Istambul
11 de janeiro de 2010"Istambul, a cidade mais inspiradora do mundo", promete a propaganda turca sobre uma das três capitais europeias da cultura, ao lado da região do Ruhr, na Alemanha, e da cidade húngara de Pécs.
Atração é o que não falta na metrópole turca de 15 milhões de habitantes situada no Estreito de Bósforo. Em primeiro lugar vêm, naturalmente, as construções históricas: a antiga catedral bizantina Hagia Sophia; a chamada Mesquita Azul, cujo nome oficial é Mesquita Sultão Ahmed; o Palácio Topkapi e a Torre de Gálata, construída pelos genoveses.
Mas também o grande terreiro de obras à margem sul da península no centro histórico é uma atração. Ali em Yenikapi se encontra o centro de um ambicioso projeto de transportes, cujo cerne será um túnel ferroviário de 1,4 km de extensão e à prova de terremotos, que atravessará o Bósforo a uma profundidade de 56 metros. A linha deverá garantir o transporte de 150 mil passageiros por hora, aliviando assim os graves problemas de tráfego da metrópole.
Onde se cava se acha história
Quando se iniciaram as obras, já vieram à tona restos do antigo porto de Bizâncio, obrigando os operários a dar lugar aos arqueólogos.
Segundo Ralf Beck, arqueólogo alemão da Universidade de Tübingen envolvido nas escavações em Yenikapi, o porto remonta ao final do segundo milênio, ou seja, ao início da Idade do Ferro. O achado indica que o território onde hoje se situa Istambul já era povoado desde o fim da Era Glacial, algo que naturalmente destaca a importância do lugar.
Ao norte do centro histórico, encontra-se o distrito de Beyoglu, ao qual também pertence o bairro de Cukurcuma. É aqui que o Nobel da Literatura Orhan Pamuk encarregou um escritório alemão de arquitetura de construir seu "Museu da Inocência". O nome provém de um romance do autor com esse mesmo título.
O mestre-de-obras Cem Yücel explica que o andar térreo do edifício em construção reunirá objetos de exposição sobre as personagens do romance. Na parede oposta a essa ala, haverá uma instalação com até 5 mil bitucas de cigarro colecionadas por uma personagem do romance. "Essa é uma das partes mais interessantes e importantes do museu", diz Cem Yücel.
Minoria cristã ortodoxa perto da extinção
Embora Istambul seja considerada uma cidade cosmopolita, as minorias mal têm espaço. Há 50 anos, ainda viviam 120 mil gregos no Bósforo; hoje são apenas 3 mil. Para o patriarcado grego às margens do Corno de Ouro, sede do cristianismo ortodoxo, isso tem consequências decisivas.
Os cristãos ortodoxos se preocupam com seu futuro. Afinal, o patriarca e seus sucessores têm que ter nacionalidade turca. Segundo o porta-voz da Igreja Ortodoxa, atualmente só existem 14 ou 15 bispos turcos, incluindo os patriarcas, e muitos deles já têm idade avançada.
"Será muito, muito difícil mesmo encontrar algum jovem de nacionalidade turca que seja bispo e viva na Turquia", lamenta.
É por isso que os gregos esperam que seja reaberto o seminário de padres fechado em 1971, localizado em Heybeli, uma das ilhas do Mar de Mármara pertencentes a Istambul. Isso permitiria que teólogos cristãos ortodoxos pudessem reconquistar a chance de fazer sua formação na Turquia.
Isso também fortaleceria a minoria cristã no Bósforo e conferiria um tom mais internacional a essa capital europeia da cultura.
Autor: Ulrich Pick (sl)
Revisão: Rodrigo Rimon