Capital Cultural Europeia 2012
29 de dezembro de 2011Domingos Bragança, vice-prefeito da portuguesa Guimarães, é um dos responsáveis por garantir a infraestrutura na Capital Cultural Europeia de 2012. E, com isso, também responsável pelas incontáveis obras em construção espalhadas pela cidade hoje.
Bragança cruza as cercas das obras, escala montes de areia, equilibra-se sobre os acessos provisórios e debela interdições de todo tipo na cidade. Em Guimarães, todos conhecem o vice-prefeito: operários, engenheiros, a população. Embora não tenha tempo para conceder entrevistas em seu escritório, ele não se importa de ser acompanhado pela cidade.
Batucar em vez de consumir
Os preparativos para Guimarães ser Capital Cultural Europeia em 2012 são um grande esforço conjunto na cidade. Os heróis dessa empreitada são os operários, com seus capacetes amarelos, que já se tornaram uma espécie de símbolo da cidade. Até nos domingos, o trabalho é incessante.
Grupos de pessoas se postam do outro lado das cercas, observando o espetáculo. Projetos de restauração de grande porte são realizados nas praças, fontes e parques do centro histórico da cidade, declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. Tanto o centro quanto a região industrial da cidade deverão estar pontualmente prontos para a inauguração, no dia 21 de janeiro. Bragança mantém-se otimista: "Vamos dar conta".
Os responsáveis pelo ano cultural em Guimarães têm planos ambiciosos, e querem, acima de tudo, "fazer tudo diferente". O lema da programação é "Small is beautiful", criado não apenas em função dos limites do orçamento. "Convidar artistas para fazer alguns shows caros é coisa que muita gente faz. Nós queremos, com o ano cultural, criar algo duradouro para a cidade e seus habitantes", diz Carlos Martins, diretor de programação do evento.
Guimarães deverá se transformar num local atraente para artistas e pessoas ligadas à cultura, mas também numa cidade aprazível para seus próprios moradores. "As pessoas não deverão somente ouvir a percussão, mas aprender, elas mesmas, a batucar", sugere Martins. Ele quer criar na cidade um palco para artistas profissionais e leigos interessados. Pessoas ligadas ao teatro, às artes plásticas e músicos irão oferecer workshops, gerando, dessa forma, diversas iniciativas culturais na cidade.
Arte como recurso
É claro que entre os benefícios esperados para a cidade no ano cultural está também o aquecimento da economia local em tempos de crise financeira, que também atinge Portugal seriamente. Martins e os outros organizadores dos eventos exalam otimismo, apesar das dificuldades.
Eles veem os investimentos na cultura e na criatividade como formas de impulsionar o desenvolvimento, mesmo que os recursos sejam parcos. A ideia é gerenciar as verbas disponíveis com responsabilidade, para servir até mesmo de exemplo para outras pequenas cidades europeias na era pós-industrial.
À primeira vista, parece que o ano cultural europeu traz realmente movimento ao mercado de trabalho de Guimarães. Escritórios de arquitetura e engenheiros têm muito trabalho na cidade e as "associações culturais" estão cheias de projetos em andamento. Nas instalações do mercado antigo, estão sendo erigidos um novo museu e diversos ateliês, que irão abrigar artistas em residência. A universidade local também vai ser beneficiada: para além das fronteiras do centro histórico, já foram colocados os alicerces da chique Academia de Design.
Mudança estrutural
Cabe lembrar também que Guimarães, tão orgulhosa de sua história de mais de mil anos, é a cidade mais jovem de Portugal: metade dos 50 mil habitantes tem menos de 30 anos e 6 mil são estudantes, vistos por todos os lados, com seus laptops, pelos cafés e parques.
Ao contrário de outras cidades históricas, o centro de Guimarães não é apenas uma série de fachadas para os olhos dos turistas. Nos cuidadosamente restaurados prédios do século 18, se mora e se trabalha. E as lindas praças da cidade costumam ficar cheias também à noite e nos fins de semana.
Guimarães já foi um centro das indústrias têxtil e do couro em Portugal. Os cortes de pessoal em função da globalização – boa parte da produção foi transferida para países asiáticos – provocaram alta taxa de desemprego. Hoje, há várias fábricas abandonadas na cidade. Com o êxodo de mão-de-obra qualificada, é preciso criar novas perspectivas para a população local, também através da arte. Como no Centro Cultural Vila Flor, onde trabalham os responsáveis pelos projetos do ano cultural em Guimarães.
A outra Capital Cultural Europeia em 2012 é Maribor, na Eslovênia.
Autora: Cornelia Rabitz (sv)
Revisão: Augusto Valente