Checkpoint Berlim: A despedida de um ídolo
20 de março de 2017A passagem de Marcelinho Paraíba por Berlim, entre 2001 e 2006, foi marcada por grandes conquistas para o Hertha, mas também por confusões com o clube e animadas festas. Apesar dos desentendimentos e de certa rebeldia, o brasileiro, com sua simpatia e resultados, conquistou um lugar eterno no coração dos torcedores do clube.
Por isso, mesmo após sua saída conturbada, Marcelinho, de 41 anos, escolheu o Hertha para fazer o seu jogo de despedida dos gramados.
"Joguei futebol por muito tempo, seria uma pena se na despedida não festejasse como se deve. E isso quero fazer em Berlim", contou-me o atacante. "Mesmo tendo feito algumas besteiras, sempre tive e terei o Hertha no meu coração e os fãs sabem disso", acrescentou.
A escolha para a despedida me parece acertada. Até hoje, 11 anos após ter deixado o clube, Marcelinho continua sendo um dos grandes ídolos da torcida do Hertha. Durante a temporada em Berlim, o atacante marcou 65 gols em 165 partidas e ajudou a equipe a conquistar duas vezes seguidas a Copa da Liga Alemã.
Mas nem tudo foram flores no relacionamento entre o clube e o ídolo nesta época. Sem a disciplina alemã, Marcelinho Paraíba acabou sucumbindo à vida noturna berlinense. O jogador era frequentador assíduo de bares e discotecas na cidade, mesmo durante campeonatos. As festas permanecem até hoje na memória do atacante.
"Tenho muitas lembranças boas desta cidade, sobretudo, da festa legendária Samba Party im Ipanema. Isso nunca vou esquecer", relembra Marcelinho.
Uma destas festas chegou a virar notícia. Em 2003, na véspera de uma importante partida na Bundesliga, ele ficou até as 4h30 num bar. Testemunhas relataram que o porta-voz do Hertha foi, em vão, até o local para buscar o jogador. O time amargou uma derrota no jogo decisivo e o atraso do ídolo no horário de ir para a cama acabou sendo apontado com um dos fatores para este resultado.
Marcelinho ganhou fama em Berlim também por dirigir após consumir bebidas alcoólicas. Algo do que atualmente o atacante se arrepende.
Depois de algumas confusões e resultados não muito satisfatórios, a gota d'água para o Hertha foi o prolongamento das férias decidido pelo jogador sem autorização do clube, em 2006. Logo depois, ele foi desligado da equipe. Porém, seu nome continuou sendo lembrado não só pelos torcedores, mas também pelo mascote do time, o Herthinho. Não preciso nem dizer em quem ele foi inspirado.
Como uma forma de agradecimento por esse carinho, Marcelinho volta a jogar mais uma vez no Estádio Olímpico. Cerca 40 mil torcedores são esperados no jogo de despedida no próximo sábado (25/03), do qual participam também outros brasileiros que fizeram fama na Bundesliga, como Cacau, Aílton e Élber.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.