Boca de urna aponta partido do premiê à frente na Holanda
15 de março de 2017As primeiras pesquisas de boca de urna indicam nesta quarta-feira (15/03) que o Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD), do primeiro-ministro Mark Rutte, terá o maior número de cadeiras no Parlamento da Holanda – não suficiente para formar governo sozinho, porém à frente dos populistas de direita.
Segundo as sondagens divulgadas com o fechamento das urnas, os liberais deverão conquistar 31 dos 150 assentos. Eles seriam seguidos pelo populista de direita Partido para a Liberdade (PVV), de Geert Wilders, os cristãos-democratas, e o partido democrático D66, cada um com 19 parlamentares.
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A boca de urna confirma os indícios de que não haveria um vencedor claro nas eleições holandesas: dez partidos aparecem com chances reais de conquistar uma vaga no Parlamento, apenas um, justamente o de Rutte, deve obter mais que 20% do total de votos.
O partido que mais cresceu no pleito, segundo a boca de urna, é a Esquerda Verde (GL), que obteve 16 cadeiras no total. Antes, o grupo contava com apenas quatro deputados no Parlamento. O Partido do Trabalho (PvdA), que está na atual coalizão de governo, sofreu uma dura derrota eleitoral - a pior de sua história - e caiu de 38 para apenas nove parlamentares.
As sondagens eleitorais indicam que serão necessários pelo menos quatro partidos para formar uma coalizão de governo. Um é descartado desde o início, já que ninguém quer formar uma aliança com Wilders. Esse cenário indica que as negociações, provavelmente comandadas pelo premiê Rutte, deverão ser demoradas, o que é tradição na Holanda.
Com participação superior a 80%, a maior em três décadas, as eleições holandesas foram acompanhadas com atenção na Europa – como um teste do sentimento nacionalista e do crescente populismo em ano de eleições igualmente importantes na França e na Alemanha, maiores economias da União Europeia.
A França escolhe seu próximo presidente em abril, e a populista de direita Marine Le Pen deve estar no segundo turno, marcado para maio. Em setembro, vão às urnas os alemães, e o partido eurocético Alternativa para a Alemanha, que atacou a política migratória de Angela Merkel, pode conquistar suas primeira cadeiras no Parlamento.
Depois da divulgação das sondagens, Rutte avaliou o resultado com uma derrota para o populismo de direita. "Após o Brexit e as eleições nos Estados Unidos, a Holanda parou o populismo errado", afirmou o líder do VVD, dirigindo-se a partidários, que acompanham a contagem eleitoral, em Haia.
Durante a campanha, a Holanda viu as ideias antimigratórias e eurocéticas de Wilders ganharem terreno – e muitas vezes pautarem o debate político. Porém, o candidato, que chegou a ser comparado a Donald Trump, perdeu força nas vésperas das eleições.
Já Rutte enfrentou nos últimos dias uma batalha diplomática com a Turquia, após o cancelamento de comícios políticos turcos no fim de semana.
Crise com a Turquia
O imbróglio com a Turquia pode acabar sendo vantajoso para o primeiro-ministro holandês, já que deu a ele a oportunidade de se apresentar, às vésperas das eleições parlamentares, como um chefe de governo de pulso firme.
"Traçamos uma linha vermelha", afirmou, referindo-se à proibição de dois ministros turcos de fazerem comícios na Holanda.
Rutte também argumentou que 400 mil cidadãos de ascendência turca que vivem no país são "holandeses e não turcos", como o governo em Ancara gosta de destacar. Ele também disse que está tentando acalmar os ânimos e que falou oito vezes ao telefone com o primeiro-ministro da Turquia, Binali Yildirim.
Um ponto Rutte fez questão de ressaltar: "Não nos deixamos chantagear". Na prática, o primeiro-ministro teve a oportunidade de deixar claro quem manda no país, e isso pode ter dado um novo impulso ao seu partido, o liberal Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD).
Wilders em queda
O principal adversário de Rutte, o populista de direita Geert Wilders, pode ter se dado mal com sua estratégia de campanha. No fim do mês passado, ele começou a cair nas pesquisas eleitorais. À parte uma curta exibição pública em fevereiro, quando deu algumas declarações à imprensa e logo sumiu, acompanhado de seus guarda-costas, para dentro de um carro, Wilders fez campanha apenas pelo Twitter.
Nos últimos dias de campanha, porém, ele mudou radicalmente de estratégia. Ele apareceu mais em público e decidiu participar de um debate eleitoral contra Rutte na noite desta segunda-feira. Wilders foi também um dos primeiros a tirar proveito do imbróglio com a Turquia. Só que Rutte, como primeiro-ministro, levou vantagem, já que não precisa se limitar a xingar e pode também fazer algo.
Sucesso mesmo Wilders faz entre a imprensa internacional. Centenas de matérias foram escritas sobre ele, seu passado obscuro, suas fontes financeiras duvidosas, sua crescente radicalização e seu cabelo louro penteado para trás. Guardian, Le Monde, Wall Street Journal: todos o apresentaram como o inimigo da União Europeia, o iniciador de um possível "Nexit" (em alusão ao Brexit) e o propulsor do populismo de direita na Europa.
Porém, segundo as pesquisas mais recentes, 87% dos holandeses são contra Wilders. Isso impede tanto uma tomada de poder na Holanda como um movimento de massa contra a União Europeia.
CN/afp/rtr