Alemanha aumenta ajuda para combate à Aids no mundo
13 de novembro de 2004Prevenir através de aconselhamento, acompanhamento e tratamento, estas são as palavras-chave do plano alemão de combate à Aids nos países em desenvolvimento. Ao apresentar os planos governamentais para o combate à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) no mundo, esta semana, em Berlim, a ministra de Cooperação Econômica, Heidemarie Wieczorek-Zeul, anunciou que a atual ajuda financeira alemã, de 300 milhões de euros ao ano, será incrementada no futuro. A participação alemã no Fundo Global de Combate à doença vai aumentar dos atuais 34 milhões de euros para 72 milhões de euros no próximo ano.
Para que seja atingida a meta assumida pela comunidade internacional de deter a propagação da síndrome da deficiência imunitária adquirida até 2015, a ministra social-democrata defendeu não só a distribuição de medicamentos baratos a todos os atingidos pela doença nos países em desenvolvimento, como também uma cooperação mais estreita em nível internacional.
"Em alguns países já foram constatados progressos no combate à Aids, como em Uganda e na Tailândia, em que os índices de infecção diminuíram nos últimos anos", salientou Wieczorek-Zeul. Ao citar o Brasil ("vi os progressos com meus próprios olhos"), ela destacou a prevenção como forma de evitar a contaminação e salientou a importância do tratamento para a prolongação da vida.
Elogios ao Brasil
Graças a uma patente interna para genéricos, o Brasil distribui, desde 1995, medicamentos gratuitos às pessoas que convivem com a Aids. Mantém, ainda, um amplo programa de assistência integrado com a sociedade civil e ONGs. Esta intervenção voluntária e precoce através de campanhas de esclarecimento direcionadas ao público alvo e com tratamentos gratuitos fez com que diminuíssem as contaminações com Aids. A cota brasileira, por exemplo, é de 0,7%, enquanto a de Botsuana está em 38%, cita a ministra.
Wieczorek-Zeul considera exemplar o papel desempenhado pelo Brasil na América do Sul. Através de cooperações com países como o Paraguai, a Colômbia e El Salvador, o Brasil está ajudando a criar um programa nacional de combate à Aids, que oferece inclusive possibilidades de tratamento.
Em contrapartida, advertiu a ministra social-democrata, verifica-se um "crescimento ameaçador" em países do Leste Europeu, onde as mais atingidas são as camadas pobres da população, sobretudo mulheres e crianças.
Críticas à estratégia dos Estados Unidos
Programas de esclarecimento que visam o combate à Aids através de abstinência sexual e fidelidade são rejeitados pelo Ministério alemão de Cooperação Econômica (BMZ). "Tal política, praticada principalmente pelos Estados Unidos, passa às margens da realidade de muitas pessoas", criticou. Somente o uso de camisinha assegura a proteção contra a contaminação, por isso o ministério incentiva a distribuição deste tipo de preservativo subvencionado.
O plano apresentado em Berlim prevê uma maior sincronia entre os projetos de combate à Aids nos diversos países e iniciativas internacionais como as da União Européia (UE) ou das Nações Unidas. Segundo Wieczorek-Zeul, é necessário unir esforços para evitar desperdícios com projetos semelhantes de países diferentes. Para isso, ela sugere a criação de uma central, capaz de controlar, coordenar e avaliar o que está sendo feito.
Engajamento coletivo e fomento a remédios baratos
Apesar das notícias positivas de alguns países como o Brasil, a ministra alemã adverte que os números são preocupantes: "Existem no mundo 38 milhões de pessoas contaminadas com o vírus da Aids. Destes, mais de 25 milhões vivem no sul da África. No ano passado, houve cinco milhões de novas infecções. No sul do Saara, 12 milhões de crianças − o corresponde à população infantil na Alemanha − perderam pai, mãe ou ambos por causa da doença".
"A luta contra a Aids irá fracassar se a ajuda ficar restrita a programas de saúde", advertiu a política social-democrata. Segundo ela, é preciso também criar um mainstreaming, "com a participação de todos os setores, como os de política educacional, de combate à pobreza e de incentivo à economia".
Para Wieczorek-Zeul, somente a participação de todos os grupos sociais dos países atingidos garantirá um trabalho eficiente no combate e prevenção da síndrome. Por fim, ela exigiu ainda um maior engajamento na ampliação da infra-estrutura médica e mais investimentos locais para a produção de medicamentos baratos contra a Aids.