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Maribor 2012

30 de dezembro de 2011

Com orçamento modesto e muito entusiasmo, Maribor, antigo centro industrial na Eslovênia, vai ser Capital Cultural da Europa em 2012. Segundo os organizadores do evento, a cidade vai redefinir sua imagem.

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Teatro de bonecos na cidade da EslovêniaFoto: DW/Bernd Riegert

O amplo Rio Drava passa lento através de Maribor. Tão lento que suas águas refletem acolhedoramente as edificações históricas situadas à margem: a torre d'água, a velha sinagoga e a antiga hospedaria A Velha Parreira. Por trás da torre da catedral, numa colina, podem-se vislumbrar os restos do castelo que deu a Maribor seu antigo nome: "Marburg do Drava".

Do outro lado do rio, contudo, a imagem é menos acolhedora, com um shopping center enorme, o Europark, que domina a paisagem e oferece estacionamento para cinco mil veículos. Atrás dele, estão algumas edificações industriais e um conjunto habitacional construído durante o regime comunista.

Mitja Cander
Mitja CanderFoto: DW

Duas décadas depois de o país se tornar independente e em meio a uma séria crise econômica, os habitantes de Maribor procuram se reorientar. Neste sentido, o ano cultural veio na hora certa para a cidade, acredita Mitja Cander, diretor artistico da programação.

"Maribor está construindo uma nova identidade, tentando se transformar numa cidade de verdade e não somente um lugar onde se sobrevive. Queremos reavivar o espírito urbano através de diversas ofertas culturais", diz Cander, que é formado em Literatura. Para o ano de 2012, há 500 eventos programados para a cidade, que vão desde a ópera clássica até a construção de novos jardins para lares de idosos.

"Nação de poetas"

A instituição cultural mais importante nesse contexto é o Teatro Nacional de Maribor, com uma oferta de ópera, balé e teatro. Em 2012 será reencenada a única ópera eslovena de projeção internacional, a expressionista Máscaras negras, de Marij Kogoj.

A cidade de apenas 120 mil habitantes dá-se ao luxo de manter uma casa de espetáculos relativamente grande, e se orgulha disso, diz Alan Kavcic, do Teatro Nacional da Eslovênia: "As pessoas no país sempre pensaram que aquilo que as define é a cultura. Por isso, temos aqui um teatro tão grande, pois sempre pensamos que somos uma nação de poetas, não de guerreiros", completa ele. De fato, o número de livros editados anualmente na Eslovênia é relativamente alto, se comparado aos números alemães, por exemplo.

Mojca Plansak, porta-voz do Teatro de Bonecos da cidade, totalmente reconstruído há pouco, conta que o festival 12 Vezes 12 irá trazer do exterior 12 diretores e nomes ligados ao teatro de bonecos, para permaneceram durante um mês na cidade, produzindo um espetáculo em cooperação com profissionais locais. Até mesmo um grupo japonês de teatro de bonecos vai a Maribor em 2012.

Bonecos e dança

Slowenien Kulturhauptstadt Maribor 2012
Karmina SilecFoto: Dorian Silec Petek

Outro ponto alto da programação será o internacionalmente conhecido teatro-música Carmina Slovenica, no qual a cantora, compositora e diretora Karmina Silec une canto, interpretação, luz e dança, num gênero novo. As cantoras do espetáculo – em idade escolar, porém convincentes e apaixonadas – arrebatam o público, inclusive em turnês internacionais.

No calçadão do centro histórico de Maribor, serão instalados cinco palcos, nos quais serão apresentados concertos e espetáculos de arte, durante todo o ano de 2012. "A cultura tem que ser levada até as pessoas. Compreendemos o ano da Capital Cultural Europeia não apenas como arte ou um evento artístico. Queremos mostrar às pessoas como se pode ser criativo, nos tempos atuais. Justamente nesta cidade há muita gente deprimida, letárgica e pacata. Queremos movimentá-las", diz Mitja Cander. O principal instrumento para esse fim será a criatividade de cada um, afirma.

Em plena era digital, os habitantes de Maribor poderão escrever blogs; mas também plantar, criando jardins comunitários ou tornando verdes os pátios internos de prédios na cidade. Os "jardins urbanos" deverão novamente proporcionar mais frutas e verduras plantadas na própria cidade, explica Matej Zonta, coordenador do projeto. "Nós, eslovenos, temos na Europa o menor índice per capita de terrenos cultiváveis. E as maiores superfícies ocupadas por supermercados", diz ele. Na cidade, deverão ser arados "Sulcos Urbanos" – o nome de uma seção da programação cultural.

A integração da cultura da etnia nômade rom (ciganos) e dos imigrantes também faz parte dos projetos do ano.

Flash-Galerie Maribor 2012
Cidade velha de Maribor, vista da outra margem do DravaFoto: DW/Bernd Riegert

Sol e vinho

Susana Zilic Fiser, diretora da fundação "Capital Cultural" e ex-jornalista de TV, quer levar em 2012 o maior número possível de eslovenos a Maribor. Os moradores da capital Liubliana e seus arredores ainda nutrem uma profunda aversão pelo leste do país e por Maribor, diz ela.

Pesquisas mostram que 60% dos habitantes de Liubliana nunca estiveram lá. Muita gente nem sabe que Maribor, ao pé dos Alpes, tem 300 dias de sol por ano, verões quentes e pistas de esqui no inverno. E ótimos vinhos a oferecer. "Importante para nós é, acima de tudo, atrair visitantes de fora, de cidades como Zagreb, Viena, Klagenfurt ou Trieste. E de toda a Europa", diz Zilic Fisher. Apenas 60 quilômetros a separam da austríaca Graz, por exemplo.

Em função da crise econômica na Eslovênia, o orçamento inicialmente previsto para o ano cultural na cidade foi sendo cada vez mais reduzido, tendo chegado agora ao total de 16 milhões de euros. Projetos arquitetônicos foram cancelados e parte da programação cultural reduzida.

"Vai ter gente dizendo agora que cultura não tem prioridade em tempos de crise econômica, mas é exatamente a cultura que cria os fundamentos para a riqueza intelectual e para a identidade nacional. A cultura é também a base para o sucesso econômico", analisa Susana Zilic Fisher.

Raízes alemãs

Christiane Kordic
Christiane KordicFoto: DW

Christiane Kordic vive há mais de 30 anos em Maribor. A alemã trabalha na cidade como guia para turistas. Kordic não sabe ao certo se o ano cultural vai mesmo levar mais turistas a Maribor. Segundo ela, muita gente acredita que a cidade continua sendo o polo industrial que era nos tempos da Iugoslávia.

Hoje, contudo, muita coisa está mudada. O centro histórico, por exemplo, foi lindamente reconstruído. Kordic gosta de levar os turistas até ali. "A maioria das pessoas de fora fica surpresa, pelo menos é essa a minha experiência. Elas se sentem muito bem aqui e ficam principalmente surpreendidas com a cordialidade e com a hospitalidade das pessoas", aponta.

Uma das exposições do ano cultural é especialmente dedicada à complexa relação entre eslovenos e alemães. Afinal, Maribor tinha até 1918 o nome de Marburg, tendo pertencido ao Império Romano e ao Império Austro-Húngaro. Até aquele ano, a maioria da população falava alemão. Depois da fundação da Iugoslávia, grande parte dessas pessoas fugiu para a Áustria.

Durante a Segunda Guerra, os nazistas ocuparam a Iugoslávia. Em Maribor, eles executaram dezenas de guerrilheiros. Depois de 1945, os alemães foram obrigados a deixar a cidade, que se tornou um centro industrial e econômico no norte da Iugoslávia. Desde 1991 a Eslovênia é independente. Em 2004, o país tornou-se membro da União Europeia.

A outra Capital Cultural Europeia em 2012 é Guimarães, em Portugal

Autor: Bernd Riegert (sv)
Revisão: Augusto Valente