Transporte
26 de maio de 2009A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é a instituição que está por trás do Fórum Internacional dos Transportes (IFT), um evento realizado em Leipzig sobre transportes, economia e globalização.
Na edição deste ano, o fórum debate, em primeira linha, as possíveis formas de minimizar os efeitos da crise no setor. Afinal, o transporte de cargas foi uma das primeiras áreas seriamente afetadas pelas turbulências na economia, explica Michael Zirpel, porta-voz da OCDE no fórum.
"Quando há crescimento econômico, aumenta também, em todo o mundo, o volume de mercadorias a serem transportadas. Se neste ano a economia sofrer em todo o mundo uma retração estimada em 4%, se a produção realmente diminuir 2% e o comércio internacional 10%, o setor de transportes vai ser afetado em cheio. Presume-se que haverá uma queda de 20%, em áreas específicas até mais que isso. Só no setor de transporte rodoviário de cargas já houve, em todo o mundo, um corte de aproximadamente 140 mil postos de trabalho", contabiliza Zirpel.
Brasil e México: únicos latino-americanos
Nos dois primeiros dias (26-27/05), o fórum reúne empresários do setor e pesquisadores especializados no assunto. Nos últimos dois dias (28-29/05), representantes dos governos de 52 países presentes ao evento deverão apresentar sugestões concretas para combater a crise no setor.
Do encontro participam representantes de todas as nações europeias, dos EUA, Canadá, China, Índia e Austrália, entre outros. Da América do Sul, estão presentes apenas o Brasil e o México. Ausentes estão, além das outras nações latino-americanas, também representantes da África, Oriente Médio e de outros países em desenvolvimento.
Diante disso, é possível questionar se o fórum merece realmente o rótulo de "mundial". "O ITF tem 52 membros, ultrapassando, assim, o número de participantes da OCDE. Contamos esse ano pela primeira vez com a presença da Índia. Debatemos assuntos de relevância internacional. Quando discutimos sobre o comércio internacional, sobre logística e cadeias que certamente irão mudar em todo o mundo em consequência desta crise, estamos abordando temas que também surtirão efeitos sobre países que ainda não participam do fórum", observa Zirpel.
Questões ambientais
Outro aspecto relevante no contexto do fórum é a importância do transporte não apenas para a economia mundial, mas também para questões ambientais. Os desafios do século 20, neste contexto, exigem que se repense a política de transportes, responsável por 24% das emissões globais de CO2.
"Precisamos trabalhar por melhores tecnologias e maior eficiência. Hoje partimos do princípio de que o futuro desenvolvimento de tecnologias já existentes poderá levar a uma redução de 50% das emissões de CO2. Esta iniciativa, denominada fifty by fifty (50 por 50), ainda não leva em consideração o desenvolvimento de motores elétricos ou híbridos, mas trata do desenvolvimento de tecnologias disponíveis hoje nos motores de combustão convencionais", explica Zirpel.
Isso certamente não é o que os políticos dos países desenvolvidos gostariam de ouvir. Em diversos pacotes de auxílio à conjuntura, muitos governos continuam insistindo no transporte individual, na ampliação de vias públicas e num aumento do volume de transporte de carga, com efeitos devastadores para o meio ambiente e o clima.
Mudança de comportamento
Nem o mais inteligente dos sistemas de transporte poderá mudar o fato de que os combustíveis fósseis contribuem de forma considerável para as mudanças climáticas. E de que são necessárias mudanças não apenas na forma das emissões, mas principalmente na quantidade de poluentes emitidos. Mesmo assim, acredita Zirpel, é possível "economizar" emissões tomando medidas inteligentes.
"Precisamos melhorar os planos em termos de logística, a fim de aumentarmos a eficiência. Temos que investir em sistemas de transporte eficientes do ponto de vista energético. E também temos que apelar para o consumidor. Nem toda viagem precisa ser feita de carro. Principalmente nas grandes áreas metropolitanas e nos centros das cidades, é cada vez mais importante usar a bicicleta, os meios de transporte coletivos ou até mesmo andar à pé. E percebemos que está aumentando o número de pessoas que optam por não usar o carro na Alemanha, na Europa e até em todo o mundo. Ao mesmo tempo, também precisamos mudar o comportamento do consumidor, a fim de que ele passe a usar seu veículo de maneira mais eficiente. Só a forma de dirigir um carro pode reduzir em até 20% o consumo de combustível. E, com isso, poupar emissões de CO2", conclui o especialista.
Autora: Helle Jeppesen
Revisão: Simone Lopes