1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Eduardo Coutinho é homenageado no Festival de Brasília

Marco Sanchez17 de setembro de 2014

Tradicional evento cinematográfico chega à 47º edição com os destaques da nova safra do cinema brasileiro. Eduardo Coutinho, morto no início do ano, é o grande homenageado.

https://p.dw.com/p/1DDSP
Coutinho durante as filmagens de "Babilônia 2000"Foto: Z. Guimarães

Começa nesta terça-feira (16/09) um dos mais tradicionais festivais de cinema do Brasil. O Festival de Brasília chega a sua 47º edição apresentando uma seleção bem variada da nova safra do prolífico cinema nacional. Além de novidades e seleções especiais, a mostra também apresenta uma retrospectiva do cineasta Eduardo Coutinho, morto em fevereiro deste ano.

Para comemorar os 50 anos de uma dos maiores clássicos do cinema brasileiro, o festival exibe em sua abertura uma cópia restaurada de Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha. Considerado por muitos o Cidadão Kane do cinema brasileiro, o filme do cineasta baiano foi exibido na mostra competitiva de Cannes em 1964 e ganhou admiradores ilustres, como Luis Buñuel e Fritz Lang.

A saga do explorado camponês Manoel (Geraldo Del Rey) foi rodada no sertão da Bahia e é um dos maiores expoentes do Cinema Novo, movimento cinematográfico iniciado nos anos 1950 e que buscava um cinema realista, com mais conteúdo e menores custos. Além da exibição do filme, a abertura também conta com um concerto especial, preparado pela Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, inspirado na trilha sonora do clássico de Rocha.

O festival ainda tem duas mostras dedicadas à relação do cinema brasileiro com a ditadura militar. Reflexos do Golpe mostra filmes feitos durante os anos de repressão e suas consequências na vida do país. Luta na Tela mostra filmes feitos depois do regime, mas que refletem ou retratam o período.

Brasilia - Film Festival
"Ventos de Agosto", de Gabriel Mascaro, é um dos longas selecionados para a mostra competitiva em BrasíliaFoto: B. Figueiroa

Documentário para todos

Talvez seja o fato de ter trabalhado com jornalismo e televisão que tenha ajudado Eduardo Coutinho a achar uma maneira de construir filmes que conseguiam comover todo o tipo de espectador, sem nunca perder o encanto e sem deixar de lado o compromisso de tirar o máximo das possibilidades do documentário, um gênero não muito popular entre o grande público.

Coutinho foi um dos mais importantes nomes do cinema documental brasileiro. Ele abordava problemas – como a dificuldade da vida nas grandes cidades (Edifício Master), nas favelas (Babilônia 2000) ou no campo (O Fim e o Princípio) – com extrema sensibilidade. Nunca teve medo de ir fundo em sua maior matéria-prima: o ser humano.

O sucesso dos filmes de Coutinho não vem apenas da maneira como ele conversava com seus entrevistados, mas também da maneira como seu olhar desbravava a vida dessas pessoas, sempre com atenção e respeito. Ele nunca subestimava os entrevistados e usava a câmera não como um artifício de grandeza, mas como uma lupa para achar o ponto especial que torna cada pessoa um indivíduo diferente.

Filme des Rio de Janeiro International Film Festival - Songs
Coutinho olhava com extrema sensibilidade para seus personagens, como em "As Canções"Foto: Promo

Eduardo Coutinho venceu o Candango de melhor filme duas vezes: com Santo Forte, em 1999, e com Peões, em 2004. O festival presta sua homenagem à carreira do documentarista com uma mostra especial que inclui seis de seus principais filmes e ainda dedica seu encerramento ao clássico Cabra Marcado Para Morrer, filme iniciado em 1964, interrompido pela ditadura militar e concluído em 1984.

Aos 81 anos, Coutinho foi assassinado a facadas em fevereiro deste ano em sua casa, no Rio de Janeiro, pelo filho, Daniel Coutinho, que sofre de problemas mentais. A tragédia deixou o Brasil órfão de um dos seus maiores documentaristas.

Volta às raízes

Depois de algumas edições com uma volumosa mostra competitiva, com prêmios e seleções específicas para documentários e ficções (entre curtas e longas), o Festival de Brasília voltou a ter seu formato original, com uma mostra competitiva para longas, outra para curtas e com uma seleção voltada para a ousadia.

"A linha tênue entre documentário e ficção não tem pertinência como gênero cinematográfico, portanto muitos filmes são colocados na condição de híbridos, o que corrobora essa reunião numa única mostra competitiva, dividida apenas em longas e curtas-metragens. Os filmes foram escolhidos pela qualidade artística e de linguagem", explica Sara Rocha, coordenadora adjunta do festival, no site do evento.

Brasilia - Film Festival
"Branco Sai. Preto Fica", de Adirley Queirós, é um dos destaques entre os documentários na competiçãoFoto: L. Feliciano

Entre 612 filmes inscritos, o festival selecionou seis longas-metragens e 12 curtas para a mostra competitiva. Entre os destaques estão o documental Branco Sai. Preto Fica, de Adirley Queirós, que retrata dois homens buscando outras possibilidades para contar suas histórias cheias de tragédia.

Entre os filmes de ficção, o uso de não atores aparece nas obras Ventos de Agosto, de Gabriel Mascaro, e Ela Volta na Quinta, no qual o diretor André Novais Oliveira trabalhou com membros da própria família.

No ano passado, Exilados do Vulcão, de Paula Gaitán, levou o Candango de melhor longa de ficção, e O Mestre e o Divino, de Tiago Campos, foi considerado o melhor documentário.

Entre os vencedores do festival estão grandes nomes do cinema brasileiro, como Domingos de Oliveira (Todas as Mulheres do Mundo), Rogério Sganzerla (O Bandido da Luz Vermelha), Cacá Diegues (Xica da Silva), Julio Bressane (Tabu, Filme de Amor e Cleópatra) e Tata Amaral (Hoje).