma, no entanto, que elas são entre 3 mil e 4 mil e que cada dia chegam mais.
Os migrantes, curdos em maioria, estão presos na fronteira entre a Polônia e Belarus enfrentando temperaturas geladas. Para se aquecer, se abrigam em barracas e queimam lenha.
Embora a situação deles seja cada vez mais preocupante, a Polônia não permite a travessia e acusa Belarus de impedi-los de deixar a área.
No sábado, as autoridades belarussas disseram que estavam distribuindo barracas e aquecedores para os migrantes, uma medida que pode prolongar a presença de deles na fronteira.
"O lado belarusso está fazendo todo o possível para fornecer a eles o que necessitam. Água, lenha e ajuda humanitária foram entregues", disse Igor Butkevich, chefe adjunto do comitê estatal de fronteira, à agência estatal Belta.
Os migrantes vêm tentando entrar Polônia há meses, mas a crise tomou um novo rumo na segunda-feira, quando centenas de pessoas tentaram cruzar a fronteira juntas e foram rechaçadas pelos guardas poloneses.
Mais uma morte
Neste sábado, a polícia polonesa informou que um jovem sírio foi encontrado morto na floresta perto da fronteira. "As causas da morte não puderam ser determinadas no local", disse o órgão de segurança polonês, em comunicado.
Essa morte elevaria para 11 o número de pessoas que perderam a vida nesta crise migratória, segundo estimativas de organizações não governamentais.
A polícia informou ainda que, na mesma área, "100 pessoas" tentaram novamente cruzar irregularmente a fronteira durante a noite.
A UE acusa a Belarus de organizar estes movimentos de migrantes, distribuindo vistos e até voos fretados, para tentar criar uma crise migratória na Europa, em resposta às sanções internacionais contra o governo de Alexander Lukashenko.
Sanções da UE
Na próxima semana, o bloco europeu planeja estender as sanções por "tráfico de pessoas". O vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, garantiu em entrevista concedida neste sábado ao jornal francês Le Figaro, que as sanções seriam "aprovadas e aplicadas".
Conforme ele explicou, elas se aplicariam, entre outros, à companhia aérea estatal Belavia, acusada de fretar grupos de migrantes da Turquia para Minsk.
Na sexta-feira, a UE disse que "progresso" foi feito para conter o fluxo de migrantes na fronteira entre Belarus e Polônia, depois que a Turquia proibiu cidadãos de Síria, Iraque e Iêmen de voarem para Minsk.
O principal assessor de política externa do presidente turco Recep Tayyip Erdogan disse à agência de notícias AFP no sábado que a Turquia não pode ser considerada culpada. "Os viajantes vão para Belarus e de lá para a Lituânia, Polônia e outros países da UE. Culpar a Turquia por isso, ou a Turkish Airlines, é muito equivocado", disse Ibrahim Kalin.
Tensão crescente
A tensão continua a crescer na fronteira, e os dois países enviaram tropas para a área. Na sexta-feira, Belarus avisou que "responderia severamente" a qualquer ataque dirigido contra seu território.
Apesar da pressão do Ocidente, Lukashenko pode contar com o apoio de seu principal aliado, a Rússia. As tropas aéreas de ambos os países conduziram "exercícios de combate" perto da fronteira entre Belarus e Polônia na sexta-feira.
No entanto, o apoio de Moscou a Minsk costuma ser cauteloso. Em entrevista à TV estatal russa, Putin disse que Lukashenko estava agindo por conta própria quando ameaçou esta semana cortar o fluxo de gás russo através de Belarus até a Europa.
Ele criticou a ameaça, dizendo que o fechamento seria "um grande dano ao setor energético da Europa" e que "não ajudaria o desenvolvimento de nossas relações com Belarus".
md (EFE, AFP)