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Enquanto Solana visita Teerã, o Irã enriquece novamente urânio

Peter Philipp (ca)9 de junho de 2006

Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o Irã retomou seu programa de enriquecimento de urânio. Fatores apontam, todavia, para uma luz no final do túnel das negociações. Peter Philipp comenta.

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Javier Solana e o chanceler iraniano, Manouchehr Mottaki, na apresentação da oferta ocidental ao IrãFoto: AP

Segundo declaração da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em Viena, inspetores do órgão teriam informado que o Irã voltou a enriquecer urânio no seu centro de pesquisas atômicas de Natanz na última terça-feira (06/06).

A ironia da notícia fica por conta do fato de que, justamente na mesma terça-feira (06/06), Javier Solana, diplomata-chefe da política externa da União Européia, desembarcou em Teerã para entregar às autoridades iranianas as propostas de negociações oferecidas pelos cinco países com poderes de veto no Conselho de Segurança da ONU e pela Alemanha.

Apesar de se comentar abertamente na sede da AIEA, em Viena, que a atitude de enriquecer novamente urânio não induz a acreditar que o Irã cederá ao apelo internacional de desistir de seu programa nuclear, alguns sinais levam a crer em uma melhora das relações entre o Irã e a comunidade internacional.

Passos positivos e algumas dúvidas

Luftaufnahne Iran Atomanlage in Natan
Imagem de satélite do centro de pesquisas de NatanzFoto: AP/DigitalGlobe

Até agora, predominaram declarações positivas quanto à oferta de negociações. Javier Solana se demonstrou impressionado com o clima favorável de sua visita. Até o próprio negociador-chefe iraniano, Ali Larijani, anunciou "passos positivos" e comentou que faltam somente "esclarecer algumas dúvidas".

Ainda não se sabe que dúvidas são essas, mas aos poucos vazam informações da oferta ao Irã: uma cooperação extensa em nível econômico e tecnológico, mesmo na própria pesquisa nuclear. Fontes não oficiais informam que até o enriquecimento de urânio, sob inspeção especial, é possibilitado futuramente ao Irã.

Enquanto isso não acontece, a Europa quer fornecer ao país um reator à agua leve e urânio enriquecido necessário para seu funcionamento. Mas a principal novidade da proposta, semelhante àquela já ofertada um ano atrás, é a inclusão dos Estados Unidos nas negociações. O país representa a garantia de que o Irã não será atacado militarmente.

Menos pessimismo quanto às declarações de Ahmadinejad

Apesar de Ahmadinejad não compartilhar do otimismo que, desde a visita de Solana, se espalhou de Teerã a Washington, declarações suas como "o Irã não vai desistir de seu direito de enriquecer urânio e se entregar aos caprichos da comunidade internacional" não ecoam de forma tão negativa como antigamente.

Iran Atomprogramm Außenminister Treffen in Wien
reconhecimento do direito iraniano à energia nuclear?Foto: AP

A União Européia e os Estados Unidos teriam entendido finalmente que não se deve privar o Irã de alguns direitos, um dos quais o direito de uso pacífico da energia nuclear. A flexibilidade desses países também teria outra razão: a oposição da Rússia e da China a sanções graves contra o Irã.

Um terceiro fator também viria a contribuir para essa recente calma ocidental – a concordância de diversos especialistas de que o Irã estaria longe de poder fabricar armas atômicas. Até mesmo John Negroponte, chefe do serviço secreto norte-americano e conhecido como linha-dura, vê a possibilidade como remota em pelo menos dez anos.

Analisando da seguinte forma, não seria difícil para o Irã aceitar a moratória para o enriquecimento de seu urânio: para armas atômicas, seus poucos gramas de urânio de baixo enriquecimento não são suficientes – para fins pacíficos, o Irã também não os necessita, já que até agora o país não possui nenhum reator nuclear em funcionamento.