Juventude alemã brinca com a aids
15 de julho de 2004Por algum tempo, nos meados e fim da década de 90, os pesquisadores e profissionais de saúde ocupados com a aids pensaram poder respirar aliviados. Pelo menos a julgar pelas estatísticas, a mensagem do sexo seguro parecia haver sido entendida, e o número de infecções pelo vírus HIV estava caindo a cada ano.
Porém um relatório do Instituto Robert Koch – organização federal alemã encarregada do controle e prevenção de moléstias – alerta que o alastramento da aids na Alemanha pode adquirir uma "nova dinâmica", já que o número de infecções vem crescendo constantemente desde 2001.
Naquele ano, o órgão de saúde registrara 1470 novos soropositivos na Alemanha. Em 2002, o número subiu para 1716 e, no ano passado, 1958 pessoas contraíram o vírus. Isto significa um acréscimo de 33% num prazo de três anos.
"Pouca informação lá fora"
Para Andreas (nome fictício), um homossexual de 20 anos, de Berlim, não está sendo fácil aceitar o diagnóstico que mudou seu futuro irrevogavelmente. Embora a detecção do HIV não seja mais a sentença de morte que costumava representar, ele terá que iniciar um rigoroso regime de medicação para manter a aids sob controle.
Sem garantias de sucesso, pois a doença ainda mata 600 pessoas na Alemanha a cada ano. "Há muito pouca informação lá fora", revelou Andreas à DW-WORLD, "eu nunca pensei que poderia acontecer comigo".
Segundo especialistas, os motivos principais desse recrudescimento são a negligência das práticas sexuais seguras e uma mudança de atitude diante dos perigos da aids.
Teoria e prática do sexo seguro
Desde 1987 o Instituto Koch realiza uma enquete anual sobre o nível de consciência quanto à aids. Em 2003, constatou que o uso dos preservativos diminuíra, em geral. Os próprios fabricantes já registravam queda nas vendas do artigo.
Dos entrevistados que haviam tido relações sexuais com parceiros múltiplos, apenas 78% usaram sistematicamente a camisinha, 5% a menos do que dois anos antes. E os jovens são especialmente suscetíveis a baixar a guarda, no calor do momento.
Segundo Rolf Gindorf, fundador do centro de pesquisas sexuais DGSS, a tendência entre a juventude é não encarar de frente os riscos de seu comportamento sexual arriscado. "Os gays mais maduros, de 40 anos em diante, têm consciência do perigo, pois viveram a época em que as taxas de mortalidade eram altas e a informação sobre a aids bem visível", explica.
Mudança de prioridades
Enquanto isso, a noção de que a doença é tratável deixa os mais novos excessivamente descuidados. Embora conhecendo as regras do safe sex, não as aplicam necessariamente nas situações concretas. Os resultados se fazem sentir concretamente: em 2001 menos de 1% dos soropositivos acompanhados pela Berlin Aids Hilfe tinha menos de 20 anos. Hoje, a proporção é de 3%.
Marita Völker-Albert, do Centro Federal de Educação sobre a Saúde (BzgA), especula para a DW-WORLD sobre as razões para o radical declínio na discussão pública sobre o tema nos últimos cinco anos: "As prioridades mudam e assuntos como a síndrome da vaca louca ou o 11 de setembro expulsaram a aids da mídia e da consciência pública. Agora está mais difícil alcançar as pessoas."