1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Próximo a Berlim

Agências (rr)9 de agosto de 2008

O bunker construído para proteger a liderança da ex-Alemanha Oriental de um possível ataque nuclear foi aberto pela primeira vez à visitação pública e receberá interessados até outubro, quando será fechado para sempre.

https://p.dw.com/p/Eri9
Central de controle: técnica importada do OcidenteFoto: AP

Nada era caro demais para o extremamente confidencial Objeto 17/5001, de codinome "Pérola": o bunker construído pelo governo da ex-Alemanha Oriental. Situado numa floresta próxima à vila de Prenden, cerca de 40 quilômetros ao norte de Berlim, custou na época 300 milhões de marcos (cerca de 150 milhões de euros).

Finalizado em 1983, o complexo foi erguido a fim de promover a segurança dos líderes da República Democrática Alemã (RDA), no caso de um conflito nuclear, biológico ou químico. No contexto da Guerra Fria, os EUA haviam começado a posicionar ao longo da Cortina de Ferro uma nova geração de mísseis atômicos de médio alcance dos tipos Pershing II e Cruise.

"Pérola" do Bloco do Leste

Bildgalerie Deutschland DDR Honecker Bunker in Prenden
Cozinha era perfeitamente equipadaFoto: AP

Com cerca de 400 cômodos espalhados por três pisos subterrâneos, tecnologia importada do Ocidente na central de comando, um poço próprio, ar condicionado, paredes de concreto com mais de 1,5 metro de espessura, uma cozinha perfeitamente equipada e uma sala de conferências para a alta liderança, o edifício foi mais caro até que o Palácio da República, conta Sebastian Tenschert, da associação Berliner Bunker Netzwerk.

Quase 18 anos após a reunificação da Alemanha, a construção – considerada uma das mais modernas do Pacto de Varsóvia – foi aberta temporariamente à visitação pública pela primeira vez na história, com seu equipamento original. Até 26 de outubro, é possível se inscrever em uma das visitas guiadas de duas ou quatro horas, em alemão ou em inglês, no site www.bunker5001.com.

Depois disso, o complexo será fechado para evitar vandalismo. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Berlim, proprietária do edifício, não há meios para financiar um museu ou sequer visitas permanentes.

Localização escondida

O bunker estava organizado para que 400 pessoas – a liderança e seus empregados – sobrevivessem durante 14 dias. No estreito quarto reservado a Erich Honecker, chefe de Estado da RDA e presidente do Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED), há apenas uma moldura vazia pendurada na parede revestida.

Bildgalerie Deutschland DDR Honecker Bunker in Prenden
Bunker tinha até ar condicionadoFoto: AP

A apenas alguns quilômetros de distância de Wandlitz, onde residia a liderança da RDA, ficava o bunker, com 49 metros de largura, 63 metros de altura e 24 metros de profundidade. O complexo de 200 hectares era camuflado como uma colina e cercado por uma grade de alta tensão, rodeado por uma pequena cidade reservada à polícia secreta, à qual os habitantes da vila vizinha de Prenden não tinham acesso.

Construção suspensa

A iluminação é pouca: ladrões de sucata roubaram praticamente todo o cabeamento e grande parte do encanamento. Os corrimãos de madeira das escadarias estão ainda cobertos com o linóleo marrom-escuro da RDA.

O caminho de longos e estreitos corredores, com pesadas portas de aço, leva a um túnel de descontaminação: políticos livres de material atômico seguiam a rota marcada em azul; políticos contaminados seguiam a rota vermelha que levava a chuveiros de descontaminação e laboratórios especiais.

Bildgalerie Deutschland DDR Honecker Bunker in Prenden
Quarto com cinco camas de três andaresFoto: AP

O pesado chão de metal, que ao ser pisado oscila como um navio, é suspenso por um potente sistema de molas, a uma boa distância das paredes de concreto. Pois a força de uma explosão nuclear alçaria até mesmo um bunker de 85 mil toneladas e o faria cair com toda força no chão, sem deixar sobreviventes. A suspensão oscilante dos cômodos no interior da construção diminuiria a colossal aceleração.

Essa espécie de cápsula de três andares é pendurada por cabos de aço ao teto do edifício. Caso estes rompessem com a força da explosão, a cápsula seria freada por uma série de amortecedores de produção russa e amparados por almofadas de nitrogênio.

Apesar de tanta tecnologia, Honecker mostrava abertamente seu desconforto em um dia ter que comandar o país a partir do bunker. Quando o prédio ficou pronto, dizem que ele fez uma vista breve de 20 minutos e nunca mais retornou.