Investigação não vê antissemitismo estrutural na DW
8 de fevereiro de 2022Uma equipe independente de especialistas apresentou nesta segunda-feira (07/02) os resultados de uma investigação, após relatos, na mídia alemã, sobre comentários antissemitas e anti-Israel feitos por alguns funcionários da Deutsche Welle (DW), a emissora internacional da Alemanha.
A investigação examinou tanto comentários de funcionários da DW feitos em seus perfis pessoais em redes sociais quanto comentários publicados em veículos externos à emissora.
A análise também avaliou emissoras parceiras da DW na região Mena (sigla em inglês para Oriente Médio e Norte da África), depois que matérias publicadas na imprensa alemã mostraram que conteúdo antissemita havia sido publicado por esses associados.
O inquérito independente concluiu que não há uma questão de antissemitismo estrutural na DW, mas que é preciso adotar medidas de treinamento e recrutamento para evitar casos individuais futuros.
O diretor-geral da DW, Peter Limbourg, afirmou que, como resultado das investigações, cinco funcionários não deverão mais trabalhar para a emissora.
"Hoje, admitimos omissões e erros. Vamos lidar com eles imediatamente, integralmente e de forma consistente. Vamos tirar consequências claras, inclusive em relação ao recrutamento."
O que diz o relatório?
A investigação independente foi realizada por uma equipe de especialistas composta pelo psicólogo e especialista em antissemitismo Ahmad Mansour e a ex-ministra da Justiça da Alemanha Sabine Leutheusser-Schnarrenberger.
Após entrevistarem membros do serviço em árabe da DW e de realizarem pesquisas próprias, os especialistas concluíram que os temas levantados por relatos na mídia alemã foram casos individuais que não se estenderam ao restante do departamento editorial.
"Não há presença de antissemitismo estrutural", disse Mansour, que fundou uma iniciativa para promoção da democracia e prevenção de extremismo, numa coletiva de imprensa.
Porém os especialistas determinaram que os comentários feitos por cinco funcionários da DW apresentaram claramente antissemitismo, negação do Holocausto ou relativização do Holocausto, assim como a negação do direito de existência de Israel. Segundo o relatório, a suspensão prévia dos cinco funcionários foi "justificada".
"Foram comentários feitos em contas privadas de redes sociais – mas [os comentários] eram públicos", afirmou Leutheusser-Schnarrenberger. A equipe que fez a avaliação também encontrou casos potenciais de preocupação envolvendo mais oito funcionários da DW.
Os especialistas afirmaram que, embora o trabalho editorial realizado pela redação árabe da DW não seja antissemita, os casos individuais encontrados poderiam prejudicar a reputação da emissora.
Mansour e Leutheusser-Schnarrenberger pediram melhores procedimentos de contratação, assim como treinamentos para funcionários atuais da DW em temas como antissemitismo, Israel e o conflito no Oriente Médio.
O relatório também recomendou a reestruturação da redação árabe da DW e um "novo início" para que o departamento possa ser auxiliado a se adaptar às mudanças.
Sobre as parcerias da DW com emissoras locais na região Mena, os especialistas se disseram contrários à continuidade da cooperação com duas emissoras, mas encorajaram o diálogo e diretrizes claras sobre antissemitismo com as outras parcerias.
A DW já havia encerrado a cooperação com a emissora Roya TV, da Jordânia, depois de constatar que a estação estava disseminando comentários e cartuns antissemitas.
Que atitudes a DW tomou?
O diretor-geral da DW, Peter Limbourg, anunciou mudanças significativas na emissora, como resultado da investigação independente: "A diretoria e eu sentimos muito. A mera suspeita de antissemitismo numa instituição alemã financiada por impostos deve ser intolerável para pessoas judias nesse país e ao redor do mundo."
Limbourg acrescentou que "precisamos deixar nossa posição muito mais clara no futuro. A liberdade de expressão nunca é justificativa para antissemitismo, ódio a Israel ou negação do Holocausto".
Karl Jüsten, chefe do Conselho de Radiodifusão da DW, enfatizou que a empresa tem uma política de tolerância zero em relação ao antissemitismo e agradeceu a Mansour e Leutheusser-Scharrenberger pela avaliação. "Eles ajudaram a DW numa situação difícil e formaram a base para melhorias concretas com sua investigação."
O editor-chefe da redação árabe da DW apresentou sua renúncia ao cargo e a DW aceitou o pedido, disse Limbourg. A procura por um substituto ou substituta está em andamento.
A DW também vai elaborar uma definição clara de antissemitismo para todos os funcionários, assim como fortalecer o código de conduta, os procedimentos de treinamento e as regras de recrutamento da emissora.
Pedidos de implementação ágil
O presidente do Conselho Central de Judeus da Alemanha, Josef Schuster, pediu à DW que implemente as mudanças delineadas no relatório de forma rápida e transparente.
"Agora a emissora deve implementar as recomendações dos especialistas rapidamente. Em três meses, a Deutsche Welle deveria apresentar um relatório inicial que forneça informações sobre as medidas adotadas."
Claudia Roth, encarregada do governo alemão para Cultura e Mídia, observou que a DW tem responsabilidades específicas que precisa cumprir, como emissora internacional da Alemanha. "A DW precisa respeitar e proteger a dignidade humana em seus programas. É isso que diz a Lei da DW", disse em comunicado, acrescentando que essa responsabilidade se estende a todos os funcionários da empresa.
Roth, que também integra o Conselho de Radiodifusão da DW, pediu que a direção executiva da emissora proponha uma "lista de medidas apropriadas, incluindo medidas estruturais", que abrangeriam tanto seus departamentos editoriais quanto administrativos.
A DW, emissora internacional de direito público financiada por recursos fiscais federais, produz notícias e análises em 32 línguas para países no mundo todo.