Dinamarca prefere cartão e usa cada vez menos dinheiro vivo
27 de dezembro de 2015O trailer de cachorro-quente no centro de Copenhague está aberto apesar do tempo frio e nublado. O sanduíche com salsicha, pepino e cebola é tão popular entre os turistas quanto é entre os dinamarqueses que trabalham ou fazem compras na região.
Andreas Sigsgaard vende cachorros-quentes há um ano. Basta um cliente fazer o pedido para Sigsgaard saber como será o pagamento: os turistas quase sempre pagam com dinheiro em espécie; os dinamarqueses, com cartão de crédito.
Na Dinamarca, mesmo compras pequenas, como um cachorro-quente no valor de 40 coroas, são pagas com cartão.
A maioria dos que passam pelo trailer de cachorro-quente precisa pensar por um longo tempo para responder quando foi a última vez que pagaram alguma coisa com dinheiro. "É tão fácil pagar com o cartão", diz uma mulher. "Na verdade, eu não carrego mais dinheiro comigo", acrescenta um homem.
O comerciante diz que a situação só tem uma desvantagem: é difícil arrecadar uns trocados para a beneficência. "Eu não tenho então nenhum trocado para a caixinha", lamenta.
Inimaginável em outros países
Em muitos outros países, essa é uma situação inimaginável, afinal todos carregam consigo dinheiro em espécie. Muitas pessoas afirmam que não gostam de pagar tudo com cartão por temer o monitoramento de suas finanças pessoais. Elas concordam que pagar sem usar dinheiro em espécie é mais prático, mas argumentam que principalmente os bancos lucram com isso, pois reduzem seus custos operacionais.
Os dinamarqueses, porém, parecem pouco se importar com isso – e também com o fato de os bancos saberem todos os detalhes de suas compras. "É necessário confiar nos bancos e, ao mesmo tempo, ficar de olho aberto", opina um passante.
Sigsgaard concorda. Para ele, nenhum sistema de pagamento é perfeito, e deixar de usar dinheiro em espécie oferece um grande número de vantagens. "Quando fazemos a contabilidade, no final do dia, precisamos contar menos dinheiro, e isso já facilita, e não estamos sujeitos a erros de cálculo", diz Sigsgaard, acrescentando que é mais seguro, para um comerciante, não ter tanto dinheiro em espécie no seu negócio.
Varejistas aceleram digitalização
Grandes lojas não têm esse problema, mas mesmo assim querem acelerar o processo de digitalização. A rede dinamarquesa de farmácias Matas é uma delas. Há poucos meses, ela introduziu em todas as filiais o pagamento pelo celular, que faz a leitura do código de barras do produto, pede a confirmação do valor – e pronto.
O pagamento com o telefone é muito mais rápido do que ir ao caixa da loja. "Nós queremos nos livrar do dinheiro vivo", explica Thomas Grane, gerente de tecnologia da informação da rede. A manipulação de dinheiro em espécie e as medidas de segurança correspondentes têm um custo, argumenta.
E os dinamarqueses cooperam. Um terço deles possui e usa em seus celulares o aplicativo MobilePay. Ele é popular principalmente para pequenas operações: de um celular para o outro é possível, por exemplo, saldar dívidas entre amigos. Até em mercados de pulgas tornou-se habitual o pagamento por meio do MobilePay.
Uso de dinheiro vivo cai fortemente
Trata-se de uma tendência irreversível. Há 20 anos, os dinamarqueses pagavam 80% de suas compras com dinheiro vivo – hoje são menos de 25%. Lojas dinamarquesas que não vendem alimentos deverão receber, em breve, uma autorização para não serem mais obrigadas a aceitar dinheiro em espécie.
Na vizinha Suécia já é assim. Em muitas lojas é possível ver avisos como Vi hanterar ej kontanter, ou seja, "Não aceitamos dinheiro vivo". O governo espera que, até 2030, o país não use mais dinheiro em espécie.
O presidente do Banco Central da Dinamarca, Hugo Frey Jensen, evita definir uma data exata. "Nós somos obrigados a disponibilizar a quantidade de dinheiro em espécie que a população e as empresas necessitam, e fazemos isso", afirma Jensen. Por outro lado, ele acha importante ter um sistema de pagamento "eficiente e seguro" e, para um pequeno país como a Dinamarca, é importante diminuir os custos e acelerar a digitalização.
O proprietário do trailer de cachorro-quente no centro de Copenhague também pensa em aceitar pagamentos com o uso do celular, mas ele ressalva que um pequeno caixa para pagamento em espécie sempre existirá. Afinal, ele não pode abrir mão dos turistas.