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EducaçãoBrasil

Impacto do tema da redação do Enem vai muito além da prova

Brasilien Student Alisson Nascimento dos Santos
Alisson Nascimento dos Santos
18 de janeiro de 2024

Exame não serve apenas para testar a capacidade acadêmica dos alunos, mas para incentivar milhões de pessoas a refletirem sobre temas de relevância social. Testei isso na prática em uma sala de aula.

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Alunas e alunos chegando a uma escola para fazer o Enem
Tema da redação de 2023 promoveu reflexão nacional sobre a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelas mulheresFoto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem grande relevância na vida dos jovens que estão terminando o ensino médio e querem ir para a faculdade, mas o impacto da prova vai muito além do ingresso na universidade. Todo tema abordado pela redação tem reflexos na sociedade e na formação do estudante, pois ele terá que refletir sobre o tema proposto.

Em 2023, o tema foi "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil". Um assunto de grande relevância social, mas que não tem a atenção devida da mídia e cuja invisibilização tem diversos efeitos, especialmente para as mulheres que protagonizam o trabalho de cuidar.

Promover a reflexão em milhões de estudantes sobre as causas e as consequências da falta de reconhecimento legal e institucional do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres tem um impacto direto na sociedade. Já que, infelizmente, nem todos conseguem perceber o problema, com repercussões na desigualdade de gênero, na saúde física e mental das mulheres e na maior dificuldade para acessar a educação.

O exemplo de uma sala de aula

Ao longo de 2023, tive a oportunidade de dar aulas de redação em diferentes programas sociais, que contavam com a participação de alunos de diferentes realidades socioeconômicas. Após a divulgação do tema da redação do Enem, conversei com todos os meus alunos, sobretudo com as alunas, e pude perceber como o assunto as sensibilizou.

As diferentes vivências das alunas foram resumidas no tema da redação, e a oportunidade de discutir sobre isso também foi esclarecedora para muitos homens que não tinham considerado a questão anteriormente. A sala de aula tornou-se um reflexo da sociedade atual: mulheres compartilhando experiências similares, porém frequentemente invisibilizadas devido à falta de debate sobre essa desigualdade e à falta de compreensão da sociedade sobre a importância do problema.

Dei espaço para que as mulheres se sentissem confortáveis e pudessem compartilhar suas realidades com a turma. Houve relatos de mulheres que tiveram que deixar de estudar por terem que ficar em casa cuidando dos filhos e das tarefas domésticas, mulheres que desenvolveram problemas de saúde porque, além do trabalho fora de casa, também eram responsáveis pelos trabalhos do lar, e de mulheres que precisavam dividir seu tempo por conta das responsabilidades do trabalho de cuidado.

Papel na formação de cidadãos conscientes

A inclusão de pautas sociais no Enem é vital para refletir a realidade social e estimular o pensamento crítico dos estudantes. Essa abordagem promove a conscientização social, estimula a empatia e prepara os candidatos para uma participação cidadã mais informada.

Ao abordar desigualdades e injustiças, o Enem também contribui para uma educação alinhada aos valores de justiça social, incentivando a diversidade de opiniões e conectando a educação à realidade vivenciada pelos estudantes.

Essa abordagem vai além da avaliação acadêmica, e cumpre um papel crucial na formação de cidadãos conscientes e engajados. Enquanto a valorização de pautas sociais pelos veículos de informação e a conscientização social ainda estiverem distantes, usar o espaço da prova para pautar debates será um meio importante para buscar isso.
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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.

Este texto, escrito por Alisson Nascimento dos Santos, de 22 anos, de Salvador (BA), reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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A coluna quinzenal é escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade.