Fulda, cidade entediante?
31 de março de 2007"Fulda, a cidade mais entediante da Alemanha?" Com esta provocação em sua publicidade, uma autolocadora causou furor, há dois anos, e chamou a atenção para uma cidade que está longe de causar tédio ao visitante interessado em arquitetura barroca ou história da religião.
Localizada cerca de 100 km ao norte de Frankfurt, no estado de Hessen, Fulda foi o centro de propagação do catolicismo na Alemanha. A fundação de um mosteiro pelo beneditino Sturmius, em 744, a pedido de Bonifácio (o evangelizador dos germanos), é considerada a data de fundação da cidade.
Dez anos depois, Bonifácio encontraria lá seu último repouso. Uma enorme estátua do santo padroeiro da Alemanha vigia a praça em frente ao castelo, uma das edificações mais vistosas da cidade de 64 mil habitantes, que recebe mais de 300 mil turistas por ano.
Um outro testemunho do primeiro milênio pós-Cristo é a Michaelskirche, uma das igrejas em estilo românico mais antigas do país. Construída entre 812 e 822, no cemitério do mosteiro, ela passou por várias reformas e ampliações ao longo dos séculos, porém ainda preserva a cripta e muitos afrescos originais. Hoje é um dos locais prediletos para casamentos.
Caça às bruxas e absolutismo
A catedral, diretamente ao lado, foi inaugurada em 1712, no lugar de um templo carolíngio, cujas duas torres laterais foram integradas à nova construção. Na cripta do Fuldaer Dom encontra-se o túmulo de São Bonifácio, dentro de um altar de mármore negro. Pertences do santo e quadros valiosos estão expostos no Dommuseum.
O Cristianismo deixou sua marca indelével também na "Torre das Bruxas", uma das atrações turísticas da cidade. Nos tempos da Inquisição, por volta de 1603, Balthasar Nuss tornou-se substituto do abade de Fulda e foi encarregado de realizar o julgamento das bruxas da região. Em três anos, ele supostamente torturou e mandou executar 300 bruxas e bruxos, tomando para si o patrimônio das vítimas.
A cúpula do clero tinha muito poder no século 18. O bispo era ao mesmo tempo príncipe e morava no pomposo castelo em estilo barroco, erguido entre 1708 e 1714 (atualmente abriga a prefeitura). Ainda hoje, os bispos alemães fazem sua assembléia anual em Fulda.
As salas históricas do castelo preservam lembranças do absolutismo e do classicismo. O Schlossmuseum guarda uma coleção de arte da nobreza de Hessen. O jardim em estilo clássico, que se estende entre o castelo e a Orangerie (uma espécie de jardim de inverno), é o cenário ideal para momentos românticos ou simplesmente para relaxar.
A alguns metros do castelo, rodeado por um quarteirão barroco, encontra-se a antiga prefeitura (Altes Rathaus), usada pela administração municipal de 1531 a 1782. É um prédio em estilo enxaimel do período do Renascimento, um dos mais bonitos do centro histórico e exemplo típico da arquitetura da região do vale do Rio Rhön.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Fulda foi alvo de vários ataques aéreos. Os piores deles ocorreram em 11-12 de setembro e 27 de dezembro de 1944, quando um terço da cidade foi destruído e houve mais de 1500 mortos.
Culinária típica
Quem quiser ter uma vista panorâmica de Fulda ou lançar um olhar para as cordilheiras centrais do Rhön e do Vogelsberg, precisa subir até o mosteiro franciscano Kloster Frauenberg, situado num parque sobre uma das sete colinas da cidade.
Antigamente, as encostas do Frauenberg eram usadas para o plantio de uvas. Foi a demanda da Igreja que impulsionou a tradição de Fulda na produção de vinhos e também deixou marcas na culinária local.
Ainda hoje, pão, lingüiça e vinho (Wäck, Woarscht on Wie – no dialeto fuldarisch) é uma especialidade local. Um outro prato típico é o Zwibbelsploatz (bolo de cebola), preparado nas casas dos tradicionais moradores da cidade e levado ao forno nas padarias. Ele é servido acompanhado por sopa de batatas, uma refeição que surgiu da tradição católica de não comer carne às sextas-feiras.